Conheci o Bruno da Silva quando eu era criança e ele adolescente. Trabalhava na Farmácia São Pedro, em Capinzal. Os pais e as irmãs moravam ali perto da casa da Professora Vanda Meyer. Depois o Bruno se mandou da cidade e demorou para reaparecer.
Fui revê-lo quando eu já estava com a vida encaminhada e morando em Duas Pontes, hoje Zortéa. Eu trabalhava no financeiro da Empresa Zortéa Brancher S/A - Compensados e Esquadrias, e também fazia traduções de correspondências e emissão de proformas para exportação. Ele apareceu lá, esteve com o Dr. Lourenço Brancher Diretor Comercial, e com o Presidente da empresa, Hilário Zortéa. Estava com compradores europeus. Ele fazia a função de intérprete bilíngue. Trabalhara com Turismo e aprendera Inglês.
Depois sumiu de novo. Só fui revê-lo quando o Sr. Werner, seu pai, faleceu, no início da década de 1980, lá na casa deles, agora no Parque e Jardim Ouro. O pai foi o empreendedor do melhor bairro da cidade de Ouro, o Parque Jardim, onde era uma vez a SIAP - Sociedade Industrial Agro Pecuária. Estava morando em Belo Horizonte, então, e com a perda do pai veio morar em Ouro para cuidar da mãe, Dona Alma, uma senhora imponentemente germânica, com sotaque. Passou a trabalhar novamente numa farmácia.
Conhecia tudo. Era nosso prático farmacêutico, enfermeiro, médico, psicólogo: um baita autididata. As pessoas acreditavam muito nele e em suas recomendações. E era brincalhão, sempre tinha um belo causo para contar. Quando passava defronte a casa onde morou nas últimas duas décadas, ali ao lado da Ponte Pênsil, abordava-me: "A Vera Fischer está muito bem. Está arrumadona, cada vez melhor, mais bonita".
Achava que nossa inflação era sempre de mentirinha, que os americanos iam governar o mundo, que iam descobrir remédios para todas as doenças e que os japoneses sabiam inventar de tudo.
Na farmácia, uma vez disse para uma senhora: "Dona......, a Senhora não quer levar umas camisinhas? Tenho daquelas bem lisas, maias, suaves, saborosas, sabor morango, menta, de todos os tipos e para todos os gostos." E a Senhora, pessoa religiosa e respeitável: "Tá louco, Bruno? Você pensa que eu sou dessas coisas?" E ele: Leva três e paga só duas... Pois a Senhora, em vez de ficar brava, acabou rindo pela maneira carinhosa com que ele a tratava.
Contava-me confidências, tinha uma namorada "muito secreta" numa cidade vizinha, não aquela do outro lado do rio. E olhava para ter a certeza de que ninguém estava escutando. Era um caso perigooooso!...
Posso dizer que foi um de meus melhores amigos. Nós nos entendíamos, tínhamos opiniões muito parecidas sobre muitas coisas.
Uma vez liguei-lhe porque um médico receitara algo para uma pessoa e ela quria saber se o medicamento estava correto. Diante da resposta afirmativa, a pessoa tomou o remédio. Tinha muita credibilidade, nosso Bruno.
Pois o Bruno foi encontrado sem vida, no sofá de sua casa, na tarde desta terça-feira. Tinha 69 anos e muitas histórias.
Ah, não posso esquecer: A Vera Fischer era a mãe dele. Era com esse carinhoso apelido que ele a chamava! Agora, vão encontrar-se lá no céu: A Dona Alma e a alma do "Doutor Bruno".
Euclides Riquetti
26-03-2013
Fui revê-lo quando eu já estava com a vida encaminhada e morando em Duas Pontes, hoje Zortéa. Eu trabalhava no financeiro da Empresa Zortéa Brancher S/A - Compensados e Esquadrias, e também fazia traduções de correspondências e emissão de proformas para exportação. Ele apareceu lá, esteve com o Dr. Lourenço Brancher Diretor Comercial, e com o Presidente da empresa, Hilário Zortéa. Estava com compradores europeus. Ele fazia a função de intérprete bilíngue. Trabalhara com Turismo e aprendera Inglês.
Depois sumiu de novo. Só fui revê-lo quando o Sr. Werner, seu pai, faleceu, no início da década de 1980, lá na casa deles, agora no Parque e Jardim Ouro. O pai foi o empreendedor do melhor bairro da cidade de Ouro, o Parque Jardim, onde era uma vez a SIAP - Sociedade Industrial Agro Pecuária. Estava morando em Belo Horizonte, então, e com a perda do pai veio morar em Ouro para cuidar da mãe, Dona Alma, uma senhora imponentemente germânica, com sotaque. Passou a trabalhar novamente numa farmácia.
Conhecia tudo. Era nosso prático farmacêutico, enfermeiro, médico, psicólogo: um baita autididata. As pessoas acreditavam muito nele e em suas recomendações. E era brincalhão, sempre tinha um belo causo para contar. Quando passava defronte a casa onde morou nas últimas duas décadas, ali ao lado da Ponte Pênsil, abordava-me: "A Vera Fischer está muito bem. Está arrumadona, cada vez melhor, mais bonita".
Achava que nossa inflação era sempre de mentirinha, que os americanos iam governar o mundo, que iam descobrir remédios para todas as doenças e que os japoneses sabiam inventar de tudo.
Na farmácia, uma vez disse para uma senhora: "Dona......, a Senhora não quer levar umas camisinhas? Tenho daquelas bem lisas, maias, suaves, saborosas, sabor morango, menta, de todos os tipos e para todos os gostos." E a Senhora, pessoa religiosa e respeitável: "Tá louco, Bruno? Você pensa que eu sou dessas coisas?" E ele: Leva três e paga só duas... Pois a Senhora, em vez de ficar brava, acabou rindo pela maneira carinhosa com que ele a tratava.
Contava-me confidências, tinha uma namorada "muito secreta" numa cidade vizinha, não aquela do outro lado do rio. E olhava para ter a certeza de que ninguém estava escutando. Era um caso perigooooso!...
Posso dizer que foi um de meus melhores amigos. Nós nos entendíamos, tínhamos opiniões muito parecidas sobre muitas coisas.
Uma vez liguei-lhe porque um médico receitara algo para uma pessoa e ela quria saber se o medicamento estava correto. Diante da resposta afirmativa, a pessoa tomou o remédio. Tinha muita credibilidade, nosso Bruno.
Pois o Bruno foi encontrado sem vida, no sofá de sua casa, na tarde desta terça-feira. Tinha 69 anos e muitas histórias.
Ah, não posso esquecer: A Vera Fischer era a mãe dele. Era com esse carinhoso apelido que ele a chamava! Agora, vão encontrar-se lá no céu: A Dona Alma e a alma do "Doutor Bruno".
Euclides Riquetti
26-03-2013
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