sexta-feira, 11 de agosto de 2023

O dia em que eu conheci "A Peste" de Albert Camus

 


     
Albert Camus

Ou, um breve ensaio sobre os dias atuais...

      Há exatos 36 anos completados neste dia 22, ou seja, em 22 de julho de 1984, no dia mais frio daquele ano, tive um grave acidente jogando futebol, no Estádio da baixada Rubra, em Ouro, pelo Arabutã FC. Uma fratura grave na Tíbia e duas no Perônio!  O fato resultou em minha crônica "O dia em que minha vida virou ao avesso", que tenho no blog e num de meus livros.
   
       Nos primeiros dias subsequentes, o amigo professor e então Diretor da Escola de Educação Básica Belisário Penna, José Mauro Lehmkhul, foi visitar-me em minha casa, lá no Ouro. Levou-me dois livro do escritor Albert Camus, "O estrangeiro" e "A Peste". Devorei-os, assim como outros e ainda a revista de circulação semanal "Isto É" e o jornal "A Notícia", de Joinville. Canais de TV disponíveis, na época, eram a TV Piratini, da Rede Tupi, de Porto Alegre; e a TV Coligadas, afiliada à Globo, de Blumenau. (Noventa dias de gesso, muita dor, inclusiva com injeções de morfina. Fui atendido no hoje HUST. Dr. Tanaka foi o médico que me atendeu, fez o trabalho como tinha que fazer. Em casa, quando o efeito da anestesia passou, senti dores horríveis).

       O Argelino Albert Camus nasceu em 07 de novembro de 1913, na Argélia, e faleceu aos 46 anos, em 04 de janeiro de 1960, na França. Trabalhou como tanoeiro, mas, mesmo de família pobre, cursou o Ensino Médio, a Faculdade, e concluiu Mestrado e Doutorado. Foi goleiro de futebol da seleção universitária da França, é renomado escritor, e ganhou o Prêmio Nobel da Literatura em 1957. Sugiro a você, caro leitor, que procure ler sobre a vida desse fenômeno da Literatura Mundial, inclusive sobre suas posições políticas e filosóficas.

      Além dos dois livros já mencionados, foi bem sucedido em "O Mito de Sísifo" e "O Homem Revoltado". Foi autor de diversas obras. Hoje, se você pesquisar no google sobre "Albert Camus - A Peste", vai encontrar 1.820.000 resultados. Em razão da pandemia do novo coronavírus, "A Peste" tem sido buscado constantemente por leitores muito qualificados, que buscam entender o que se passa hoje, assustadoramente, no mundo. No Brasil, a partir da segunda quinzena do mês de março deste ano, Camus passou a ser pesquisado intensamente em razão do que escreveu em 1947.

Veja o que foi escrito por Amanda Liliany, aluna de RelaçõesInternacionais do UniCeub:
 A peste, de Albert Camus, é uma história que se passa em uma cidade pacata, mais conhecida como Orã, em que se mostra como um surto de Peste Negra mudou e influenciou a vida dos habitantes. Como é narrado no inicio, Orã é uma cidade tranquila, cinzenta e muito industrializada, em que os cidadãos viviam para trabalhar e formar suas famílias. Bernardo Rieux, o médico e narrador dessa história, acompanhou o aparecimento de números cada vez maiores de ratos mortos e coincidentemente pessoas doentes por toda a cidade. Com o grande número de baixas de seus pacientes, Rieux, apesar de não querer acreditar, convoca uma reunião com a prefeitura e surpreende a todos dizendo que o que realmente estava acontecendo, em Orã, era uma epidemia de peste bubônica e que se não houvesse o controle da doença em dois meses poderia matar metade da população. A peste chegou de repente e não havia explicações concretas, os personagens principais nem tentam especular, vivem um dia de cada vez, sem procurar significados e fazem o que podem, são pessoas comuns tentando sobreviver ao acontecimento.
A obra de Camus é muito impactante, pois deixa evidente o sofrimento que a população passa desde as mortes até o momento que ocorre a quarentena na cidade. A quarentena foi abordada como uma fase difícil para todos os moradores, pois viviam tristes e indolentes, separados dos entes queridos e também, por terem a convicção de que eram prisioneiros. A cidade foi fechada para o resto do mundo, até mesmo o envio de cartas foi proibido por ser um possível meio de transmissão da doença. A todo o momento, o livro, sugere reflexão e nos faz levantar sérios questionamentos acerca de como nos colocamos diante dos outros, principalmente quando esses estão em situação de risco. Rieux foi uma peça chave, pois ele por um lado abriu mão de sua vida pessoal pois sua mulher estava fora, numa casa de saúde, para se dedicar inteiramente à população daquele local, e os outros médicos que aplicavam-se 24horas por dia para tentar salvar a população dessa peste que estava carregando consigo varias vidas.
A descrição do hospital é chocante, no chão havia um lago desinfetante e no centro um conjunto de tijolos que formava uma ilha, nesta ilha, o doente era examinado por Rieux, despido, lavado e depois locado para outra sala. Os pátios das escolas eram usados como leitos, onde quase quinhentos já estavam ocupados. Até que em certo momento, as pessoas começaram a ficar violentas tentando burlar a segurança nas barreiras para fugir, e Rambert, um jornalista que havia pedido um atestado para sair e se encontrar com sua amada estava entre eles. Com isso, os jornais publicaram novos decretos sobre a proibição ao tentar sair da cidade e guardas a cavalo e patrulhas faziam a ronda no local, matando cães e gatos que poderiam transmitir pulgas contaminadas.
Passado o mês, as coisas tomaram uma proporção maior e Rieux em uma conversa com sua mãe lhe diz que o soro vindo de Paris parecia ter menos eficácia que o primeiro, e que uma nova forma de epidemia havia aparecido, a peste pulmonar. Rieux foi interrompido por Tarrou, que trouxe a notícia de que todos os homens válidos serviriam para ajudar a combater a peste. Separados em grupos, eles fizeram o melhor que podiam para reduzir a doença. O que não significa que o contágio cessou, as mortes chegaram a passar de 700 por dia e os enterros aconteciam o mais rápido possível com o mínimo de riscos para os outros, o que deixavam as famílias tristes e ofendidas, mas no momento em que se vivia em Orã, não existia mais a capacidade de se pensar em como os outros morriam.
Um dos momentos mais impactante da obra, é quando Camus dita que a prefeitura decidiu afastar os parentes dos enterros, pois com a falta de caixões e panos para mortalha, covas foram feitas para que homens e mulheres fossem enterrados sem nenhuma distinção e cobriam-nos de cal e terra, deixando espaço para corpos futuros. Em um trecho diz que a diferença que pode haver entre os homens e os cães, por exemplo: o registro ainda era possível; essa comparação do homem ao animal é algo que choca o leitor, porém é valido por conta do cenário vivido naquela época.
Em dezembro, os casos de melhora começaram a aparecer, dados pela injeção de soro que Castel preparara a peste perdia com rapidez a sua força. A doença partiu assim como tinha chegado, misteriosa e quieta. Após perder seu amigo Tarrou e saber por telegrama que sua esposa também se foi, meses depois os portões foram abertos e organizaram-se festejos para o tão esperado dia do encontro.
Rieux finaliza o livro dizendo que a peste não morre e não desaparece, ela simplesmente dorme e espero com paciência chegar o dia em que acordará os ratos e os mandará morrer numa cidade feliz.
       Amigo leitor, amiga leitora, tire suas conclusões, veja tudo o que vem acontecendo no mundo e no Brasil, faça sua parte, cuide-se, pois só o tempo vai dissipar a nuvem negra que paira sobre nós!
Abraços    -   Euclides Riquetti - 23-07-2020

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