domingo, 6 de dezembro de 2020

O que se espera dos prefeitos eleitos?


Joaçaba - SC 


       No domingo, 29, aconteceram as eleições em 57 cidades brasileiras onde houve a necessidade legal de realização de um segundo turno para se elegerem prefeitos e seus respectivos vices. Os candidatos de centro levaram os grandes resultados, inclusive com vitórias em São Paulo e Rio de Janeiro. Se levássemos em conta o passado dos partidos, poderíamos até dizer que o PSDB, que reelegeu Bruno Covas, em São Paulo, pela sua origem, o antigo PMDB, sucessor e predecessor do MDB, seria um partido de centro-esquerda. E o DEM, que elegeu Eduardo Paes, no Rio de janeiro, para um terceiro mandato, também pela sua origem, seria um partido de centro-direita, originário do antigo PDS, sucessor da Arena.

       O MDB comandava 1.055 prefeitura, perdeu 251 e comandará 784, sendo o partido que mais municípios governará; o PP  685 e o PSD 654. E, em meio a isso tudo, temos um bem-sucedido centrão, composto por PP (o legítimo herdeiro do PDS), PSD (oriundo, como o DEM, do antigo PFL), PL, PTB, Republicanos, Solidariedade, PSC, Avante, Patriota, e PROS, os quais reúnem políticos vindos de “tudo o que é lado”, mas a maioria da direita histórica, com doses homéricas de fisiologismo. O Centrão governará 45% das cidades brasileiras. O PSDB vai governar para 34 milhões de pessoas; o MDB para 26 milhões; o DEM para 25,5 milhões. Neste segundo turno, o PT participou em 11 cidades e só conseguiu eleger 4 prefeitos. Nenhum prefeito em capitais. O centro, se bem articulado, elege com facilidade o próximo Presidente da República.

       No cenário todo, vimos que os institutos de pesquisas erraram de longe, passando vergonha em alguns lugares. A diferença que era apontada em São Paulo entre Covas e Boulos foi maior em favor do candidato do PSDB. Erraram bem ao ficarem em cima do muro em Porto Alegre e Recife. No Ceará, passaram vergonha, embora o eleito tenha sido o favorito nas pesquisas, mas com um resultado bem aquém do esperado. Para uma eleição em São Paulo, com mais de 5 milhões de eleitores, entrevistam a mesma quantia de pessoas que o fazem em médias e pequenas cidades. Uma amostragem, para ser próximo do real, precisava buscar a opinião de muito mais entrevistados porque o universo é bem maior.

       A leitura dos resultados nos mostra que Bolsonaro, Dória e Lula não empolgam mais ninguém. Dória fez discurso vangloriando-se de ter promovido a reeleição de Bruno Covas em São Paulo, o que mostra que é um arrogante. Todos sabem que o sobrenome Covas, como foi o de Franco Montoro, são fortes em São Paulo, berço da Social Democracia Brasileira. E que Dória foi um oportunista que se aproveitou das desgraças de FHC, Alkmin, Serra e Aécio Neves para chegar ao Governo de São Paulo. Já na segunda, armou mais confusão com atitudes desastradas e demagógicas em relação à pandemia em seu estado, quanto às faixas de classificação dos riscos da Covid.  Bolsonaro é um desastre político, que não sabe usar as coisas boas que faz, desafiando a inteligência do ser humano. Como presidente, age como um vereador encrenqueiro.

       A esquerda foi bem representada por Guilherme Boulos, que mostrou ser mais forte e articulado do que qualquer outro político da esquerda brasileira. Tem argumentos fortes, é intelectualmente bem preparado, inteligente e respeitoso, pois antes mesmo do final da apuração das urnas de São Paulo, telefonou a Covas reconhecendo a vitória deste e parabenizando-o. Com um discurso moderado, plantou agora para colher no futuro.

       Agora, o compromisso dos prefeitos eleitos e dos reeleitos é atender às expectativas dos que lhes confiaram a força de seus votos. As cidades têm problemas estruturais que precisam ser vistos e solucionados. A educação precisa ser gerida com liderança forte e não conta apenas o discurso dos gestores e as estatísticas. A ação educativa precisa estar articulada com o social e o humano. Não é a questão de colocar mais ou menos dinheiro na parada, mas sim de ter programas que deem resultado em níveis de aprendizado e em melhoria do padrão social do cidadão. Entraves ao desenvolvimento precisam ser extirpados da administração pública. Governantes precisam ser bem assessorados, precisam de planejamento claro e exequível, ótimo nível de organização, clareza e severidade no comando e, quando precisam dar um soco na mesa, devem fazê-lo sem nenhum receio. O regime político no Brasil não é o Parlamentarista, os assessores têm que compreender e respeitar o comando, sem fazer coisas ilegais. Então, agora, mão à obra. Temos menos de um mês para o início dos novos mandatos. Que é marinheiro velho, já sabe onde não pode mais errar. E quem vem em primeira viagem, precisa ter muitos ouvidos para ouvir e filtros bons e limpos para perceber o que é útil e o que é inútil naquilo que lhes chega.

Euclides Riquetti – Escritor –

Publicação no Jornal Cidadela -

Joaçaba - SC- 27-12-2020

 

      

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