Não sei por que motivo os chamavam de "Barbina" talvez pela corruptela da palavra Balbino, mas essa família existiu em Capinzal na época de minha infância e adolescência. Vou me referir, aqui, ao "Bastião", certamente que seu nome era Sebastião, um biscateiro. Na madrugada, quando acordo e, bem cedo, cevo meu mate amargo, meu pensamento viaja, voa pelas cidades onde vivi, pousa em ambientes e épocas que se registram em minha memória história, com imagens e fatos que se armazenam adormecidos em minha mente. Guardei e guardo as boas lembranças do ontem e do hoje, principalmente as que me aprazem e me inspiram...
O Bastião Barbina era amigo de meu tio, Arlindo Baretta, marido da tia Elza (Dambrós), que ainda vivem em Ouro, pais da Salete, da Selita, da Sirlei e da Roselei. Ele teve um armazém de "secos e molhados", que adquiriu de Clarimundo Bazzi, transferindo-os para o andar térreo de nosso sobradão, ali na Felip Schmidt, defronte ao Posto Dambrós. Trabalhei lá entre 1969 e 1971, quando fui trabalhar no Posto Dambrós. O Bastião vinha para comprar fumo, tomar um martelinho de pinga, uns fígados para uns bifes, soquete para um brodo, erva-mate para seu chimarrão e, sobretudo, para bater um papo com meu tio.
Como fui balconista dos 12 aos 17 anos, convivi com muita gente assim, simples, honesta, boa praça, verdadeiros cavalheiros, de excelentes hábitos. Já houve um tempo que as pessoas, em sua grande maioria, trabalhavam para se sustentar, não dependiam de governos, davam um jeito pra tudo. Claro que não tinham em casa (nem nós tínhamos...), o conforto, mas comiam aquilo que lhes dava energia para o trabalho e tinham o que vestir. Quem trabalha, historicamente, pode ter dificuldades, mas, se tiver saúde, não vive na miséria. Tem aquela frase bem conhecida de que "o trabalho dignifica o homem".
O Bastião Barbina era um senhor entre 45 e 50 anos e, na época, me parecia "velho". (Eu não tinha a dimensão que tenho hoje de idade com relação aos que vivem mais tempo.) Rosto fino e moreno cor de cuia, caboclo, cabelos lisos, escuros, cavanhaque ralo, magro, altura mediana, gestos delicados, fala mansa e, sempre, um sorriso muito alegre e simpático no rosto. Duvido que, algum dia, tenho sido ríspido, sequer deselegante com alguém.
Convivi com o "Mingo Barbina", acho que Domingos dos Santos, trabalhei com ele no Posto Ipiranga, em Capinzal, que fora do João Flâmia e que havia sido arrendado pelos Hachmann, em 1971. Depois saí para estudar em União da Vitória, mas o reencontrei em 1983, jogando nos másters do Arabutã Futebol Clube, na Baixada Rubra. Ele também atuava como juiz, de vez em quando. Era linha dura, bem diferente do pai. Foi meu amigão, jogamos muita bola juntos, visitou-me quando fraturei a perna jogando ali, em 1984 e fiquei 90 dias no gesso. Tinha habilidade em cortar e assentar pedras em muros de contenção. Tinha também a irmã dele, esposa do "Bugre", este mais um artesão das pedras e benzedor, família que ia ao campo do Arabutã nos dias de jogos, todos com suas camisas vermelhas, eram considerados torcedores-símbolo do alvi-rubro, como também o foi o Mário "Ferro" Borges.
Nunca mais tive notícias do Bastião, acho que faleceu há décadas e, se hoje estivesse vivo, certamente que beiraria os 100 anos. Mas aqui está a possibilidade que o mundo virtual me permite: registrar que um dia conheci um homem simples e trabalhador, honesto, que serviria de exemplo para outros, e que me marcou muito. Tenho, sim, saudades das pessoas que cruzaram em meu caminho, não importa a sua condição social, nem intelectual. Mas que fizeram história, nas cidades, pela sua simples maneira de ser.
Uma oração para você, Bastião Barbina. E, se estiver com Deus, que seja bem feliz na Eternidade!
Euclides Riquetti
13-10-2015
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