domingo, 14 de abril de 2019

Meu discurso no lançamento de "Crônicas do Vale do Rio do Peixe e outros lugares"






As pessoas têm suas histórias

       Todas as pessoas têm sua história pessoal, convivem com personagens com as quais entrelaçam sua vida, com quem dividem momentos significativos, por mais simples que sejam, tanto estes quanto as pessoas. Cada um de nós é agente de sua própria história, de sua vivência no contexto comunitário. O mundo é uma grande tenda e esta tenda global abriga seres com diferentes raças e costumes. Adaptam-se ao meio em que vivem, assimilam hábitos, agem conforme sua condição cultural. Assim, compreender o outro ser faz parte da condição humana para a sobrevivência, num mundo em que as coisas acontecem em grande velocidade, os conflitos se multiplicam, o entendimento fica cada vez mais difícil. Estou aqui para trazer a todos os presentes um pouco de minha história, que também é parecida com a de cada um das senhoras e senhores.

       Assim, quero saudar a todos os convidados e autoridades mencionadas no protocolo, em especial ao Prefeito Neri Luiz Miqueloto e seus familiares, à Secretária de Educação, Cultura e Desporto, Sirlei Almeida, ao animador do cerimonial, Amarildo Lago e ao prefaciador de meu livro “Crônicas do Vale do Rio do Peixe e outros lugares”, escritor Dr. Alexandre Dittrich Buhr, e a todos os presentes. Ainda, carinhosamente, a todos os meus familiares aqui presentes, à Miriam, à Caroline, à Júlia, aos meus irmãos Hiroito, Iradi e Edimar, cunhadas Lurdes e Isolete, e sobrinhos Graziela ( e Fabiano), Gabriela, Naiana (e Everton) , sobrinho neto Pedro Miguel, genro Daniel Tesser aos primos em todos os graus, e seus agregados. E registrar  que a Michele, (filha), o Fabrício, (filho), a Luana, nora, e o Ângelo (neto), não puderam estar aqui presentes mas, assim como o Vilmar, estão recebendo o  livro com dedicatórias.

       Quantas pessoas passaram pela vida de cada um de nós, deixando-nos bons ou maus exemplos, ensinamentos, lições que nos levam a amadurecer, ganhar energia pela força da experiência vivida, mas sempre nos voltando à memória em dados momentos de nossa existência? Pessoas muito simples, andantes das ruas ou comerciantes estabelecidos com suas lojas físicas, trabalhadores, desportistas, artistas, filósofos, ou mesmo bons pais ou bons filhos. Pessoas que viveram na sua humildade ou outras que ocuparam os cenários televisivos, as matérias nos jornais, nos sites, as reportagens nas revistas...

       Na observação do cotidiano, na áudio-visão dos noticiários, nas milhares de horas de leitura, no banco da praça, na rua com as calçadas defeituosas ou barrentas, na fila do banco ou do posto médico, em todos os lugares, enfim, tomo conhecimento de fatos, aprendo a analisar o comportamento das pessoas, as suas reações diante dos acontecimentos, a alegria e o entusiasmo que estes lhes causam, ou as decepções diante de expectativas frustradas. A vida é assim mesmo, as coisas vão acontecendo, o novo vai substituindo o velho!

       Foi no sentido de dar espaço a pessoas que viveram no anonimato, e a outras muito conhecidas do público,  que coloquei na mesma pista de dança seres das mais diversas origens:  do Pelé à Tia Bena, companheira do Sapeca; do Sinaleira à Doutora Zilda Arns; do Alberi das bombas injetoras ao atleta Urco;  do Padre Albino Baretta ao noviço Guerino Richetti; do Paulo César Caju ao Chascove; da Neve de 1965 à Enchente de 1983; do cineasta Rogério Sganzerla ao escultor Godofredo Thaler; da Nona Ézide à Vó Preta; de Mister Safik a Nelson Sicuro; do Maurício Dambrós ao Edimar Riquetti;  do Pedro Camomila ao Tchule; do Túlio Dassi ao Nando Spessatto; do “Véio Borges”, de  padeiros, de gorros de lã confeccionados por madrinhas, do Monge João Maria, do 38  Smith & Wesson, de José Valdomiro Silva, e de tantos outros, que reuni 43 crônicas, basicamente escritas em 2012, e coloquei todas essas personagens e fatos ligados a elas a se apresentarem no mesmo palco,  em meu livro “Crônicas do Vale do Rio do Peixe e outros lugares”, que estou lançando hoje neste salão de festas do Clube Esportivo Floresta, em Ouro, neste evento da Comissão Central Organizadora das festividades dos 55 anos de emancipação deste município.

Alguns extratos dos textos de minhas crônicas:

Futebol no Céu: ”O Táti olhou tudo, curiosamente, e procurava por algo. Caminhou por entre as árvores e em meio a muitas roseiras e cravos, lavou a cabeçona numa fonte de água, passou a mão nos olhos e, ao abri-los, deparou-se com um monte de conhecidos. Lá estava o Bailarino, com algumas sacolas, cheias de camisas, calções e meias:

Havia as azuis e brancas, da São José; as pretas e amarelas, do Penharol; as verdes e amarelas, do Grêmio Lírio; as brancas e pretas, do Vasco da Gama; e, finalmente, as brancas e vermelhas, do Arabutã. Sentiu-se em casa.”

Em: Lembranças de uma Cidade Bucólica:

          “Muito interessante é que na rua XV de Novembro, na quadra que vai do Bradesco e prédio do Constantino Mência, e até o prédio Sanalma, do Saul Parizotto e o da família de Arlindo Henrique, (o do antigo Hotel Imperial...) havia argolas de aço fixadas ao chão, nos meio-fios, dobráveis ao chão, para que não tropeçássemos nelas, onde se podiam amarrar os animais de montaria, ou mesmo os bois que arrastavam as carroças, ou os animais de puxavam as charretes. Isso para que não fugissem, enquanto seus donos faziam negócios, entregando mercadorias no comércio, bebidas, ou vendendo pão”.

Em Nossa Geração Jovem Guarda:

         “No Padre Anchieta, estudavam somente rapazes, camisa branca e calça azul. E a onda, na época, era ouvir "iê, iê, iê". No ginasial, os rapazes no Anchieta e as garotas no Mater Dolorum. É, não podia misturar menino com menina. E, no primário, quando alguém fazia bagunça, a primeira pena para o menino era ser colocado a sentar-se ao lado de uma menina. (Que humilhação, que vergonha...). E, os casos mais graves, eram levados para terem seu nome registrado no "Livro Negro" (Que medo!...). E diziam que os mais "fortes e disciplinados", iriam assinar o "Livro de Ouro". Nunca vi nem um nem outro, mas acho que existiam, não sei se sob as chaves da Irmã Marinela, da Irmã Fermina, da Irmã Terezinha. Esta, diziam que iria dirigir a caçamba Ford, amarela, comprada para o transporte do material da construção do novo prédio. Mas o motorista acabou sendo, mesmo, o Lóide Viecelli”.  

Em: Neve de 1965 – Uma paisagem europeia:

          “De manhã, meu pai, Guerino, acordou-nos cedo para vermos e espetáculo que se desenhava à nossa frente: Ali onde hoje há o Posto de Combustíveis da Família Dambrós, havia uns gramados e umas plantinhas sobre as terras que eram jogadas para formar um aterro, e tudo estava coberto de neve. A Ponte Nova, de nome Irineu Bornhausen, estava recoberta por um manto alvo, e o mesmo era contemplado nos telhados das casas, a maioria delas de madeira. Até os cabos de aço de sustentação da ponte pênsil acumulavam camadas de neve. As ruas de Ouro e Capinzal pareciam aqueles caminhos que se veem em filmes, numa autêntica paisagem europeia”.   


Em: Caio Zortéa – homenagem ao saudoso amigo:

          “Na Primavera de 1994, Caio coloca uma placa num terreno dos Miqueloto, bem defronte a minha casa, no Ouro, com a seguinte frase: "Vera, Tibi, Deka, Manu e Greta - amo vocês mais do que ontem e menos do que amanhã!  E, no primeiro dia do Verão, o acidente. 

          Recordo-me de que eu estava na Coordenadoria Regional de  Educação, em Joaçaba, conversando com o Professor Sérgio Durigon, quando entrou um telefonema, do Valcir Moretto, dizendo-me que o Caio estava no Hospital São Miguel, ali pertinho, mas nada mais havia a fazer, tinha se acidentado e perdido a vida. Foi de cortar o coração! Ficamos muito chocados, abalados. E, em seguida, toda aquela sequência triste, com o corpo levado para sua casa, em Ouro,  e depois para o Ginásio Municipal de Esportes André Colombo, e para a definitiva morada ao lado da bela mãe, em Capinzal...”

       Escrever faz parte de minha vida com minha família, com as pessoas com quem convivi, com os fatos que presenciei e o que eu registrei em minha memória. Agora, deixo em livro minhas impressões sobre a vida de pessoas de diversos níveis sociais e intelectuais. Você está convidado a conhecer uma pequena parte de minha história, que poderá ter sido também parte da sua. Está convidar a ler e a contar minhas histórias e seus amigos. As histórias em que procuro eternizar pessoas e cenários que descrevo em “Crônicas do Vale do Rio do Peixe e outros lugares”!

      (A publicação de meu livro teve a participação direta de minha família, a quem eu quero agradecer. Em especial, agradecimentos à Michele Riquetti Tesser pela coordenação da publicação. À Vanessa Schultz pela diagramação, capa e arte final, ao Kléberson Brocardo pela fotografia, ao Dr. Alexandre por aceitar escrever o prefácio, ao Alvarito Baratieri, pela catalogação gráfica, à Gráfica Blumen, pela impressão dos volumes.)

Obrigado ao Prefeito Neri Miqueloto, à Secretária Sirlei Almeida e sua equipe,  e ao Alex Sandro Silva pelo apoio ao lançamento de meu livro, ao Amarildo Lago pela condução do cerimonial, e a todas as senhoras e senhores, por terem vindo e dividirem comigo e com minha família toda a alegria e a magia deste evento.

Euclides Riquetti – autor – 12-04-2019

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