sexta-feira, 8 de agosto de 2014

O Amílcar e as eleições

          O Amílcar sempre gostou de política, muito mesmo! Nos tempos de União da Vitória, já andava com os bolsos cheios de santinhos. Lembro bem que numa eleição, parece-me que em 1976, tinha muitos deles. Era amigo de muitos candidatos a vereador e queria que todos se elegessem. Tinha do Algacir, que trabalhava no Miguel Forte. Tinha do PTB, o Otacílio do Amaral, pai do Parafuso. E, do Porto, tinha do Frederico Slomp, que era meu aluno no Cid Gonzaga. Também do Valmor Bortoli, que jogou no Vasco, em Capinzal. O Valmor era Diretor da AA Iguaçu e fora meu amigo em Capinzal, era irmão do Alceu, também bom jogador.  Eu também era amigo deles. Na verdade, nem sei se ele votava no Porto ou em União, mas sei que era muito dado, tinha jeito para ser candidato também.

          Lembrei-me dele, liguei para ele. Estava em General Carneiro tratando da compra de algumas cargas de erva-mate, na árvore, para o genro. Perguntei-lhe como estava a Nena e a netinha, como estavam os negócios com o mate. E já aproveitei para ir meio que logo no assunto política. "Como estão as coisas na política por aí, amigão?"

          "Bah, Riquetto, nem te cónto! Tá que é uma putaria, nem dá pra intendê! Nessuno tem mais lado, é só uma ajuntaçón de zente que era inimigo e que viraro tudo amigo. Aqueles que no nosso tempo se davum tiro, agora estón tudo abraçado. Una porquera de uma vergónha!"

          Falei que por aqui não era diferente, que havia uma misturança de ideologias, que todas as barbaridades de coligações tinham se efetivado. E que, antigos aliados, agora são adversários, e vice-versa. E que havia muitos candidatos a deputado na região, muita disputa pelos votos. Mas que, por enquanto, está tudo calmo e que espero que continue assim. Que não tenho manifestado minha posição porque sou clunista do Jornal Cidadela e, justamente por escrever sobre política, preciso manter uma linha de conduta razoável, apenas analisando e emitindo minha opinião, sem explicitar tendências.

         O Amílcar disse que votaria em branco, que está muito descontente com os rumos da política, que acha que as há pouca seriedade, que ninguém mais defende princípios que defendiam, etc, etc. O pensamento dele é muito aproximado do meu, mas aconselhei-o a escolher candidatos pois, se não o fizer, vão eleger-se da mesma forma para preencher as vagas. E, se não votar em ninguém, não terá muito direito de cobrar depois. Acho que o convenci...

         Perguntei-lhe sobre a família, o sogro, a sogra, o cachorro e ele desandou a rir. Disse-me que se lembrou de um acontecido com sua sogra, há muitos anos, que foi um tio dele que lhe contou: "Numa eleiçón de antigamente, dona Cleuza foi votar pela primeira vez, numa daquelas iscolinha lá dos fundón, dadonde o diaoleto perdeu os estivai. Quándo cegô por lá o presidente dos mesário, que era cunhado da Véia, deu uma cédula e disse que, se sabia ledere era pra iscolhê um candidato e pôr um SIS no quadrinho do lado do nome dele, despois dobrá a cédula i por pela frestinha. Ela foi lá e vortô pra dizê qui o voto num passava na fresta,  daí o presidente disse qui era pra dobrá bem o papel que passava pelo buraco, si! Ela foi e vortô pra dizê qui nón passava. Intón ele foi já zunto cum dois fiscales, um do PSD e otro da UDN e mandarum ela botá o voto no buraco, na fresta. Num é qui ela se abassô no soaio e queria fazê a cédula passá na fresta do piso de madera e nón passava?! Daí os treis derum muita risada e mostrarum que era pra por no buraco da urna que tava na mesa e nón no són. Intón ela votô, mais ficô com muinta da vergónha..."

          E ele ria só de lembrar. Contou-me outros casos e eu lhe contei que,  numa urna do interior de Capinzal provavelmente no Barro Branco, na década de 1960, nas eleições do Deolice Zênere e do Nízio Baretta, numa urna tinha onze cédulas em que os eleitores votaram ponde um xis para cada um deles, ou seja, votaram nos dois candidatos e os votos foram anulados, porque podiam escolher apenas um. Que quem me contou essa história foi o udenista Ivo Luiz Bazzo. Que ele perguntou para o pessoal, que morava na costa do Pelotas, por que eles votaram assim e eles disseram que tinham prometido o voto para os dois candidatos e, como eram "de palavra", votaram nos dois...

        Ele riu ainda mais e falou: "Pôri grámi"!, que no dialeto italiano deve significar "coitados" ou mais ou menos isso.

         Despedimo-nos logo, recomendei-lhe que, quando for para o Porto, visite minha irmã, a Iradi, lá no Restaurante X-Burguer, que, me parece, vai ser "nona" em alguns meses. Meu amigo Amílcar, sempre divertido mas, sobretudo,  gente muito da boa!


Euclides Riquetti
09-08-2014
     

Um comentário:

  1. Parabéns pela forma clara e leve com que relata atos e fatos de uma vida. Gostei da "frestinha"...A incoerência ideológica da maioria dos candidatos pode ser comparada a ela. É duro de passar, muito mais de nos convencer. Um abraço. Jorge Yared

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