quinta-feira, 30 de junho de 2016

Observações de um caminhante inquieto


 

 

          Há pouco mais de um ano, desde que comecei a cuidar mais de mim do que dos outros, desenvolvi um pouco mais meu senso de observação. E, nas andanças, algumas constatações que me deixam apreensivo, como o que verifiquei numa tarde de domingo, bem recentemente.

          Após uma daquelas costumeiras caminhadas, perto de uma casa, simples, uma senhora muito jovem estava diante de um tonel de lata com um belíssimo arranjo de balões brancos e rosas. Colocou-os sobre o tonel, pegou um cavaco no chão e começou a estourar um a um, até não sobrar nada. Depois, soltou aquelas borrachas grudadas a um barbante dentro do enorme vasilhão que servia de lixeira. Meu pensamento voltou ao passado e...

          Caminhei por uns minutos por uma rua recentemente asfaltada. Aquilo que se inaugurara efusivamente há poucos meses podia receber um Decreto de Situação de Emergência. Quem sabe logo vire um caso de Calamidade Pública...

          Mais algumas passadas e alcancei dois meninos que conversavam. Bem vestidos, bermuda e camiseta novos, tênis de marca. Um, aparentando no máximo oito anos, dizia: "Eu acho que as pessoas não devem roubar. É melhor pedir do que roubar, minha mãe me ensinou assim".  O outro, um pouco mais velho, talvez de dez ou onze anos, falou: "Eu já acho que tem que roubar. Pra que fazer diferente se roubar é muito mais fácil"...

          Direi a você, leitor, que são apenas três situações observadas em no máximo meia hora. Colocarei como A, B e C, respectivamente.

          Na situação A, lembrei-me da dificuldade que tínhamos, em nossa infância, de termos brinquedos. Nos natais e aniversários, ganhávamos coisas simples, normalmente feitas pelos pais, de forma artesanal. E balões, quando tínhamos "Dois Cruzeiros", conseguíamos comprar uma meia dúzia em bazar ou livraria. Não os enchíamos de uma única vez. Só enchíamos o segundo,  quando o primeiro estourava. Brincávamos longe dos espinhos das plantas e até dos gramados para que não estourassem. E fazíamos com que aquela meia dúzia de balões nos divertisse por pelo menos uma semana, quando não um mês. As facilidades do mundo consumista, do ter dinheiro sem muito esforço, levando uma mãe a jogar fora os balões que decoraram o aniversário de sua filhinha. Valeu a foto, os balões vão estar, possívelmente no álbum de fotografias, ou no facebook...

          Situação B: Uma rua que recebeu asfalto, inaugurada há menos de seis meses, com barro acumulado em muitas baixadas. Dezenas de metros de meio-fio "derretido", já destruído, onde se constata,  fácil,  que houve aplicação de cimento de má qualidade ou formulação inadequada. E as bocas-de-lobo,  localizadas em pontos mais elevados e faltando nas baixadas. Falhas na execução, na fiscalização, etc.,  etc.... Dinheiro "nosso" muito mal aplicado...

          Situação C: Mais preocupente que as duas anteriores. Família impotente, (ou desajustada) perdeu o controle sobre os filhos. Poder Público omisso, deixando a coisas correr. Educação daquele jeito. E isso gerando insegurança e falta de perspectivas melhores.

          Na minha condição de observador, estou aqui mostrando apenas três situações vivenciadas em menos de meia hora. Imagino, leitor, por quantas situações semelhantes ou mesmo diferentes você passa todos os dias. Vive, como eu, num mundo em que o "faz-de-conta" muito conta. Mas tudo é muito preocupante. De minha parte, procuro evitar o consumismo, que produz muito lixo e causa muita poluição. Sempre que encontro alguma autoridade, em qualquer lugar, estou procurando informá-los e cobrando seriedade no caso das obras mal executadas. E procurando, sempre que possível , dar conselhos e atenção às crianças que encontro na rua, dizendo-lhes que fazer o bem vale a pena! Omitir-me, seria um grande pecado...

Euclides Riquetti
13-02-2014

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