quarta-feira, 12 de abril de 2023

Ivoney Bazzo - a amizade que se construiu sólida - reeditando!

 


 



       Na minha infância e na adolesccência, ali no distrido de Ouro, que fora a antiga Abelardo Luz, pertencendo a Palmas, Paraná, vivíamos uma vida cheia de sonhos. Cada jovem tinha seu modo de viver, seus sonhos a serem realizados, muita energia para brincar, correr, jogar bola. Havia campinhos de futebol. Um campinho constrruímos na beira do Rio do Peixe, ali logo acima da barragem dos Zortéa, no leito abandonado de uma rua, a Felip Schmidt. Os Zortéa tinham uma pequena usina hidrelétrica,  que gerava uma quantia ínfima de energia, que alimentava uns bicos de luzes nas casas da antiga Rio Capinzal, e mesmo para a precária iluminação pública. Geladeira,  raras famílias tinham. Rádios, algumas. Televisores, só nas fotos das revistas O Cruzeiro e Manchete. Já tiveramos um campinho no terreno de Augusto Masson, onde hoje se localiza a cadeia pública, vizinhando com a propriedade de Aníbal e Ângela Dambrós. Abaixo da Felip Schmidt também tivemos um campinho, ali onde hoje se situam os prédios de Nézio Zanol, Fernando Rossa e Tornefel. 

       Na antiga Rua do Comércio, que mudou o nome para Presidente Kennedy, uma família de descendentes de italianos, filhos de Lúcia Ferrari Bazzo, liderada por Ivo Luiz Bazzo, casado com Iracema Maestri, ocupava um casarão de madeira, que depois foi substituído por um de alvenaria, que ali se encontra até hoje, e foi palco das mais francas e intensas articulações políticas da história da cidade, desde fins da década de 1940, até o início da segunda década do presente milênio. Vitório Bazzo fora embora para a Bahia, Dona Lúcia criou os filhos ali. Vítor foi expedicionário na Itália, voltou, casou-se com a professora Vanda Faggion. Ivo casou-se com Iracema Maestri e teve os filhos Ione, Ivoney, Ivonete e Ionice. Estes três,  já falecidos. Ainda havia o Plínio, o Hugo, o Dário, o Nelson o Egídio Balduíno (Titi), a Vidi. E a Diva fora para Campos Novos. Esta eu não conheci.

       No campinho, jogavam futebol nos fins das tardes. Os moleques jogavam em qualquer hora que fosse. O lugar era cercado com uma alta cerca de madeiras. Abaixo, um pomar com laranjeiras, jabuticabeiras, bergamoteiras, caquizeiros. Foi ali que, num fatídico dia, depois de terem jogado bola, Egídio Balduíno (Titi) e Severino Dambrós permaneceram após as brincadeiras para comer caquis. Já satisfeitos, viram que um caqui maduro restava lá, no alto. Titi subiu para apanhá-lo, o galho do caquizeiro tem pouca resistência, quebrou-se, e isso o deixou em cadeiras de rodas por toda a sua vida. 

       Joguei apenas uma vez naquele campinho. Dos mais velhos que ali se reuniam, lembro do Hugo e do Plínio, pois este amarrava as quatro pontas de um lenço e protegia sua calvície e camiseta regata branca.  Muitas pessoas de Capinzal costumavam jogar bola com eles, dentre os quais o saudoso Dr. Vilson Bordin. Dentre os moleques, Ivoney, que tinha porte avantajado e portentoso chute com a perna esquerda. Rubens, e Edson (o Garrincha), que eram filhos do Plínio. Vilmar Matté, Mário Morosini, o Pina, Edovilho Andreis, o Pinóquio, Rogério Caldart, Adalir Borsatti, o Pecos, Nilton Segalin, Bruno e Mário Fávero (estes jogava bem voley), Vilmar (o Teco) e Vilson Ronsani, Anito Baretta, (filho do comerciante Severino, que chamavam de Silvério), Egomar, Homero e Rômulo Sartori, Adauto Colombo, Ivan e Ilton Maestri (este muito craque de bola), Clóvis Maliska, o Castanha, Ivan Casagrande, o Bianco, Juventino Vergani, o Bichacreta (meu vizinho aqui em Joaçanba), Vilson Bazzo, Ademar Miqueloto Motorzinho), Hélio Novello, Elói Dambrós, que casou-se com Ione e chegou só mais adiante, pais do vascaíno fábio e do flamenguista Daniel), Dirceu Cadore (o Cadorna), Elói Correa , Vilson e Alcedir Dambrós (o Sebinho) e Nélito Colombo. . De alguns degraus abaixo, o Clóvis Dambrós, que era irmão da Maria Helena e a qual casou-se com Ivoney, tendo os filhos Fernada e André Luiz Bazzo, Serginho Correa, o Mídio,  o César Dambrós (Mandi, irmão de Clóvis e da Maria Helena),  Hélio José Bazo, bem mais jovem e filho do Plínio, Ainda  Huguinho e Milton, filhos do Hugo, Robson e Rogério, filhos do Aquilino Baretta. Havia uma criançada lá, meninos e meninas, que eu nem sabia  quem eram, e que passaram a ser meus amigos depois que voltei para aquela cidade, em 1980.

       O Ivoney, com os primos, ia empurrando a cadeira de rodas do Titi até o Cine Glória, depois Odete. Na ponte, corriam com a cadeira, faziam micagens. O Armando Viecelli, proprietário, abria a primeira porta lateral, ao lado do estacionamento dos carros. Uma meia dúzia de carros Aero Wyllys, Sincas, DKWs, fusquinhas... De vez em quando um motociclo... Em dois, alçavam a cadeira sobre o degrauzinho. Algumas vezes dividiam o espaço entre os blocos de cadeiras com um Surdi, também cadeirante. Riam muito, gostavam muito de cinema. Mas os risos e sorrisos se se estampavam no rosto dos primos. O Sorrir do Ivoney era discreto. Sorria muito mais quando o Flamengo, seu time da família, ganhava seus jogos, do que ria nos filmes de comédia e nos bang-bangs.  

       Foi para Curitiba para fazer curso de preparação para o Vestibular, depois de ter concluído o Técnico em Contabilidade, na CNEC, em Capinzal.  Voltou, reencontrou uma sua vizinha, que morava bem ali em frente da casa dos Bazzo,  a Maria Helena Dambrós. Casaram-se e tiveram os filhos Fernanda, que é médica muito conceituada em todo o Baixo Vale do Rio do Peixe, e André Luiz, funcionário de carreira do Estado de Santa Catarina, que já ocupou cargos importantes na esfera de Governo Estadual.

       Na juventude, fez parte da equipe dos Snakes, time de futsal que disputava as competições locais. Camisas pretas e amarelas, muito bonitas, bons jogadores. O "Ney" era muito habilidoso e tinha um chute muito forte, portentoso. Quando um goleiro fizesse uma defesa e não tivesse usando luvas, elas lhe doíam muito. Mesmo se a bola atingisse os braços, era uma martírio. Adiante, no início da década de 1980, joguei de goleiro no futsal contra ele. Seu chute era uma bomba, nem dava tempo de levar as mãos para defender a bola. E, se defendesse, era dor na certa. 

       Jogou no Arabutã  Futebol Clube, era atacante, um nove específico. Num jogo  contra o Vasco, de Capinzal, no Estádio da Baixada Rubra, em Ouro, ele deu um chute de fora da área e a bola, batendo no travessão, voltou para o meio do campo. 

       No trabalho, fomos colegas nos anos de 1981 e 1982, quando seu pai, Ivo Luiz Bazzo, era prefeito em Ouro. Ele era tesoureiro da Prefeitura, havia o Nolberto Zulian como Contador, o Luciano Baretta e o Renato Caldart como escriturários e o Marco Antônio Baretta como oficce-boy. Eu era chamado de Secretário do Prefeito, mas minha nomeação era como Diretor da Divisão Administrativa, pois não havia nenhuma secretaria no quadro funcional. 

       O Ney fazia cálculos em calculadora da Olivetti, com bonina de papel, não havia computadores ainda. Emitia os boletos em máquina simplees e, adiante, em máquina de escrever  elétrica. Costumava organizar tudo, primeiro, em papeis de rascunhos. Escrevia e assentava os cálculos tudo a lápis, depois passava a caneta nos fichários e documentos. Meu primeiro contato com ele,[ foi ao final de 1979, quando eu morava ainda em Zortéa, e deu-se porque fui à Prefeitura para ver como se fazia para ter uma escavação para construir minha casa e quais documentos eu deveria ter. Orientou-me em como proceder e disse-me que o  Município ia receber um trator novo, de esteiras, um Fiat AD7B, e que fariam a escavação tão logo o trator chegasse. A colega Professora Elzira Carletto Federle me disse que eu deveria ir à Prefeitura pedir a escavação, que eles faziam, mas que em capinzal não faziam. 

       Nos primeiros dias do ano de 1980, mandou-me um recado através do Luciano Baretta, meu primo: O trator novo chegou e o Olávio Dambrós, que é o Diretor de Obras, vai estrear a máquina fazendo sua escavação. O Operador do trator era o Eurides Dutra Ribeiro o Dedão, e meu irmão, Ironi, acompanharia o serviço, pois eu morava em Zortéa. Dias depois, fui lá no meu terreno, estava terraplanado, entre os Miqueloto e os Campioni,  e pude começar a marcar o quadro da casa, que foi construída pelo Senhor Moisés Ceigol. Em março,  entrei na nova morada, fui lecionar na Escola Sílvio Santos e, em dezembro, eu fui convidado e aceitei ser nomeado para "Secretário do Prefeito", indicado por Luiz Roberto Toaldo, que estava se desligando daquela Prefeitura. De 1989 a 1992, quando eu fui prefeito, o Ivoney foi meu colega como Resoureiro Municipal, desempenhando seu serviço com conhecimento, dedicação, disciplina e muita competência.Paralelamente, trabalhei como professor com a Ivonete, sua irmã, com a Maria Helena, sua esposa, hoje escritora, produtora de maravilhosos livros de Literatura Infantil.

       Os anos foram se passando, ele morava ao lado da casa do pai, fazia "churrasco de coxão mole" para a turma da família. Muitas vezes, cozinhavam uma dúzia de ovos na água para o Deputado Gilson dos Santos (o Gilson comia uns 6 e o Zeca, irmão dele, um pouco menos"), que sempre os visitava e é amigo dos que restaram ainda hoje. Os ovos eram fornecidos pelo Forlin, que trazia numa cesta junto com queijos). Numa saleta, Ivo nos recebia, a família sempre por perto, a Dona Iracema nos trazendo um delicioso cafezinho, cujo odor delicioso flutuava no ar e ir dispersar-se lá na rua. Ali nos reuníamos com pesas pesados da polpitica catarinense, como os ex-Governadores Esperidião Amin, Vilson Keilubing e Raimundo Colombo. 

       Os anos se passarm, perdemos a Ivonete, minha comadre, a Ionice, o seu Ivo e a Dona Iracema, e, há um ano, no dia 27 de fevereiro, o Ivoney. Eu estava em Florianópolis, ligaram-me noticiando-me da perda dele, primeiro o César Prando, depois meu irmão Hiroito. Eu estava num consultório odontológico.  Liguei para o Hélio Bazzo, fui ligando aos amigos, não tinha como voltar. A tristeza tomou conta de nós e dos que o conheciam, pois ele havia estado pouco tempo antes num supermercado fazendo compras, e quando ia almoçar, teve um mal súbito e faleceu. Posso asseverar aqui que a pessoa que mais o considerava e que muito sentiu a perda, tanto como seus filhos,  esposa e irmã, foi o primo dele, Rogério Baretta. Eram muito ligados, seempre o foram. 

       Agora, passado um ano, estamos vivendo problemas relacionados à pandemia do novo coronavírus, perdemos muitos amigos e nem sequer podemos abraçar seus entes queridos. Mas as boas lembranças do Ivoney, as conversas que tínhamos aqui em Joaçaba, ali perto do antigo BESC, quando ele trazia a filha Fernanda para trabahar em suas atividades médicas, estão presentem em mim.  Ele me falava da Losartana Potássica, de coisas que nós, madurões entendemos um pouco... Era amigão, assim nos tornamos, havia muita  amizade entre as famílias Riquetti e Baretta com as famílias Dambrós, Maestri e Bazzo. 

       A vida se nos apresenta assim: Vivemos nossa infância num grupo social, na adolescência alguns se mudam, na juventude nós acabamos nos mu

dando ou se mudam os amigos, na vida adulta vamos reencontrando alguns ou refazendo novos.  Pessoas entram em nossa vida pela porta da frente, nos conquistam, viramos amigos de verdade e, lamentavelmente, os perdemos... Ficam as boas lembranças, os sorrisos verdadeiros, a verdadeira amizade. Obrigado, Ivoney, por termos sido, mais que colegas de trabalho, verdadeiros amigos. Que tenha muita paz onde estiver. 


Euclides Riquetti

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