quarta-feira, 26 de julho de 2023

O ressurgir da uva Goethe em Ouro - pela família Rech

 



                                                     Euclides Riquetti, Vanderlei e Jussara Rech 

       A família Rech  é a mais tradicional na produção de uvas, vinhos e frutas em Ouro. Descendentes de João Rech Sobrinho, Guido Rech e de Saule Rech são os que ainda mantêm a tradição. Vanderlei Rech, sua esposa Jussara e o filho Vanderlan, moradores em Vila Unida, na Linha Sagrado, em Ouro, além de produzirem os frutos e vinho, também dedicam-se à produção de frutas, como pêssegos, ameixas, figos e morangos. Neste inverno, uma estufa comporta 13 mil pés de morangos. A propriedade se localiza ao lado de uma estrada que encurta a distância entre Linha Vitória e Sagrado ao Pinheiro Alto. 

       Desde criança me acostumei a ver os Rech em Ouro e Capinzal com um caminhão Chevrolet carregado de uvas, fazendo a venda ao comércio e a particulares. Os anos se passaram e, seis décadas depois, a atividade de produção ainda está intensa, com os filhos de Noé e Zélia (Baretta, minha prima, ambos in memoriam), Hilário, descendente do Nonno Saule, e Vanderlei, filho de Deoclides e Vicenza. Os filhos de Noé produzem os vinhos de nome "Monte Sagrado", e o Hilário o "Nonno Saule". 

       Estivemos, recentemente, na casa de Vanderlei. Fomos rever seus parreirais e pomares. A simpatia está presente e a alegria também. Vanderlei é conhecido como o "Gordo" e ele não se incomoda que o alcunhem assim. A sua onda do momento é a uva Goethe! 


                                  Vin Bell Fior - de uva Goethe- produzido em Ouro pelos Rech 


       Degustando um vinho produzido com uva Goethe, foi-nos contando um pouco da História da família, nos passando valiosas informações. O seu grande entusiasmo pelas parreiras de rara preservação no Brasil e porque não, no mundo, é dos maiores e atrai a atenção dos visitantes. Na propriedade ou na rua, onde quer que o assunto seja abordado, seus olhos se enchem de brilho. É um exímio contador de histórias, bem humorado e piadista. Cativa o interlocutor com seus jeito simples, sua fala mansa e seus gestos "Italianos", com o movimento peculiar de suas mãos.

       A uva Goethe foi uma criação do norte-americano Edward Staniford Rogers, no Século XIX, que realizou cruzamentos entre as uvas americanas e as europeias, chegando a uma variedade híbrida, aclimatada aos ambientes dos Estados Unidos, de coloração branca, sabor adocicado, para consumo in natura ou mesmo para a produção de vinhos finos. É o resultado do sabor das uvas europeias com a resistência climática e fitossanitária das americanas. Na segunda metade da década de 1880,  a variedade chegou a Santa Catarina, através de Giuseppe Caruso Mac Donald, que a trouxe à região de Urussanga, em Santa Catarina, onde foi difundida. Urussanga é o grande produtor da Goethe, rara no Brasil, mas também presente em Linha Sagrado, Ouro, também aqui em Santa Catarina. Em 1887 o vinho da Goethe era já produzido em razoável escala em Urussanga e Azambuja. A região era habitada por imigrantes originários do norte da Itália. Urussanga é a Capital Catarinense do Vinho. 

       Segundo Vanderlei, seu bisavô Noé Rech, filho de João Rech, foi nascido em 1899, em  Sere del Grappa, Itália, e chegaram ao Brasil em 1918, residindo no Distrito de Mato Perso,  mas Noé morreu com 37 anos. Na época, Mato Perso pertencia a Caxias do SUl, e hoje faz parte do município de Flores da Cunha.  Era casado com Francesca de Cesaro. Noé e seu filho Guido Rech trouxeram as mudas de parreiras, chamadas de carmelas,  da Itália, e a variedade era chamada de "La Rossarda". Foram trazidas em sacos confeccionados em couro, com areia úmida dentro para evitar que perecessem. Os sacos eram trazidos enrolados em roupas pois havia a ideia de que era proibido trazer as mudas para o Brasil. Hoje está presente em Urussanga e Ouro. 

        Guido Rech, filho de Noé, era avô  de Vanderlei. Em Ouro, vieram o Guido e seus irmãos  Saule, João Rech Sobrinho, Aquilino e Terezinha (Molinetti). Sabino  e Atílio vieram para Salto Veloso. E Angelina  (Reolon) foi para Campo Mourão, no Paraná. Arnelinda e Metilde (Conte),ficaram no Rio Grande do Sul.  Os que vieram para cá, chegaram ao Distrito de Ouro em 1938, Vieram Francesca de Césaro Rech,  Guido e Adele, fixando-se no local onde o Vanderlei mora hoje e tem seus parreirais  e pomares. A família sempre produziu uvas e vinhos. 

     No Ano  2000, em razão do mau uso de defensivos agrícolas houve o risco de se perder as parreiras e quase que ocorreu a sua extinção. Porém, Deoclides Rech, marido de Vicenza Masson Rech, (pais de Vanderlei), começou a fazer enxertos das parreiras, chegam a dez delas. Deoclides faleceu em 2016. Hoje o casal Vanderlei e Jussara, junto com o filho Vanderlan, que está concluindo seu curso de Engenharia Agronômica, sabem da importância de La Rossarda para os catarinenses e para o Brasil. Eágri e Embrapa estão empenhadas em preservá-la e fazer com que tenha grande importância no mercado vinícola do Brasil. 

       O vinho Goethe era o preferido do Presidente Getúlio Vargas, que mandava buscar o vinho em Urussanga para seu próprio consumo.  

       Vanderlei possui 1.000 parreiras em produção, sendo seis gerações da família produzindo a Goethe. A produtividade por hectare é menor do que a das outras parreiras convencionais e de produção consolidada. Mas vale a pena mantê-la pela sua importância histórica e pelo próprio valor de mercado.

       Parabenizo a Família Rech pela persistência em preservar a espécie da Goethe e ainda evitar que outras variedades se extingam.  

Euclides Riquetti

26-07-2023






Um comentário:

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