quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Décima Sétima Crônica do Antigamente

Mais reprise porque me faz bem lembrar...
          Adoro lembrar de coisas de antigamente, minha infância, adolescência e juventude.

           Ontem, pela manhã, ao chegar em Ouro, em frente à antiga Sorveteria Vó Mirian, hoje Sorveteria do Grezele, encontrei o Sinaleira. Ele me olhou, limpou duas vezes a mão direita  nas pernas de suas calças e estendeu-ma. Estendi-lhe a minha, apertei a sua e falei: "Não precisa limpar sua mão para me cumprimentar. Você não me conhece?" Ele olhou-me, reolhou-me, mediu-me, iu-me, iu-me, iu-me e, depois lascou: "Não lembro de você!".

          Bem, eu encontro o sinaleira seguidamente em Joaçaba, andando nas ruas centrais. Nem sei se ele me vê, mas eu o vejo. Ontem, disse que queria um "particular" comigo, queria R$ 1,00 emprestado. Dei-lhe R$ 5,00, não para gastar naquilo que é acostumado, mas para que comprasse comida. Ele disse que gastaria R$ 4,00 em comida e o outro reaal para aquela finalidade a que me pedira emprtestado. Eu não incentivo o consumo de bebida alcóolica, pois perdi muitos amigos e alguns familiares por causa dela e do cigarro. E censurei-o por ter limpado a mão para estender-me. A um amigo, dá-se a mão em qualquer circuntância e eu tive muito prazer e alegria em ter sido cumprimentado por ele.

         Mas, voltando ao Sinaleira, que encontrei bem em frente à sinaleira da Felip Schmidt,  na esquina com a Professor Guerino Riquetti, mais conhecida como a Esquina do Posto Esso (que já não é Esso, é Shell, mas que vai continuar a ser Esso por uma questão de hábito mental e linguístico, e que para alguns é Posto Dambrós), falei-lhe que eu o conhecia bem, que ele  era irmão do Lauro, e do falecido Castelinho.  Perguntei-lhe se ele conhecia o "Pisca" e ele disse-me que o Pisca era ele mesmo. Respondi-lhe: "O Pisca era eu, você era o Sinaleira!. Lembrei-lhe de que jogávamos bolicas (que muitos de  vocês chamam de bolinhas de gude),  ali,  ao lado da casa do Adelino Casara, em Capinzal, num terreno bom, plano, com sombra de laranjeira e tudo. E ele lembrou-se de mim...

          Ser antigo, já escrevi, me permite lembrar mais, curtir mais, navegar mais num passado mais longo do que o de muitos de meus leitores, que têm a vantagem de estarem com menos idade. Mas, hoje pela manhã, ao vir de Joaçaba dirigindo, calmamente, até meu trabalho, comecei a lembrar-me de amigos que tínhamos na época e que, por serem de cor diferente da minha, alguns achavam que eu não deveria misturar-me com eles. Quando saí do Juvenil do Arabutã e fui jogar no "Time dos Engraxates", passei a ser meio rejeitado por algumas pessoas, que achavam  que aquilo era demérito. Mas, lá, convivi com muitos que já se foram e que foram meus companheiros. Tinha o Pelé, filho do Caetano, que fazia panca; o Ferrugem, que só queria jogar com a 10, mas o Pelé queria para ele.O Castelinho,  só conseguia jogar bolicas, mas nada de futebol. Lembrei-me do Chuchu, craque que só jogava bem com os pés descalços, e morreu num incêndio em Piratuba; o  Thclule, que jogava bem e tocava bateria nos Fraudsom... e todos eles já foram para o céu.

          Mas conheci também muitas pessoas que já eram adultas na época, até idosos: A Tia Bena, mulher do Sapeca; a Nega Júlia, que diziam ter sido escrava e tinha mais de 100 anos; o João Maria, que queimava a barba com o fogo do isqueiro pra não precisar cortar; o Zé de Amargá, que foi pioneiro no Navegantes, trabalhou no pesado até o fim da vida, e dizia que comia carne e verdura pra ter energia pra trabalhar bastante; o Sebastião Félix da Rosa, conhecido como "Velho Borges" e "Champanhe", que morreu sentado embaixo de uma árvore, no Navegantes, e que filosofava: "Não cai uma folha de uma laranjeira sem que Deus queira"; seus filho João, Dário e Mário, este último que passou a maior parte de sua vida usando camisa do Arabutã, e vinha em minha casa de madrugada, para saber como estavam as "geminhas", minhas filhas Michele e Caroline; a Dona Júlia, que benzia as pessoas para que não ficasse doentes e que viveu seus últimos dias lá no Alvorada, vizinha das irmãs Clementina e Jurema, todas já idas lá pra cima, juntamente com a Patroa do Pedro Lima. Todos esses amigos foram pro céu, tenho muitas boas lembranças deles.

          Os tempos mudaram. Agora, as oportunidades que o Sinaleira não aproveitou, continuam a existir para quem quiser aproveitar. Há boas escolas públicas, transporte gratuito, apoio dos órgãos públicos para quem quiser estudar e poder buscar um caminho talvez que não traga mais felicidade, mas melhor   padrão de vida.  Só não estuda quem não quer. Mas, o Poder Público precisa oferecer ao cidadão aquilo que a familha muitas vezes não lhe oderece: proteção social.

          Então, posso dizer que tenho muito orgulho em ter sido amigo dessas pessoas todas. E que o Sinaleira continua sendo tão admirado quanto admiro a Thaís Araújo, a Maria da Penha da novela das 19 horas na Globo.


Euclides Riquetti
18-05-2012

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