domingo, 30 de janeiro de 2022

Tenor Jean William - o jovem cantor lírico brasileiro sofre abordagem policial agressiva

 



       Alguns noticiosos da televisão brasileira reportaram, na semana, sobre uma abordagem inadequada de um policial a um jovem negro, que fazia, com seu carro, a travessia, em balsa, do trecho entre Santos e Guarujá, no litoral paulista. Trata-se Jean William, 36 anos, um cantor lírico, que foi menino prodígio, natural de Barreira, no interior de São Paulo. Ele e um amigo combinaram de passar o dia na praia de Guarujá. Já estava com o seu carro estacionado na barca, quando um policial militar do Estado de São Paulo lhe apontou uma arma. 

       O policial , que estava acompanhado de outros três colegas de farda, queria saber se o carro de luxo que ele dirigia lhe pertencia e se estava trrnasportando drogas em seu inteior e se fora preso alguma vez. Jean e o amigo desceram do carro, levantaram os braços,  e não esboçaram nenhum movimento que pudesse estimular alguma reação pelo policial. A equipe policial revistou o veículo e só encontrou duas cadeiras de praia no porta malas. Revisando os documentos, ao saberem que um era cantor lírico e o outro farmacêutico, mudaram de atitude e passaram a tratá-los com certa normalidade. 

       Está muito claro que ele foi abordado daquela maneira porque ele é um homem de cor negra! E, ao contrário de muitos que se vitimizam, ele manteve sua postura elegante, clássica, e depois comunicou à Corregedoria da Polícia Paulista o que lhe sucedeu. 

       Jean William trabalha com o maestro João Carlos Martins brasileiro de renome internacional. Sua história de vida é muito bonita. Mas QUEM É JEAN WILIAM? 




       A plataforma Alumni, da USP, que faz menção a ex alunos daquela universidade, traz um texto em que grande parte de sua biografia é revelada:

       "De origem humilde, criado pelos avós em uma pequena cidade no interior de São Paulo, Jean William estudou sempre em escolas públicas. Desde pequeno adorava cantar, principalmente acompanhado pela melodia de seu avô, que aprendeu a tocar instrumentos como o violão de maneira autodidata. Ainda adolescente, passou a chamar atenção de algumas professoras que o incentivaram e ofereceram aulas de canto. Até que em 2004 conseguiu ser aprovado para o curso de Música, com habilitação em canto lírico, na USP Ribeirão Preto (atualmente, Música é um departamento da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, FFCLRP-USP, mas na época de sua formação, 2009, era vinculado à Escola de Comunicações e Artes, ECA-USP). Hoje atua como tenor em diversas apresentações, inclusive pela Europa. Conheça sua história.

       Com uma população de aproximadamente 30 mil pessoas, a cidade de Barrinha, onde viveu e cresceu, não contava com um hospital público à época de seu nascimento. Portanto sua mãe teve que ir até a limítrofe cidade de Sertãozinho para dar à luz. Criado pelos avós maternos, foi por conta de seu avô que se deram seus primeiros contatos com música. Seu Joaquim tocava estilos como chorinho e música de raiz, enquanto Jean aproveitava para cultivar essa convivência para cantar enquanto ele tocava o instrumento. Começou a ser conhecido na região como “o menino que canta”, porque, conforme relembrou em entrevista conosco, “eu subia no telhado de casa, ficava olhando pro céu e cantava, então as pessoas escutavam”. Não demorou para o menino passar a fazer apresentações, as primeiras foram na Igreja católica da região.

       Na adolescência surgiu o interesse pelo rock. Montou uma banda em que foi, claro, o vocalista, e tocavam em bares da região. Nessa fase da vida participou de um concurso de música, em que o premiado ganhava um curso de canto lírico. Foi assim que, ao sair vencedor, conheceu uma professora. Como a família de Jean não teria condições de pagar um curso de canto popular e a professora não poderia ajudá-lo com o rock, o recém-chegado estudante disse para ela que “sabia imitar o Pavarotti”. Ela riu achando que era brincadeira, mas ao imitar o tenor ela pôde ver seu potencial para o canto lírico, e assim começaram a trabalhar a técnica vocal.

       Assim Jean fez sua primeira apresentação após alguns meses de estudo para aprimorar sua técnica vocal. Foi em um simpósio de educação, ao se apresentar com a canção “Con Te Partirò” que chamou atenção de outra professora, chamada Julia, que o abordou e fez uma comparação com o cantor Enrico Caruso. Jean brinca, em nossa conversa, que ela praticamente o adotou, investindo em aulas de teoria musical, de línguas etc. Nessa época ele também se preparou para o vestibular na USP Ribeirão, para estudar o canto lírico. Nessa altura da conversa já estava óbvia sua preferência por cantar, mas ao ser perguntado sobre suas habilidades com instrumentos, Jean conta que aprendeu alguns instrumentos de ouvido com o avô, como violão e piano. Hoje domina a leitura de partituras." 

      Descoberto pelo renomado maestro João Carlos Martins,Jean já se apresentou nos Estados Unidos, na Europa e na Índia. No Brasil, cantou para o Papa Francisco na Jornada Mundial  da Juventude. Pesquise no google e você, leitor, verá a qualidade das entrevistas e apresentações dele. Nós precisamos valorizar quem tem valor, quem luta, obstinadamente, para ter um lugar ao sol. E não podemos imaginar que uma pessoa, só pela sua raça, seja diferente das outras. Todas as pessoas muito me importam!

Euclides Celito Riquetti

30-01-2021


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