sexta-feira, 9 de outubro de 2015

As tragédias do Poço do Zucchello ( a perda de Luan, Ângelo e Marcelo Ricardo)

          O "Poço do Zucchello", localizado em Ouro, no Rio do Peixe, que o separa de Capinzal, está localizado a aproximadamente 4 Km ao sul da área central das cidades. O nome deve-se a que terras próximas do local pertenciam, nos primeiros anos da existência do Distrito de Ouro, à família Zucchelo. Ali também residiam as famílias Parizotto e Scopel, bem como funcionava o "chiqueirão" de Severino Baretta, conhecido como Silvério, primo de meu avô Victório. O Poço do Zucchello é um gigante adormecido e, quando acorda, pode ceifar vidas que não conhecem os perigos que ele representa.

         No último sábado, ao final da tarde, pode ter protagonizado a tragédia que vitimou os jovens Ângelo Cesar Luiz Ferreira (23), cujo corpo foi encontrado na manhã de terça, 06;  Marcelo Ricardo Costa Silva (22), localizado começo da manhã de quarta-feira; e Luan dos Santos (18), cujo corpo foi encontrado nesta quinta-feira, 08, todos nas margens do Rio do Peixe, em Ouro, cidade da qual eram moradores, residentes no Bairro Kleinubing.

          As pessoas que não conhecem o comportamento traiçoeiro de suas águas e o frequentam para pesca ou banho não sabem do alto risco que correm. Sempre que as águas têm elevação de seu nível, forma-se, no dito poço, um redemoinho, um movimento rotatório das águas. E, no meu leigo entender, acredito que isso se deva a duas razões: a) o rio tem baixo nível desde as imediações da ponte pênsil Padre Mathias Michelizza, bem como abaixo do citado poço e, quando as águas atingem o local, que tem mais do que 20 metros de profundidade e pode chegar a mais de 30 quando das enchentes, mudam seu comportamento. b) o poço está localizado na curva do rio. Ao meu ver, a conjugação destes dois fatores é que ocasiona o violento redemoinho.

         Nossa geração, que foi criada nas barrancas do Rio do Peixe, conhece razoavelmente os pontos perigosos do mesmo na região de Capinzal e Ouro. Há um poço muito perigoso na parte Norte do Parque e Jardim Ouro, outro não muito profundo, mas também perigoso,  logo abaixo da ilha; ainda um semelhante pouco acima da ponte pênsil; pelo menos dois poços nas imediações de Linha Bonita e Maziero, e o afamado e perigoso Poço do Zucchello. Em todos eles já tivemos vitimas de pessoas amigas ou conhecidas, por afogamento. Acompanho os tristes acontecimentos nas últimas 5 décadas.

         Os pescadores conhecem muito bem o potencial de perigo do rio. Domingos Antônio Boff, que foi prefeito em Ouro por duas vezes,´além de grande conhecedor do comportamento do Rio do Peixe, quando ainda não existiam os bombeiros na cidade, era chamado a localizar corpos. Fazia isso com maestria. Inclusive, uma vez, foi chamado a localizar o corpo de um rapaz, da família Riguel, que foi meu aluno, e que morreu no Rio Pelotas quando fez a travessia do rio por uma balsa ali existente.

           No Poço do Zucchello, o mínimo que uma pessoa deve fazer, mesmo que exímio nadador, deve estar utilizando colete salva-vidas. E ainda assim, se o rio estiver com nível elevado, há sérios riscos de acidente. Há uns cinco anos, um familiar meu e amigos, descendo pelo Rio do Peixe num barco inflável, numa aventura perigosa em razão do alto nível e correnteza das águas, E foram tragados pelo redemoinho do Poço do Zucchello. Estavam com coletes salva-vidas e, mesmo assim, não se tivessem agarrado às cordas do barco, que girou por tempo considerável dentro do redemoinho, sendo, depois, expelidos. Abaixo do poço, abandonaram o barco que se foi e, estando com coletes, conseguiram salvar-se.

          Então, sempre que converso com frequentadores do rio, recomendo muita cautela. Mais do que saberem nadar, devem ter o cuidado de utilizarem os coletes quando saem em embarcações. Ainda assim, é necessário ter um bom conhecimento sobre o comportamento de suas águas por ocasião das cheias.

         É muito lamentável o que aconteceu com os rapazes no último sábado. Que sejam felizes na eternidade e que Deus conforte as famílias que os perderam.

Euclides Riquetti
09-10-2015

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