sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Os óculos de enxergar da mulher do Amílcar

          Ligo para o Amílcar para perguntar como tem passado desde nosso encontro, uma semana atrás. Eu queria agradecer pelo café que nos ofereceu, lá na Lanchonete de General Carneiro, na sexta passada. Nas primeiras tentativas de "fora de área", mas depois acabei me acertando com ele. Tinha ido levar mas ovelhas para engorda no sítio de um amigo. Ganhara uma na rifa da Capela e comprara outras no leilão de uma festa no final de semana.  

          O Amílcar é aquele me amigão que reencontrei em Canasvieiras em abril, na Semana dos Uruguaios, a que para nós é a Semana Santa. É aquela em que, no Uruguai, fazem uma semana de feriado para que as pessoas possam viajar, ir fazer turismo. E, pela proximidade, Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os principais destinos deles.   Reencontrei o Amílcar na semana passada, quando estava de passagem por General. Combinei com ele enos encontramos.

          "Boa tarde, Riquetto! Come que tá o frio por aí? Minha véia disse que leu que você iscreveu alguma coisa sobre o sol, que aí não tinha sol hoje cedo! Ma aqui nun é diferente, amigo! Muito frio, de arripiá os cavei..."    Falei-lhe que ela deve ter lido meu blog e lido meu poema novo, "Vem, sol, vem!", que escrevi para chamar o sol. Ele compreendeu, disse "num intendo nada de brogue"e também não fiquei explicando isso pra ele, Conversa com ele tem que ser prática e mais objetiva.  

          Peruntei-lhe como foram seus últimos dias, o que tem feito além de tomar chimarrão. "Óia, Riquetto, num tá fácil a cosa aqui. Tenho que inventá até disculpa pra podê jogá um isnuquinho.. Digo que vô visitá meus cumpadre e vô cum eles jogá us taco no bar do Ziza, aqui em Palmas. Você sabe que sempre gostei de escorá o umbigo nas mesa de bilhá e num é agora que vô pará. Num posso isperá pa ficá veio im casa."

          Falei-lhe que tem razão, mas que não deve enrolar a mulher, que se ela desconfiar que ele está mentindo, vai passar a desconfiar de tudo o que ele disser. E, depois que perder a confiança dela, esá frito!

          Deu umas belas risadas, parecia-me ver seu jeitão. Perguntei-lhe como estava a esposa, que gostaria que viessem nos visitar, que ficaríamos muito contentes em recebê-los. E lá veio ele com essa conversa:"Ma nem te conto, Riquetto! Sabe que ela foi comigo consultá no Porto e comprô um par de óculos novo?. E eu que paguei o pato! Quando cheguemo im casa tava inxergando tudo, até demais. E começô a olhá pras parede, pro forro da casa, pras porta e janela e discobrio que tinha um mofo daqueles cinzento. I tudo sobrô pra mim. Me deu um baldo de áqua cum quiboa e um pano daqueles de pelúcia e me fez isfregá tudo aquilo, até tirá fora, deixá tudo branquino. Devia ter dexado ela orba que era meió pra mim. Capaiz de até vê coisa que num existe agora..."

         Tive que rir.  Disse-lhe que hoje em dia a gente precisa ajudar em casa e principalmente no inverno, que as faxineiras fazem, mas que isso tem um custo, uns oitenta reais por dia. Ele me disse que prefere fazer tudo sozinho, nem que leve dois dias,  e que o dinheiro que economiza dá pra comprar erva pra tomar chimarrão o mês inteiro e ainda para umas 30 fichinhas de bilhar.

          Conversa vai, conversa vem, disse-me  que ainda ontem estava olhando umas fotografias que tem guardadas numa caixinha de sapato, viu uma foto do tempo em que tínhamos aquele cabelão escuro, lá nos nossos 20 anos,  no Porto.  E começou a lembrar de uma vez que fomos no baile em São Miguel, Distrito do Porto, e que só deixavam entrar lá de terno e ele...Bem, isso é história pra outro dia!

Euclides Riquetti
16-08-2013


         

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