segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Aventuras nos Aparados da Serra - primeira parte

          Estivemos, de sexta a domingo, numa excursão para a cidade balneária de Torres, na divisa do Rio Grande do Sul com Santa Catarina. Sempre tive curiosidade em conhecer a região litorânea dos cânions, na divisa dos dois estados, onde se situam verdadeiros santuários ecológicos. No sábado,  pela manhã,  tomamos a BR 101 e nos dirigimos à cidade de Praia Grande, em Santa Catarina. Subimos, em ônibus, em direção ao desfiladeiro Itaimbezinho, na divisa desse município com o de gaúcho de Cambará do Sul. Uma aventura deslumbrante que aqui descreverei. Tivemos a ação de três guias turísticos: Natália, uma paulista radicada em Florianópolis, que nos acompanhou de Joaçaba até o local em "ida e frida". Para nós, aqui, "ida e frida" nos significa "ida e volta".

           A partir do hotel SESC de Torres, contamos também com o guia Geraldo Medeiros de Lima, também chamado de "Augustinho", pois é um verdadeiro clone do personagem que fez muito sucesso em "A Grande Família", em que era marido da personagem Bebel, da atriz Guta Stresser.  Muito competente em seu trabalho, com formação em Oceanografia e Biologia, professor, deixou-nos grandes ensinamentos. Descobri que é amigão do meu amigo geólogo Jorge Augusto da Silva, de Torres, que agora mora em Ouro e com quem desenvolvemos projetos na área de saneamento ambiental. Entendíamo-nos "por música". E, a partir da Praia Grande, entrou em ação outro guia, o Leonardo, (Léo), que reúne conhecimentos específicos dos cânions daquela região.

          O Cânion do Itaimbezinho se localiza no parque Aparados da Serra e sua extensão tem aproximadamente 5.800 metros e a largura máxima chega aos 2000 metros. É composto por rochas basálticas, com paredes de até 720 metros de altura, cobertas por uma vegetação baixa e pinheiros nativos. As formações rochosas montam de pelo menos 130 milhões de anos. As montanhas, ali, parecem terem sido aparadas, com a formação de platôs planos bem no alto, daí o nome "Aparados".
O nome do cânion vem do Tupi-Guarani, significando "pedra afiada".

          Nossa incursão pelos cânions foi uma verdadeira aventura. Imaginem caminhos quase que parecidos com os da Serra do Rio Rastro, em Bom Jardim da Serra. Porém, sem pavimentação! Estrada de terra batida, cascalhada com macadame, mas com pontos vulneráveis, onde um ônibus leva 60 minutos para subir ou então para descer cerca de 20 Km. Não raro, na descida, o veículo é conduzido a 5 ou 10 Km por hora, por questões de segurança.

         Abastecemo-nos com água num Café Colonial, antes de o ônibus iniciar a grande batalha da subida. Alguns tomaram uns traguinhos de licor ou mesmo uma cachacinha pura para se esquentarem. Em pelo andamento da Primavera, muito frio! O uso dos banheiros foi concorrido. Tínhamos tomado um café bem reforçado no Hotel, em Torres, por recomendação dos guias. Retomamos a estrada...

          Imagine você, leitor, leitora, a preocupação de algumas pessoas que nunca tinham participado desse tipo de empreitada. Nas curvas, olhavam pelos vidros e se assustavam. Acredito que houvesse quem estivesse rezando baixinho.... E, outros, zoando com os mais medrosos, fazendo piadas...

           No meio do percurso de subida íngreme, bem numa curva, nosso ônibus passou sobre uma laje de pedra em que uma ponta arredondada estava saliente devido à erosão do leito da via. Foi uma pancada seca, o veículo recuou uns poucos centímetros. Falei: Cardam! Foi o cardam que quebrou! Ou uma flange ou junta, mas algo quebrou. Vamos descer do ônibus! Olhavam-me surpresos: "Como é que você sabe?" Falei que sabia e que, com isso o ônibus não mais se moveria, nem para a frente, nem para trás. Descemos do ônibus, alguns dos homens. O motorista deitou-se e falou: Foi o cardam... quebrou a cruzeta. Lembrei-me: vendi muitas dessas cruzetas quando trabalhei no Mallon, a Mercedes-Benz em União da Vitória, de 1972 ao início de 1977, quando mudei-me para o Zortéa. Uma peça simples, de baixo valor, mas imprescindível. Se você perder um amortecedor, a descarga, ou mesmo algum parafuso, você  pode continuar andando. Mas há algumas peças que são vitais e a cruzeta do cardam, ou qualquer parte desse eixo, é vital para o veículo, pois ele não tem como movimentar-se.

          Todo mundo desceu, rápido, e empurramos o ônibus, de ré, para um espaço lateral à direita da curva da estrada, para que o outro, que vinha atrás pudesse continuar sua subida aos desfiladeiros. Sugeri ao motorista que, além de mecânico, ferramentas e da peça para reposição, que fosse acionado outro ônibus, pois, dadas as dificuldades locais, o reparo poderia ser demorado.

           Em alguns minutos, foi convencionado que o outro ônibus, que nos seguia,  um  "micrão", levasse uma senhora em idade avançada, outra colega professora que dias antes havia tido um acidente num dos pés e andava em muletas, mais outras duas do grupo. E que o micro-ônibus fizesse os 11 Km faltantes e retornasse para nos buscar. Para que se tenha uma ideia da situação irregular da rodovia, foi necessária mais do que uma hora para que deixasse seus passageiros na recepção do parque e voltasse.

          Estava muito frio e havia um chuvisco a nos deixar congelados. Tínhamos roupas para o frio, mas não para uma situação dessas, com chuvisco.  O guia, Leonardo, sugeriu que caminhássemos morro acima. Alguns achavam que deveriam esperar ali. Falei que, se não nos  movimentássemos, ficaríamos congelados. Precisávamos caminhar para esquentar nossos corpos. Havia, ao lado da estrada, umas folhas grandes, dos urtigões, que poderiam nos servir como guarda-chuva se chovesse.
          Andamos mais de uma hora em bom  ritmo, até encontrarmos um lugar mais aberto. Porém, sem nenhuma casa ou barraco que nos abrigasse. No caminho, encontramos um gaúcho de Viamão, Jairo, que estava lá com sua Renault Scenic de capô aberto. O carro havia incendiado na parte elétrica dianteira. Ele estava só, pois mandara a esposa buscar socorro. Perguntei se tinha extintor ABC e ele falou que tinha, mas que, apavorado, não soube nem como utilizar na hora do desespero. Então, como tinha um vasilhame de plástico com água (que sempre leva consigo...), jogou aquela no local e foi pegando mais água na valeta até apagar. Depois, olhou com calma e lambuzou o motor do carro com a espuma branca do extintor. O Darold, nosso companheiro de viagem, que é bombeiro, deu uma conferida e tomou umas providências de modo que o carro não se incendiasse de novo.

          Depois de um bom tempo, eu e o filho do Darold, com mais meia dúzia de  pessoas,  já estávamos bem adiante do grupo, ouvimos um ronco de motor e vibramos com a chegada do ônibus que voltava para nos socorrer.

          Chegamos à entrada do parque Aparados da Serra com grande atraso. Mas o local é bem protegido, há banheiros, um museu, uma estrutura muito boa para receber os turistas. Nosso guia Geraldo nos forneceu um sanduíche natural, bananas, maçãs, pêssegos ou nectarinas, barras de cereais e chocolates, além de suco de uva. Tudo isso para garantir-nos a reposição da energia já perdida e a suficiente para a caminhada por uma trilha que totalizava 6 Km de ida e frida, e mais uma de 1.500 metros na volta, ao lado da recepção.

           Foi uma verdadeira aventura. Nem todos estavam acostumados com esse tipo de imprevisto. Mas, com bom humor, conseguimos cumprir aquilo a que nos tínhamos proposto. E já estou-me propondo a dar continuidade a essa história nos próximos dias. Você está convidado a conhecer, acessando meu blog.

          Grande e carinhoso abraço a todos os que participaram conosco dessa emocionante aventura.

Euclides Riquetti
09-11-2015

Um comentário:

  1. Grande e 'Espirituoso' Euclides fico no aguardo das demais partes! Sensacional, Amei,
    Saudações e Vibrações Positivas!!!
    Grande abraço, Geraldo.

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