sexta-feira, 26 de junho de 2015

Silenciou o Poeta Nico Fagundes

         Na quarta-feira, quando as atenções da mídia brasileira se voltavam para a notícia da perda do cantor Cristiano Araújo e de sua namorada Allana, em Goiás,  aqui no Sul do Brasil se sentia outra grande perda: Antônio Augusto da Silva Fagundes, o  Nico Fagundes, o homem do "Canto Alegretense". Advogado, jornalista, historiador, novelista, mestre em Antropologia Social pela UFRGS, 80 anos, natural de Alegrete,  uma figura respeitadíssima no cenário tradicionalista gaúcho. Sua partida deixa uma lacuna imensa no cenário da cultura e do folclore gaúcho.

         Nico Fagundes ficou muito conhecido por ser criador e apresentador do programa tradicionalista "Galpão Crioulo", que foi ao ar a partir de 1982 na RBSTV, emissora sediada no Rio Grande do Sul. Trabalhou durante 30 anos no programa.  Estávamos habituados a ouvir os seus casos e a conhecer valores da tradição que ele levava para entrevistar, tocar e cantar em seus programas. Um poeta nato, conhecedor, como poucos,  da História do Rio Grande do Sul.

          Trabalhou em especiais para a Televisão, tenho vivido a personagem do General  Bento Gonçalves, na série "O Tempo e o Vento", que a TV Glogo produziu em 1985 e em que ele atuou ao lado de José Lewgoy, Lilian Lemmertz e Tarcício Meira . Escreveu o roteiro do filme "Para Pedro" e atuou como ator, assistente de direção e consultor de costumes do filme "Ana Terra".

          Ainda, Nico Fagundes escreveu o roteiro, dirigiu e trabalhou como ator no filme "Negrinho do Pastoreio", com Grande Otelo. Atuou como ator no filme "O Grande Rodeio", o qual também produziu e dirigiu. O homem era uma verdadeira fera da cultura e do folclore gaúcho. Seu "Canto Alegretense" é uma das canções mais executadas no Rio Grande do Sul, sendo gravada por diversos cantores e grupos como "OS Serranos" e o neto de Nico, Neto Fagundes.
       
"Não me perguntes onde fica o alegrete
Segue o rumo do teu próprio coração
Cruzarás pela estrada algum ginete
E ouvirás toque de gaita e de violão
Pra quem chega de rosário ao fim da tarde
Ou quem vem de uruguaiana de manhã
Tem o sol como uma brasa que ainda arde
Mergulhado no rio Ibirapuitã
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduí
E na hora derradeira que eu mereça
Ver o sol alegretense entardecer
Como os potros vou virar minha cabeça
Para os pagos no momento de morrer
E nos olhos vou levar o encantamento
Desta terra que eu amei com devoção
Cada verso que eu componho é um pagamento
De uma dívida de amor e gratidão
Ouve o canto gauchesco e brasileiro
Desta terra que eu amei desde guri
Flor de tuna, camoatim de mel campeiro
Pedra moura das quebradas do Inhanduí"

Composição de Nico Fagundes - nascido em 04 de novembro de 1934 e falecido em 24-06-2015 - a verdadeira alma do folclore gaúcho.

Descanse em paz, companheiro Nico!


Euclides Riquetti
26-06-2015

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