sábado, 23 de maio de 2020

A perda de credibilidade da imprensa e considerações sobre o que realmente nos importa


       

       É muito possível que, quando você vê uma notícia na Televisão, estejam, de alguma forma, querendo fazer a sua, a minha cabeça. E, agora, nesses tempos de pandemia, é vergonhosa a insensatez de muitos jornalistas que trabalham na TV aberta, e mesmo em alguns canais que atendem aos seus assinantes, quando tentam fazer valer aquilo que eles pensam, que tentam nos vender como verdades absolutas. Daí, necessário que o cidadão busque a pluralidade das fontes de informação, que busque ter um razoável nível de entendimento das questões, que procure se certificar se aquilo que querem lhe dizer tem algum cunho de verdade. Aliás, o tempo disponível que as pessoas têm hoje em suas casas, pode ser usado para a releitura de alguns livros que se encontram adormecidos lá na estante num compartimento de sua casa.

       Não à toa, o experiente jornalista Alexandre Garcia tem propagado conhecer pesquisas que indicam que a Imprensa Brasileira, em especial a grande imprensa, tenha menos popularidade que o Presidente Jair Bolsonaro, consequentemente mais rejeição do que este. Se chegamos a esse ponto, é porque há um crescente descrédito dela. E isso é perceptível a quem tem muitas relações com a sociedade, conversa, constata. Houve um tempo em que as instituições Imprensa, Judiciário, Igreja e Família eram as mais respeitadas. Agora, o quadro se altera...

O espaço que é dado para questões de pouca importância, ou para análise em debates de coisas que não ajudam em nada o telespectador, mas lhe geram apenas estresse e nervosismo, bem que poderia ser aberto para questões mais sérias. Por exemplo, pouco se fala ou escreve sobre a importância do agronegócio, principalmente para economia do Brasil, que é movimentado nas regiões Sul e Centro-Oeste. Nas questões de saúde,  não buscam mostrar como está o comportamento da população dos três estados sulinos, onde diversas atividades foram sendo gradativamente liberadas. Deixam de colocar informações sobre como anda o atendimento a pacientes acometidos por diversas outras outras doenças que não a Covid 19.  A ladroeira, o tráfico, os acidentes nas estradas e a violência doméstica parece que nem estejam acontecendo.

      Sempre entendi, e constatei  que,  enquanto se dá importância a determinado fato, e o debate gira em torno dele e de suas personagens, há outra parte que age despudoradamente, há comportamentos condenáveis. Há, em muitos hospitais, a falta de insumos básicos, os funcionários trabalham desprotegidos, a remuneração para aos da base de serviços é muito baixa e a indenização ou paga pelos serviços que hospitais e prestadores de serviços recebem pelo que prestam ao SUS é vergonhosa. Canais que transmitem ou reportam sobre esportes, mostram tapes de eventos já passados. E poucas vezes debatem sobre os valores astronômicos que jogadores de futebol recebem, enquanto os clubes brasileiros, administrados pelo coração e o fígado de seus dirigentes, vivem o clima da quebradeira.

       Aqui no Sul, neste momento, está em curso uma forte estiagem. O nível das águas dos rios está baixíssimo. Os produtores rurais precisam adquirir alimento para os animais para suprir os que sua lavoura própria não garante.  E escuto uma pessoa da Defesa Civil do nosso Estado dizer que os Relatórios de Avaliação de Danos, os AVADANs emitidos pelas comissões municipais de defesa civil não são aprovados quando não se registra a falta de água para consumo humano. E que vão mandar cestas básicas para as prefeituras distribuírem para os atingidos. Isso revela grande desconhecimento da realidade da agricultura e despreparo para enfrentarem a situação atual. Vale lembrar que a Defesa Civil de nosso Estado vem sendo praticamente comandada por pessoas de Florianópolis ou do Vale do Itajaí, e  Isso me faz lembrar de uma vez em que a Anita Dacaz Rossa era prefeita de Lacerdópolis, e a Defesa Civil mandou dois sacos de feijão para serem distribuídos dentre os atingidos por desastres naturais aqui nos municípios da AMMOC. E, as prefeituras deviam fazer a entrega de alguns Kg para cada família, promover a entrega, pegando em documento o número da Cédula de identidade, do CPF, e do número de pessoas da família contemplada.  A despesa e o serviço para isso, para cumprir a logística e a burocracia era muito alta. Disse a Prefeita: “Podem ficar com seus dois sacos de feijão que eu dou de meu próprio dinheiro muito mais do que isso para eles, se necessário for”. Agora, duas décadas depois, parece que nossas autoridades não aprenderam nada, que não vão visitar os pontos em que há o problema, e que as soluções que têm são de nos envergonharem.

       Ora, os municípios, em sua maioria, investiram na perfuração de poços artesianos profundos, em projetos de redes de distribuição de águas nas comunidades, enfrentaram as dificuldades burocráticas, deixaram as propriedades recebendo água potável em suas casas e, a maioria delas, a suficiência de água para a criação de animais. Também, pretendem disponibilizar dinheiro para a contratação de caminhões pipas para levar água onde há falta dela. Normalmente, os municípios já dispõem ou já dispuseram de caminhão do gênero, é um item que precisa fazer parte da frota municipal. Então, não seria a hora de a Secretaria de Agricultura e a Defesa Civil terem um cadastro com os equipamentos de produção de cada município, qual a estrutura desenvolvida para garantir o abastecimento de água em todas as propriedades agrícolas e qual a necessidade diária de água para cada propriedade? Para mim, caminhão pipa na hora da desgraça é o mesmo que falar em implantar hospitais de campanha aqui e ali...

       É hora de termos um planejamento em cada estado, de modo que se estruturem as cidades, que se independam do Governo Central, que se invista naquilo que realmente gera o alimento, o trabalho e o bem-estar.  

 Euclides Riquetti – Escritor – www.blogdoriquetti.blogspot.com

Um comentário:

  1. Richetti, entendo como você, a comunicação é fundamental para o cidadão melhor se posicionar
    Concordo plenamente contigo com relação à imprensa no Brasil - cinco, seis famílias representam esse espectro, o resto vegeta, está sufocada pelo sistema. É a chamada imprensa alternativa, a que mais fala a verdade.
    Então, como fazer para melhor nos informarmos?
    Primeiro cito um pensamento se Simon Rodrigues, educador venezuelano do século XIX:
    "O ignorante não é tanto aquele que não sabe, mas aquele que não pode ou não quer saber, e por isso mesmo não pode governar a si próprio."
    Para poder ajudar-se é necessário fazer algumas perguntas:
    Onde me informo?
    Quais minhas fontes de informação?
    Ao ler um artigo qualquer procurar saber quem é o autor, sua história, suas ligações. É o mesmo que devemos fazer com relação ao político que vai nos representar. Isso dá um pouco de trabalho, mas ajuda muito na hora de posicionar-se.
    Com relação ao que disseste faço alguns contrapontos:
    - O agronegócio é o rei da mídia no Brasil, pois representa tudo o que o deus mercado quer; pelo contrário, vemos muito poucas matérias sobre a agricultura familiar.
    - O SUS, apesar das críticas, está segurando a tragédia que vivemos com a pandemia.
    Não esqueçamos os governos criminosos de temer e bolsonaro, que desmontaram o bem-estar social construído a duras penas pelos governos anteriores, a partir da Constituição de 1988. Basta olhar o que vem fazendo nosso Chicago boy Guedes para entender - dinheiro público a rodo para os bancos particulares. Como diz ele: "vamos ganhar muito dinheiro com os recursos públicos. Aí é que está a diferença. Para entender isso precisamos ler e eu, agora, aconselho Ladislau Dowbor em seu livro A ERA DO CAPITAL IMPRODUTIVO.
    - Alexandre Garcia, para mim, representa a parte obscura da ditadura de 64, a coisa mal resolvida (cito a famigerada anistia dada aos militares pelo Congresso em 1979). Os responsáveis não foram punidos, por isso estamos aguentando bolsonaro e os militares que, como Fausto, venderam a alma ao diabo.
    Quem viu o macabro vídeo da reunião do governo- (22/4) - sabe o que estou falando. Ficou escancarado a vergonha que vivemos.
    Voltando a informação - indicar aquilo que alguém deva ler é muita pretensão -, os gostos (ideologia) são muito variados. Eu, por exemplo, leio muita coisa que outros talvez não lessem. O que devemos considerar sempre é a fonte de onde provém a informação e de preferência sempre confrontá-la com outras fontes.
    A leitura é o alimento do espírito, por isso caprichemos nas escolhas.
    HH

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