quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Ginásio padre Anchieta (Capinzal-SC) - uma escola de feras


          Estudei no Ginásio Padre Anchieta, em Capinzal, nas suas duas primeiras séries, em 1965 e 1966. Funcionava no período da manhã. Meu irmão mais velho, Ironi, também fizera as duas primeiras séries lá. Depois transferiu-se para o Juçá Barbosa Callado, mas não deu sequência aos estudos. Fui para o Juçá em 67 e 68, onde concluí meu ginásio.

          No Padre Anchieta tínhamos um Diretor muito enérgico, Giovani Tolu, nosso saudoso Frei Gilberto. Era natural da Itália, lecionava Matemática e Ciências. Conhecia de tudo, até Engenheiro prático era. Fez a planta de nosso sobradão. Construiu o prédio onde funciona a Casa da Fé, que na época comportava nosso Colégio. Na entrada principal, há arcos de concreto armado, estilo da arquitetura romana. Eles utilizaram taquaras e bambus para moldar e sustentar a estrutura de concreto, no tempo de que não se dispunha de ferro de construção à vontade. Madeiras foram usadas com múltiplas finalidades, antigamente, Disse-me o Hélio Bazzo, meu dentista, que os primeiros pinos para a implantação dos pivôs dentários foram feitos com madeiras. Também tínhamos  as professoras,  excelentes educadoras: Dona Vanda Meyer, de Inglês  e Desenho; Waldomira Zortéa, de  Geografia; Vanda Bazzo, de Português; Lorena Moraes, de História.

          No Anchieta, sob a responsabilidade dos padres, funcionava o Ginásio para os meninos. À noite, no prédio, havia a Escola Técnica de Comércio de Capinzal, que depois mudou o nome para Colégio Capinzalense Flor do Vale e, adiante, Colégio Cenecista Padre Anchieta. Formava Técnicos em Contabilidade. Fiz parte da turma de 1971. As garotas não podiam estudar nas mesmas escolas que os meninos. Então, estudavam seu Ginásio no Colégio Mater Dolórum, controlado pelas irmãs da Congregação Servas de Maria Reparadoras.  Sem meninos junto. Pela manhã, ali funcionava a Escola Normal Mater Dolórum, que formava professoras. Meu pai formou-se professor em 1963. Era o Bendito Fruto entre as Mulheres.

          Questões de moral e de religião ensejavam essa separação dos alunos naquela época.  Somente mais tarde, com o fechamento do Ginásio Padre Anchieta,   meninos e meninas passaram a fazer seu segundo ciclo secundário no Mater, na mesma escola, na mesma sala de aula. Funcionava o curso Científico ali. Havia um conceito, na região, de que o científico era melhor que os cursos profissionalizantes, pois prparava as pessoas para o vestibular. De fato, alguns professores originários da própria região, que haviam estudado fora e retornado, passaram a lecionar no novo curso. Dessa forma, ocorreu uma leve mudança de comportamento com relação a estudar fora, sendo que alunos faziam as duas primeiras séries na cidade e depois iam para Curitiba para o Terceirão.

          Na verdade, o ensino em Ouro e Capinzal era de alto nível. Poucos professores tinham curso superior na área da Educação, mas havia ótimos autodidatas  na cidade. Os profissionais de Odontologia e Medicina se ocupavam das área biológicas. Os de Engenharia eram bons em Matemática e Física. Os funcionários do Banco do Brasil iam bem nas exatas. Advogados davam sua contribuição em Historia e Geografia. Ex-seminaristas que voltavam para casa atuavam nas áreas humanas. E, assim, conseguíamos ter uma boa base de formação para que, depois, as pessoas fossem cursar o Ensino Superior em outras cidades, principalmente nas capitais.

          Os egressos do Padre Anchieta espalharam-se pelo Brasil. Um dos destinos muito efetivo para a continuidade foi Ponta Grossa. Nas décadas de 1960 e 1970 dezenas de capinzalenses e ourenses foram para ali. Dizem que a formação em nível técnico,  no Colégio Augusto Ribas, equivalente ao atual Ensino Médio, na área da agropecuária, aproximava-se ao nível dos crusos superiores da área atuais. Oportunamente, vou abordar sobre os muitos amigos que fopram ali estudar. Por conta disso, vários deles acabaram fixando residência naquela cidade e região paranaense.

          A geração que fez seus estudos em Capinzal nessas duas décadas que se espalhou pelos quatro cantos do Brasil foi muito determinada. Os pais investiram nos filhos porque já acreditavam que o conhecimento era o melhor caminho para sua autonomia. E foram participando dos vestibulares, cursando faculdades e seguindo em frente, alguns galgando a privilegiada condição de pós-doutores. Hoje, quando recebo e-mails, telefonemas ou mesmo reencontro meus contemporâneos, sinto muito orgulho, minha estima sobe. Numa época em que não tínhamos facilidades em comunicações e  nossas cidades só conheciam asfalto através dos documenbtários que precediam as sessões de cinema no Cine Farroupilha ou no Cine Glória, nossos jovens tiveram a coragem de sair de casa para construir sua autonomia. E continuam, agora os filhos e netos de nossa geração, deslocanbdo-se para os mais distintoss lugares do globo, mas sempre  representando bem seu  lugar de origem.

Euclides Riquetti

4 comentários:

  1. Riquetti, tenho sistematicamente lido teu blog, e muito me encanta a forma como você trata os vários assuntos e personagens que formaram, ao longo, vamos dizer das últimas seis décadas, apesar que teus comentários abrangem um período muito maior.
    Eu também estudei no glorioso Ginásio Padre Anchieta, desde o quinto ano, de 1964 até 1968 quando conclui o ginasial.
    Diferente de ti, que saiu quando a situação do frei Gilberto tomava um outro rumo, eu continuei sob a batuta do frei Frigo, professor de historia, com o qual tive alguns problemas, recebendo inclusive um ZERO numa prova de história, por discordar de suas idéias quando o mesmo falava sobre Reforma e Contra-reforma: comportamento digno de um Torquemada, além de me zerar ameaçou me dar uma surra. Mais tarde nos encontramos no Seminário dos Capuchinos em Irati (1972) e conversamos alegremente. Apesar das nossas rusgas eu o admiro muito.
    Então, concluído o ginásio, embarcamos eu e mais onze dos formandos de 68 para o Colégio Agrícola Augusto Ribas, que como você diz, dava um ensino de boa qualidade, tanto que dos doze egressos do Anchieta em 69, quatro reprovaram no primeiro ano. A coisa era séria, como se diz e por isso quem saía formado ali tinha uma base segura para continuar os estudos ou mesmo encarar o vida profissional como técnico.
    Para mim, é uma alegria poder compartilhar dos teus textos que gostosamente, na maioria deles, posso me incluir.
    Temos muito mais em comum do que você possa imaginar,desde as tuas histórias do Leonzinho, Linha Bonita, etc, etc,
    Um dia quem sabe cruzamos por aí. Tomara...
    Um grande abraço

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    1. Fiquei muito curioso! Mas vou deixar para perguntar quem você é mais adiante. Quem sabe possa dar outras pistas. Obrigado por prestigiar meu blog, que uma das minhas ocupações atualmente. Abração!

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  2. Olha poeta, vou te dar mais algumas pistas para ver se consegues matar a charada:.. tá bom esse jogo!
    1. Dos 12 formandos do Anchieta que ingressaram no Augusto Ribas de Ponta Grossa, em 69, alguns já morreram, caso do Ezio, Vitalino... Dos remanescentes um está aí em Capinzal.
    2. Meu pai nasceu no Leonzinho e é sobrinho bom de Joanim Frank.
    3.Eu e minha irmã fizemos nossa primeira comunhão na igreja da Linha Bonita, sob os cuidados de Joaquim Casara.
    4. Ambos somos Vascaínos, Graças a Deus. Acho essa muito importante!
    Bom, imagino que agora ficou mais fácil.
    Um gd abço

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  3. Verdade. O Ginásio Padre Anchieta foi um excelente formador de feras. Dedicação, disciplina. Tive até disciplina de francês. Conclui em 1968.

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Amigos, peço-lhes a gentileza de assinar os comentários que fazem. Isso me permite saber a quem dirigir as respostas, ok? Obrigado!