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Na minha infância, quando raras famílias podiam dar-se ao luxo de ter um televisor ou uma geladeira em casa, havia um aparelho indispensável: o rádio. Ah, o rádio era a invenção mais cobiçada de todos. A maioria deles eram grandes, uns energizados com baterias, na área rural; outros a luz, nas áreas urbanas, e os acionados a pilha. ´
Ter um rádio era o sonho de nossa família. Meu pai conseguiu comprar um quando eu tinha doze anos. Imagine uma casa sem um rádio! Era um aparelho que fora remontado pelo Sr. Ernesto Fontana, em Barra Fria. O caixão, em madeira, media aproximadamente 60 centímetros. Mas o miolo ocupava metade do espaço, no máximo. Porém, pegava de tudo. Era um "caixão de abelhas". Quando alguém tinha um pequeno, era um "caixão de mirinzinho". Quando um rádio não pega bem, dizem que é uma "beiera", que traduzo para vocês como uma "abelheira"!
Aliás, as pessoas inventavam piadinhas assim: "O seu rádio pega Pato Branco? Pega? Então reserve um casal pra mim... (Alguns trocavam pato por Arapongas...) Os pedreiros sempre trabalhavam ( até hoje o fazem), com um rádio ligado. Um portátil. Diziam que pedreiro que não tem rádio portáteil "não é pedriro". O receptour a suportar o trabalho pesado sob o sol. Ter um rádio portátil era um luxo. O Breno Montanari era pedreiro e tinha um que levava ao campo nos jogos do Arabutã. Levava para escutar o Gre-nal. Quando saía um gol ele erguia o volume e todos perguntavam: "Gol de quem?"
Já o saudoso meu vizinho Idalécio Antunes de Souza, pai da Helena, era torcedor o Internacional. Quando dos tempos da Máquina Colorada, qu tinha o Falcão, o Figueroa, o Batista, ele colocava a vitrola na janela da casa e com todo o volume. Até lá do outro lado do Rio do Peixe, em Capinzal, se escutava. E, quando o Inter fazia gol, tinha foguete.
O importante era ter um rádio em casa. Um que sintonizasse pelo menos as emissoras mais cobiçadas: Bandeirantes, Record e Tupi, em São Paulo; Globo, Tupi e Nacional, no Rio; Guaíba, Farroupilha e Gaúcha, em Porto Alegre. E, os mais americanizados e europeizados, dentre os quais eu incluo meu pai, gostavam de ouvir "A Voz da América" e a BBC, de Londres. No âmbito regional, as Rádios Fátima, de Vacaria, Catarinense e Herval D ´ Oeste, de Joaçaba, Cultura, de Campos Novos, e Rural de Concórdia. E havia os que gostavam da Rádio Aparecida, de São Paulo, onde escutavam missas e pregações. Passei minha juventude ouvindo rádio.
Antes disso, quando era bem pequeno, um rapaz chegava a cavalo na casa de meu padrinho para nanorar uma das filhas dele, após a janta do sábado o programa era "ouvir rádio". E sobrava pra mim. Todos iam dormir e me deixavam cuidando deles para que nada de mal lhes acontecesse. Pegavam suas cadeiras empalhadas e ligavam, na Farroupilha para escutar "os caipiras". Ela, gentilmente, colocava um pelego ao chão e um travesseirinho para que eu ficasse mais confortável na tarefa de vigiar o casal. Eu vigiava uns minutos, mas a maciez do pelego me levava ao sono profundo. No outro dia, perguntado, eu dizia que não acontecera nada entre os namorados, que eles se portaram bem. Eu não mentia, porque, mesmo, nada havia visto, só dormira!
Em Capinzal havia, na década de 1950, a Rádio Sulina, com o Celso Farina como locutor. Também trabalhavam nela o Aderbal Gaspar Meyer (Barzinho), a Alda Viecelli e outras pessoas. Sobre a Sulina e a Clube vou escrever, oportunamente.
No final da década de 1960, à noite, costumávamos, eu e meu irmão mais velho, escutar o Paulo Giovani, na Globo, do Rio. Era um grande comunicador. Ao final, lá próximo da meia noite, apresentava uma paradinha com as mais solicitadas no dia. Eu ficava encantado com o que ele dizia.
Pela manhã, ouvíamos "Primeira Hora", na Bandeirantes. Havia um locutor, Vicente Leporace, que era muito bom. Eron Domingues apresentava o "Répórter Essso" (Alô, alô, Repórter Esso, aloooo!!!!), acho que numa cadeia de emissoras. Ao meio-dia, o noticiário Herval D´Oeste ou da Rural. Depois o rádio era desligado e só religávamos à noite, que era para não gastar muita luz... Na hora de "A Voz do Brasil" ficava desligado, porque seria um noticiário que só falava o que interessava ao Governo e nós não queríamos ouvir o que eles tinham a nos dizer.
Contou-me uma vez a saudosa Dona Elza Colombo, italiana que veio por duas vezes ao Brasil e viveu mais de 96 anos, que, durante a Segunda Guerra Mundial, os colonos do Ouro, quando iam para a cidade, chegavam à casa dela para saber notícias sobre a Guerra, que o marido, André, acompanhava. Muitas vezes ficavam lá para esperar por um noticiário, para que pudessem ouvir as pretendidas notícias, pois muitos tinham parentes lá na Europa lutando.
Quando veio a TV, diziam que o rádio ia pras cucuias. Não aconteceu isso. E você, certamente, deve ter muitas boas lembranças do rádio. Tem certeza de que nunca mandou uma cartinha e ofereceu uma música para alguém? Mesmo que tenha usado pseudônimo?
Hoje, mesmo com as emissoras de TV, os computadores e todas as mídias possíveis, o rádio ainda é nosso companheiro inseparável. E há de todos os modelos, de todos os tamanhos e para todos os bolsos. Com menos de R$ 10,00 você pode ter um. Mas é difícil encontrar um caixão de abelhas...
Euclides Riquetti
07-02-2013
Ter um rádio era o sonho de nossa família. Meu pai conseguiu comprar um quando eu tinha doze anos. Imagine uma casa sem um rádio! Era um aparelho que fora remontado pelo Sr. Ernesto Fontana, em Barra Fria. O caixão, em madeira, media aproximadamente 60 centímetros. Mas o miolo ocupava metade do espaço, no máximo. Porém, pegava de tudo. Era um "caixão de abelhas". Quando alguém tinha um pequeno, era um "caixão de mirinzinho". Quando um rádio não pega bem, dizem que é uma "beiera", que traduzo para vocês como uma "abelheira"!
Aliás, as pessoas inventavam piadinhas assim: "O seu rádio pega Pato Branco? Pega? Então reserve um casal pra mim... (Alguns trocavam pato por Arapongas...) Os pedreiros sempre trabalhavam ( até hoje o fazem), com um rádio ligado. Um portátil. Diziam que pedreiro que não tem rádio portáteil "não é pedriro". O receptour a suportar o trabalho pesado sob o sol. Ter um rádio portátil era um luxo. O Breno Montanari era pedreiro e tinha um que levava ao campo nos jogos do Arabutã. Levava para escutar o Gre-nal. Quando saía um gol ele erguia o volume e todos perguntavam: "Gol de quem?"
Já o saudoso meu vizinho Idalécio Antunes de Souza, pai da Helena, era torcedor o Internacional. Quando dos tempos da Máquina Colorada, qu tinha o Falcão, o Figueroa, o Batista, ele colocava a vitrola na janela da casa e com todo o volume. Até lá do outro lado do Rio do Peixe, em Capinzal, se escutava. E, quando o Inter fazia gol, tinha foguete.
O importante era ter um rádio em casa. Um que sintonizasse pelo menos as emissoras mais cobiçadas: Bandeirantes, Record e Tupi, em São Paulo; Globo, Tupi e Nacional, no Rio; Guaíba, Farroupilha e Gaúcha, em Porto Alegre. E, os mais americanizados e europeizados, dentre os quais eu incluo meu pai, gostavam de ouvir "A Voz da América" e a BBC, de Londres. No âmbito regional, as Rádios Fátima, de Vacaria, Catarinense e Herval D ´ Oeste, de Joaçaba, Cultura, de Campos Novos, e Rural de Concórdia. E havia os que gostavam da Rádio Aparecida, de São Paulo, onde escutavam missas e pregações. Passei minha juventude ouvindo rádio.
Antes disso, quando era bem pequeno, um rapaz chegava a cavalo na casa de meu padrinho para nanorar uma das filhas dele, após a janta do sábado o programa era "ouvir rádio". E sobrava pra mim. Todos iam dormir e me deixavam cuidando deles para que nada de mal lhes acontecesse. Pegavam suas cadeiras empalhadas e ligavam, na Farroupilha para escutar "os caipiras". Ela, gentilmente, colocava um pelego ao chão e um travesseirinho para que eu ficasse mais confortável na tarefa de vigiar o casal. Eu vigiava uns minutos, mas a maciez do pelego me levava ao sono profundo. No outro dia, perguntado, eu dizia que não acontecera nada entre os namorados, que eles se portaram bem. Eu não mentia, porque, mesmo, nada havia visto, só dormira!
Em Capinzal havia, na década de 1950, a Rádio Sulina, com o Celso Farina como locutor. Também trabalhavam nela o Aderbal Gaspar Meyer (Barzinho), a Alda Viecelli e outras pessoas. Sobre a Sulina e a Clube vou escrever, oportunamente.
No final da década de 1960, à noite, costumávamos, eu e meu irmão mais velho, escutar o Paulo Giovani, na Globo, do Rio. Era um grande comunicador. Ao final, lá próximo da meia noite, apresentava uma paradinha com as mais solicitadas no dia. Eu ficava encantado com o que ele dizia.
Pela manhã, ouvíamos "Primeira Hora", na Bandeirantes. Havia um locutor, Vicente Leporace, que era muito bom. Eron Domingues apresentava o "Répórter Essso" (Alô, alô, Repórter Esso, aloooo!!!!), acho que numa cadeia de emissoras. Ao meio-dia, o noticiário Herval D´Oeste ou da Rural. Depois o rádio era desligado e só religávamos à noite, que era para não gastar muita luz... Na hora de "A Voz do Brasil" ficava desligado, porque seria um noticiário que só falava o que interessava ao Governo e nós não queríamos ouvir o que eles tinham a nos dizer.
Contou-me uma vez a saudosa Dona Elza Colombo, italiana que veio por duas vezes ao Brasil e viveu mais de 96 anos, que, durante a Segunda Guerra Mundial, os colonos do Ouro, quando iam para a cidade, chegavam à casa dela para saber notícias sobre a Guerra, que o marido, André, acompanhava. Muitas vezes ficavam lá para esperar por um noticiário, para que pudessem ouvir as pretendidas notícias, pois muitos tinham parentes lá na Europa lutando.
Quando veio a TV, diziam que o rádio ia pras cucuias. Não aconteceu isso. E você, certamente, deve ter muitas boas lembranças do rádio. Tem certeza de que nunca mandou uma cartinha e ofereceu uma música para alguém? Mesmo que tenha usado pseudônimo?
Hoje, mesmo com as emissoras de TV, os computadores e todas as mídias possíveis, o rádio ainda é nosso companheiro inseparável. E há de todos os modelos, de todos os tamanhos e para todos os bolsos. Com menos de R$ 10,00 você pode ter um. Mas é difícil encontrar um caixão de abelhas...
Euclides Riquetti
07-02-2013
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