sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Campinhos de futebol em Capinzal e Ouro - terceira parte

          Já me reportei a campinhos de futebol em posts anteriores. Os campinhos foram celeiros de jogadores habilidosos no Brasil. Muitos adolescentes escolhiam os terrenos vagos nos loteamentos das cidades, arrancavam as guanxumas, roçavam os gramados mais altos com foicinha de colher trigo, tiravam umas madeiras roliças dos matos, tipo bracatingas, faziam as traves e tinham seu próprio campinho. Então, era reunir a molecada no final das tardes, sábados e domingos, e jogar bola até que o claro do dia permitisse ver a bola.

          As bolas, na época, erram avermelhadas, de couro.  Alguns diziam que eram de "capotão", outros de "capão". Ter uma bola de capão era um luxo. A maioria das vezes,  comprada com "vaquinhas" ou alguma rifinha.  Quem não era sócio da bola, só jogava se faltasse gente. Algumas já bem marrons, de tanto gastas. E todos em pés descalços, tantas vezes com as unhas do dedão do pé pretas ou arrebentadas. Tanto que, quando alguém era meio ruim de bola, chamávamos de "arranca toco". O maior patrimônio de um time era ter uma bola razoável.

          Divididos os grupos, muita correria, muita gritaria, muito suor, muitos tombos, muitos dedões destroncados. Não podia jogar de sapato....Um time jogava com camisas e o outro sem, para poder identificar melhor o adversário e não dar passes errados. Para ser pênalti, não bastava fazer uma falta na área, tinha que derrubar e machucar. Se não tivesse sido machucado, não deveria ser falta, assim se tentava fazer acreditar que tivesse que ser. E, se recebesse a falta, não poderia bater, porque jogador machucado não bate falta. Umas regras que os mais espertos (ou maiores...) inventavam para levar vantagem. Gérson, o "canhotinha de ouro", de Flamengo e depois de Botafogo, ainda nem tinha gravado aquele comercial de cigarros em que dizia que gostava de levar vantagem em tudo e que acabou virando lei, a "Lei de Gérson". Tudo muito divertido!

          Uma vez formamos um time, eu e o Altivir Souza, o coquiarinha, que era torcedor do Vasco, bem como seu irmão Coquiara (Ivanir) e o outro coquiarinha, o Valdir, que aqui em Joaçaba chamam de "Valdirzinho da Prefeitura". Denominamos de "Canindé", em alusão ao estádio da Portuguesa de Desportos, de São  Paulo.  Nosso campinho era o do qual já mencionei aqui e a sede era o porão do Demétrio Surdi, pai do Sidinei. Na sede, além de nos trocarmos para os jogos, guardávamos a bola, o apito, a bomba de encher a bola e sentávamos em tocos de lenha ou pilhas de tijolos. Cadeiras seriam artigo de luxo...

          Para uniforme, compramos camisas de manga longa, de algodão, empeluciadas por dentro, brancas. A mãe de um dos jogadores assentou  na gola em V e nos punhos um tecido vermelho, uma espécie de friso. Ficou bonito!  Para o goleiro, uma camisa tingida de verde. Tínhamos as cores da lusa paulista nas camisas. Meias vermelhas e calções brancos, mas nada a ver com o Arabutã FC. Aliás, na época, eu era torcedor do Vasco e não do alvi-rubro. Jogar com uniforme só em jogos importantes!

           Havia, em Capinzal  e Ouro, pelo menos esses campinhos: No Ouro, o da família de Lúcia Ferrari Bazzo, conhecido como "Dos Bazzo", na antiga Rua do Comércio, hoje Presidente Kennedy, e o defronte ao Clube Esportivo Floresta (com piso em serragem da Marcenaria e Carpintaria São José), onde também jogavam voleibol à noite e nas tardes de sábado. Em Capinzal, o do "Morro do Pão-duro", perto da estação férrea, onde depois se construiu a Telesc. Ali, por ser uma pequena elevação, os que não podiam pagar ingresso para ver os jogos do estádio municipal, (onde hoje está a Rodoviária e a Praça Pedro Lélis da Rocha), ficavam a ver os jogos de Vasco, Arabutã,  São José, Frigorífico Ouro, Operário, EGO Esporte Ginasial Olímpico), e de outros mais antigos, como o Estrela...  "dono" do campinho era o saudoso "Camomila", Pedro Raimundo Hilguert, com quem jogamos bola nos tempos do Grêmio Lírio, de 1977 a 1980. Esse era craque, nos deixou ainda jovem...

          Tínhamos também o do Botafogo, entre as ruas XV de Novembro e a Narciso Barison, ao lado do "picador" de carnes (açougue) da Comercial Baretta, onde jogavam vôlei masculino e feminino. O Orestes Francisco Antunes (Montanari) era o treinador deles... De vez em quando conseguíamos autorização para jogar lá, contra o pessoal do "Ameriquinha", dos Baratieri e do saudoso "Pimba"  (Márcio Rodrigues). E o do "Loteamento" Santa Terezinha, ao lado do Clube Primeiro de Maio (o Mangueirão, onde se dançava nos soirées, com toca discos...). Ali jogávamos com gente das famílias Giacometti, Boff, Hannel, Oliveira e outras. De vez em quando armávamos um encreqnquinha...

        Boas e saudosas lembranças dos nossos campinhos. Dos amigos, de muitos que foram embora, alguns para o céu, outros viraram vovôs, isso e aquilo. Mas, de todos, colegas ou adversários, muitas e carinhosas saudades. Boas lembranças de um joguinho esquentado e depois um banho de rio, no "Valo" ou abaixo da barragem, no rio do Peixe, ou nos fundos do Mangueirão, no Santa Terezinha.

          Um carinhoso abraço aos  que estão ainda "por aí" e uma oração para os que foram antes de nós.

Euclides Riquetti
13-11-2015



 

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