O avanço da
contaminação pelo novo coronavírus no Brasil e em outros países da América do
Sul é menor do que a havida na China, Itália, França, Espanha e outros países.
Verifica-se que na Indonésia e na Austrália o avanço se deu no mesmo ritmo do
havido por aqui e há uma razão científica para isso: No hemisfério sul,
estávamos no verão e estamos entrando no outono e, com o calor, a propagação do
vírus é bem menor.
Os índices de
letalidade, por aqui, causam muita preocupação em São Paulo, epicentro da
pandemia no Brasil. Nos outros estados, o índice é menor. Em Santa Catarina, os
percentuais ficam em menos de metade do que em São Paulo, pois perdemos apenas
duas pessoas até este dia 31 de março de 2020, felizmente.
Tem sido vergonhoso o
comportamento da classe política no Brasil, principalmente em Brasília e São
Paulo. Há culpados por estarmos enfrentando tal situação no Brasil? Certamente
que ninguém busca desgraça para si voluntariamente. Mas, se quando ainda
considerada apenas uma epidemia na China, alguém tomasse alguma providência no
Brasil, como, por exemplo, o cancelamento do carnaval, seria perdoado ou
trucidado naquele momento?
A ocorrência
que levou o Brasil a entrar em Estado de Calamidade Pública nos mostra o quanto
a saúde tem sido apenas pauta de discursos na época das eleições e depois
acabamos ficando com menos do que o básico. Dizem os cientistas que somente
quando 70 % da população brasileira estiver portando o vírus, e criado
anticorpos para sua autodefesa, é que a situação se normalizará. Discute-se se
devem ser tomadas as medidas de quarentena vertical ou horizontal e não se tem
uma conclusão. Invoca-se, por um lado, as recomendações da OMS. Por outro, há
quem defenda que a atividade econômica seja retomada, pois poderá haver falta
de comida logo ali.
Os recursos
para o SUS sempre foram vergonhosos. O repasse aos hospitais filantrópicos e
outros prestadores de serviços ao SUS ficaram com valores sempre abaixo do
próprio custo aos que prestam atendimento ao público. O SUS é um dos melhores
sistemas de saúde do mundo. Mas, em vez de investir em melhorar os hospitais e
acabar as construções paradas, investiu-se em construir estádios para a
malfadada Copa do Mundo e para as Olimpíadas do Rio de Janeiro. Muita gente que
está bradando bobagens na televisão já esqueceu que foram eles mesmos que
quebraram o Brasil e que investiram errado, oportunizando, ainda, que muito
dinheiro fosse roubado ou mal empregado.
Nós estamos
acostumados a viver no mundo da fantasia. O futebol, por exemplo, nos cega.
Enquanto uns ganham fortunas jogando futebol ou apresentando-se como
"artistas", a grande maioria mora em lugares sub-habitáveis. A crise
vai fazer com que voltemos à realidade. A que abramos os olhos e vejamos o que,
realmente, é importante ou o que é supérfluo. Nunca o provérbio socratiano
"In medio virtus" esteve tão em alta.
O comportamento
de um grande número de jornalistas da Tv é simplesmente ridículo. Falam
bobagem, ironias e desdenham. Vi uma que “se acha” enfatizar que houve falta de
vacinas para a H1N1. Não sabe ela que o Instituto Butantã tem batido recordes
na produção das vacinas, mas que houve a antecipação da data da campanha de
vacinação, justamente para diminuir a "confusão" e as dúvidas que
aumentariam para a identificação que qual doença estaria acometendo os
pacientes. O oportunismo, por outro lado, no meio político, é vergonhoso, tanto
de esquerda como de direita, passando pelo "meio".
A proposição de
medidas precisa ser conjunta e definida com alguns critérios. A retomada
da atividade produtiva pode ser programada considerando não a essencialidade
agora considerada, mas também o mapa dos casos de contaminação já constatados.
Em Santa Catarina, por exemplo, temos uma grande concentração no litoral. Na
Serra, um caso comprovado em Lages, 5 em Chapecó e um em São Lourenço do Oeste.
E temos mais de 100 municípios em que podem haver suspeitos. Dentro desse
prisma, ,imagino que as medidas para cada cidade sejam específicas.
Hoje,
terça-feira, tive que ir ao Banco porque não havia como outra pessoa fazer o
que eu precisava por mim mesmo. E passei numa farmácia. Tomei todas as
precauções possíveis. Mas os atendentes da farmácia, onde procurei por máscara
de proteção, não tinham nem mesmo para eles. Então, fico me perguntado:
"Qual a diferença de um trabalhador que atua numa produtora de alimentos e
uma metalúrgica?" Então, imagino que as normas precisam ser revistas,
todos os cuidados tomados, e quem possa produzir, que produza.
Na área rural,
onde há forte atividade agropecuária, aqui em Santa Catarina, há perdas por
causa da estiagem. Em algumas cidades, há o racionamento de água para o consumo
humano, embora ainda não tenha faltado e se espera por chuvas em 3 dias. Então,
precisamos da convergência de ideias e da inteligência. Buscar planos para a
retomada de atividades que possibilitem que as pessoas tenham renda ou que
consigam pagar seus tributos para que o governo tenha dinheiro para ajudar
alguns setores que serão os mais atingidos. É quase que certo de que algumas coisas que
importavam até a época do carnaval passem não mais importar. Estamos
caindo na real!
Euclides Riquetti – escritor – publicado no Jornal Cidadela - Joaçaba SC
03-04-2020
03-04-2020
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