segunda-feira, 24 de junho de 2019

A Ferrovia do Contestado

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Estação Ferroviária -  1930 - presença do Presidente Getúlio Vargas em Capinzal - SC

       A Ferrovia do Contestado foi parte de um grande projeto concebido pelo engenheiro mineiro João Teixeira Soares, em 1887 e teria 1.403 Km de extensão. Ia de Itararé, SP, a Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Iria permitir também uma conexão com o Rio de Janeiro e com a Argentina e o Uruguai. Teixeira Soares obteve a concessão da construção da ferrovia em 9 de novembro de 1889, pelo Imperador D. Pedro II.
         De 1887 até 1905 foram construídos os primeiros 264 Km de ferrovia, deste Itararé até Rio Iguaçu, hoje Porto União.
       Em 1908, o empreendedor norte-americano Percival Farquhar adquiriu o controle acionário da parte denominada Estrada de Ferro São Paulo-Rio Grande, através de uma holding, a Brazil Railway Company. O empresário visionário via o potencial de território muito forte, possibilitabdo-lhe muitos lucros, pois era povoado com densas florestas de araucárias e imbuias. Era proprietário da Southern Brazil Lumber & Colonization Company, a famosa Lumber. Colocou o engenheiro Achilles Stenghel para comandar o grande empreendimento. Contratou, inicialmente, 4.000 operários para a construção e mais 4.000 posteriormente, chegando aos 8.000 para a implantação de 372 Km de ferrovia.

       A ferrovia via foi inaugurada em 17 de dezembro de 1910, mas a enchente de maio de 1911 derrubou a ponte provisória, de madeira, que estava construída sobre o Rio Uruguai, entre Estação Uruguai e Marcelino Ramos. E, em 1912, a ponte de aço e concreto foi concluída, restando até hoje.
O engenheiro Achilles Stenghel  construiu  a estrada-de-ferro utilizando homens, pás, picaretas e dinamites,  conseguindo executar 516 metros por dia. O Governo repassava 30 contos de réis por Km construído para a construtora. E os investimentos garantiam juros de 6% ao ano aos empreendedores até que a mesma passasse a operar e gerar lucros. O investimento da São Paulo/Rio Grande foi de 30.000 contos de réis.

       A Brazil Railway Company, de Percival  Farquhar, construiu a estrada acompanhando as curvas do Rio do Peixe, com isso ganhando mais quilômetros e mais dinheiro, e evitando gastar com túneis, cortes,  aterros, pontes e viadutos. Também recebeu do Governo a concessão de uma faixa de 30 Km de terras, que o Governo Brasileiro considerava devolutas,  sendo quinze quilômetros para cada lado da ferrovia, num total de 6.696 Km2 de terras ou 276.694 alqueires ou 669.600 hectares.  As terras já eram ocupadas por posseiros. Entretanto, sabe-se que o povoamento da região já ocorrera a partir do século XVIII, com muitos locais de pouso para tropeiros que levavam gado bovino do Rio Grande do Sul para São Paulo. Os primeiros moradores criavam gado e extraíam a erva-mate nativa que vendiam para a Argentina e o Uruguai.
       A venda das terras para colonizadores, em especial de origem alemã e italiana, vindos da Serra Gaúcha, causou vários conflitos entre os antigos e os recentes proprietários. Inclusive, alguns de nossos colonos italianos tiveram que pagar duas vezes pelas mesmas terras, pois os proprietários antigos, como os familiares de Honório Cassiano, por exemplo, obtiveram na Justiça o direito de retomada de suas terras.
       Enquanto houve emprego disponível na construção da ferrovia não ocorreram maiores problemas. Ao término das obras, a Brazil Railway Company, por razões que se desconhece, não cumpriu seu compromisso de pagar a viagem de volta às suas cidades de origem para pelo menos  4.000 operários de sus 8.000 operários que arregimentara Brasil afora. Esses, desempregados, e sem meios para retornar a seus lares, juntaram-se aos demais nativos que foram demitidos da obra e começaram a perambular pela região, carentes de meios de subsistência. Foi lançada aí a primeira semente do que acabaria se tornando a Guerra do Contestado.
       A Brazil Railway Company foi tomada pela corrupção e entrou em concordata em 1917. Já em 1940,  o governo Getúlio Vargas encampou todos os bens da Brazil Railway Company, passando o seu patrimônio à Rede Viação Paraná-Santa Catarina, sendo que esta, em 07 de dezembro de 1957, foi incorporada à RFFSA -  Rede Ferroviária Federal S/A ( que foi sua proprietária até 1999). O valor da obra de Porto União a Marcelino Ramos chegou a 30.000 contos de réis;
       O cronograma de inauguração da ferrovia teve datas marcantes:
- Em outubro de 1909 ocorreu o primeiro assalto ao trem pagador, próximo ao túnel de 100 metros localizado em Pinheiro Preto, por bando liderado por Zeca Vacariano e Fabrício das Neves, levando 300 contos de réis e isso representava o valor de 10 Km de ferrovia construída;
- Em 01 de maio de 1910 foram inauguradas as estações de Caçador, Rio das Antas e Pinheiro Preto;
- Em 01 de setembro de 1910 as estações de Tangará, Luzerna e Herval D ´Oeste;
- Em  20 de outubro de 1910 a de Capinzal;
- Em 29 de outubro de 1910 as de Piratuba, Rio Uruguai e Marcelino Ramos;
-Em 17 de dezembro de 1910 inaugurou-se uma ponte de madeira sobre o rio Uruguai, em ligação com Marcelino  Ramos; Nesta data é dada como inaugurada a estrada de ferro;
-Em maio de 1911 ocorreu uma enchente que atingiu e destruiu alguns trechos da estrada de ferro, ponte, e a ponte de madeira que ligava Uruguai e Marcelino Ramos;
- Em 1912 foi inaugurada a ponte construída em concreto de cimento e metal ligando Rio Uruguai a Marcelino Ramos.
- Em 1940 o Presidente Getúlio Vargas passou a ferrovia para a Rede Viação Paraná/Santa Catarina;
- Em 1957 criaram a RFFSA - Rede ferroviária Federal S/A, que foi proprietária por 40 anos;


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- Após a Enchente de 1983 foi sendo desativada aos poucos. Pararam primeiro os trens de passageiros e depois foram parando os de carga.
- Entre 1992 e 1999, obedecendo a um programa de desestatização, a ferrovia foi provatizada, passando a pertencer à América Latina Logística - ALL. Até 1998 ficou totalmente paralisada para cargas.

Euclides Riquetti
24-06-2019


       

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