quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

A saudosa biblioteca da Escola Major, em Zortéa.

Mais para relembrar.
          Só quem já percorreu longos caminhos na vida pode ter uma dimensão mais apurada de quantas mudanças de costumes já ocorreram e a velocidade como isso aconteceu. E, aqui do alto da cidade, também do alto e sagrado altar da maturidade, posso contemplar as planícies da vida e relembrar de incontável número de fatos que já presenciei em minha existência terrena. A outra, vou ter que aguardar para ver como é, o que me reserva, a mim, a você, a todos nós. Do futuro tenho medo, por ter medo do desconhecido, o que é natural no Ser Humano. E eu não sou diferente dos demais... Um caminho para desvendar os mistérios que nos cercam e encorajar-nos a conhecer o futuro é o livro. Viajar através dele, volver-se ao passado e projetar o futuro, imaginar o porvir!

          Lembro que,  na época em que me iniciei, efetivamente, na carreira de professor público, em Duas Pontes, hoje município de Zortea, após ter lecionado temporariamente no Colégio Industrial Coronel Cid Gonzaga, em Porto União, e no Instituto de Idiomas Yázigy, em União da Vitória, encontrei na Escola Básica Major Cipriano Rodrigues Almeida uma Biblioteca sensacional.

          Funcionava numa sala bem arejada, com uns 48 metros de área, as prateleiras bem fornidas de livros, e as mesas e cadeiras de madeira natural envernizadas que foram doadas pela Zortea Brancher S/A, a empresa madrinha da Escola.  Vivi ali uma das melhores e mais saudosas experiências de minha vida. Dentro das aulas de Língua Nacional, hoje Língua Portuguesa, costumava levar os alunos para a Biblioteca, cada turma uma vez por semana, onde fazíamos a entrega de livros para os alunos levarem para casa e lerem. Faziam a retirada e iniciavam a leitura ali mesmo.

         Uma pergunta frequente lá: "Professor, posso levar mais do que um?" - podiam, sim!  E liam, positivamente, verdadeiramente, maravilhosamente. E, depois, tínhamos um método de produção de textos com uma sequência lógica de aprendizagem, baseada no sistema do Samir Curi Meserani, com seu "Redação Escolar - Criatividade" - o método tinha sido introduzido pelas professoras Elza Melo Zanetti e Victória Leda Brancher Formighieri, esta também Diretora da Escola, que mais tarde veio a tornar-se minha comadre, madrinha da filha Caroline, gêmea com a Michele, que nasceram quando lá moramos e trabalamos. As professoras deram o pontapé inicial, uma base formidável para um trabalho sequencial com expressivos resultados.

          E, o gosto pela leitura bem disseminado,  mais o trabalho de motivação, somados a uma prática de escrever textos,  dentro de uma linha de aprendizagem progressiva de estruturas do Método Meserani, resultavam na formação de alunos escritores. Faziam maravilhosas redações, contos,  crônicas, poemas, notícias para nosso jornalzinho. Eram leitores e escritores. Quando me afastei de lá, fui sucedido por outra professora que deu sequência ao nosso trabalho, uma contumaz leitora a Gena Casara.

          Mas preciso fazer o registro que mais me apraz do valor incomensurável de nossa Biblioteca: uma coleção de encadernações contendo centenas de exemplares da revista "Seleções do Reader's Digest",  que foi doada para a Escola pela família Brancher.

          Quantas e quantas vezes peguei aquele material na mão, admirei, abri, li relembrei, viajei no tempo, fui conhecer as reportagens realizadas nos campos da Segunda Guerra Mundial. Edições a partir da década de 1930 até a de 1960. Um material valioso, belo, atraente, encantador.

          Mas, com os vendavais ocorridos no início da década de 1980, um ciclone destruiu o prédio escolar e tudo ficou arrazado. Que pena! Todos aqueles livros destruídos, desde  "As Terras do Rei Café" até "Os Capitães d ' Areia", de Jorge Amado. E todos os de José de Alencar, Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Camilo Castelo Branco, Maria Clara Machado,Euclides da Cunha, Érico Veríssmo, Cecília Meirelles, e mihares de outros,  tudo ficou destruído...

         Hoje tenho saudosas mas muito boas lembranças daquela escola, de meus colegas professores, de meus alunos. Formamos ma geração de leitores, por issomesmo vencedores. Agora, com as modernas e rápidas tecnlogias de comunicação, consigo ter contato e reatar amizades que ficaram adormecidas, muitas delas por mais de três décadas. Mas vale a pena relembra  e comemorar que nossos alunos foram buscar seus espaços em vários estados brasileiros. Que as modernas tecnologias venham todas, mas o  livro, esse bem sólido e material,  que nos traz em si inimagináveis recursos  para nos deleitar, permaneça sempre entre nós!

Euclides Riquetti
12-07-2013

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