sábado, 2 de maio de 2020

Algumas considerações sobre investimentos na saúde pública e no futebol


   


     Maracanã sendo reformado


  Além de convivermos com todos os riscos em razão da Pandemia do Coronavírus, temos que nos acostumar a ver um comportamento político horrível no cenário nacional. Já ocorreram mais óbitos no Brasil do que os havidos na China, por exemplo. Buscamos culpados e não houve a articulação necessária pelas autoridades para o encontro de soluções comuns ao enfrentamento do problema do vírus letal. Em meio a todas as dificuldades para a superação do problema, ainda temos que suportar as encrencas políticas protagonizadas...

       Em alguns momentos da vida, escrevi crônicas sobre acontecimentos no Rio de Janeiro, em que se relatavam fatos sobre a malversação na aplicação do dinheiro público em favor do futebol em detrimento de soluções para o Sistema Único de Saúde. Em junho de 2013, um ano antes da Copa da Vergonha, escrevi e publiquei em meu blog:

       " Aquilo que parecia ser um orgulho para o Rio de Janeiro há 6 anos atrás, quando foi inaugurado, agora se transforma numa vergonha. Construído para tornar-se um estádio poliesportivo que pudesse abrigar os Jogos Panamericanos do Rio de Janeiro em 2007 e as Olímpíadas de 2016, o Estádio Olímpico João Havelange, apelidado de Engenhão por se localizar na localidade denominada Engenho de Dentro, foi, após o uso oficial para que fora destinado, dado em arrendamento por 20 anos para o Botafogo Futebol e Regatas, do Rio de Janeiro. Contrato vigente até 2027, poderá ser prorrogado por mais 20, até 2047, por vontade unilateral, ou seja, desde que uma das duas partes, Prefeitura ou Clube, assim o queira.

          Celebrado como o mais moderno e bonito da América do Sul em sua inauguração, começou a fazer água, literalmente, pouco tempo depois. Com problemas na cobertura, foi interditado ainda em março. E serviu de palco, não para espetáculos esportivos, mas sim para que os políticos do Rio de Janeiro, (aqueles mesmo que deixaram o Hospital Infantil de Bonsucesso, que faz transplantes em crianças ficasse fechado por alguns meses), se alfinetassem publicamente. Um denuncia e atesta a incapacidade do outro, um teatro para angariar simpatia e votos. Dizer aqui o nome deles seria estar propagando-o, e vai que algum deles ainda se candidate a Presidente e eu o teria ajudado a tornar-se conhecido...

          Pois não é que agora decidiram que aquele campinho de futebol, que custou há seis anos R$ 380.000,000,00 - trezentos e oitenta milhões - aos cofres da Prefeitura do Rio, vai ter que ficar fechado até 2015 para reforma? Dizem que é por causa da cobertura. E nem têm ideia ainda de quanto vão gastar para deixá-lo em condições de uso com conforto e segurança.


       Não posso, como cidadão, omitir-me. Vi , há poucos minutos, uma notícia chocante: No Rio de Janeiro, depois de esperar por mais de uma semana, a família de uma paciente (idosa) conseguiu uma decisão judicial em que os Secretários de Saúde do Município e do Estado do Rio de Janeiro deveriam disponibilizar um leito de UTI para a mesma, sob pena de os mesmos serem presos caso não cumprissem a determinação. E o Prefeito e o Governador deveriam ser informados da decisão da Juíza.  Azar da paciente, que morreu antes do cumprimento do ato judicial. Sorte dos Secretários,  por ela ter morrido. Não iam cumprir a decisão judicial porque não tinham leitos suficientes na Rede de Saúde Pública. Disseram que a internação em UTI é seletiva, baseando-se em critérios técnicos. QUE VERHONHA! Que disparate! Quanta insensatez!”  E isso me remeteu a analisar como vivemos num país "Reino da Fantasia". Um Sistema de Saúde que garante direitos à população e que os governos não cumprem. Quanta falta de senso de responsabilidade, quanta falta de critério,  de prioridade. Quanto dinheiro queimado em meu país! Que vergonha, Rio de Janeiro!

       Em outubro de 2011, eu escrevera:  “As reformas do Maracanã para os Jogos Panamericanos de 2007 consumiram R$ 395.000.000,00. Alguns dizem que existem "aditivos contratuais". Não posso afirmar isso, pois não moro lá... Mas falam, na imprensa televisiva, que o valor chegou a R$ 500.000.000,00. Quinehntos milhões. E também construíram o Engenhão, que deram para o Botafogo. Mas, o absurdo, mesmo, é o que vão fazer agora, para a Copa do mundo: Maracanã fechado, em reformas, ao custo de R$ 1.000.000.000,00.  Um bilhão de reais. Dizem que os contratos iniciais chegam perto disso, mas, certamente, virão os aditivos, as correções, os ajustes e reajustes. Serão Um bilhão e meio de reais para reformas no Maracanã, para que possa ter condições de  sediar as finais da Copa do Mundo, em 2014, SE O BRASIL FOR FINALISTA. Tomara que o seja, senão vai ficar muito chato para o Rio de Janeiro.



       Ficamos assim: Se, antes da Copa do Mundo, os problemas com a saúde pública daquele Estado ficarem resolvidos, pelo menos boa parte deles, e conseguirem debelar  a dengue, escreverei uma crônica enaltecendo os feitos daquele Governador. E pedirei desculpas pela minha ousadia. Mas, investir fortunas para preparar um estádio para um jogo que nem sabemos se vai acontecer, é mesmo uma grande irresponsabilidade, uma vergonha.

       Como cidadão, não posso omitir-me. Haverá os que acham que futebol é a melhor coisa do mundo, que me criticarão. Mas não terei a crítica de minha consciência, a acusar-me por omissão. Quantas vagas de UTI poderiam ser construídas e mantidas com Um Bilhão e Meio de Reais???”

      

       Agora, passados alguns anos, vemos as estruturas sistemas de saúde, em diversos estados, sendo colapsados. Nem o dinheiro, neste momento, resolve a situação. Lamentavelmente!



Euclides Riquetti – Escritor de crônicas e poemas 
Publicado no Jornal Cidadela - Joaçaba - SC - 
em 01-05-2020


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