sexta-feira, 16 de outubro de 2015

O silêncio do "microfone de ouro"

Rememorando, um ano depois: Ademir Pedro Belotto
         No domingo, 12, Dia da Criança, Capinzal e região foram tomados por uma ingrata surpresa: Após uma hemorragia que teve na noite de sábado, Ademir Pedro Belotto, radialista, Diretor da Rádio Capinzal Ltda, onde atuava há 27 anos, e do Jornal "A Semana", há 13, deixava a vida terrena por volta das 14 horas, no Hospital Santa Terezinha, de Joaçaba.

          Recebi o recado de um amigo e, após o choque, tratei de propagar a informação. Meus amigos precisavam saber que o "Belo", como os mais próximos costumavam chamá-lo, nos pregara uma grande peça: fora morar no Reino de Deus sem deixar aviso nem despedida.

          Ora, fosse ele um jogador de futebol famoso, certamente teria tido sua partida de despedida, como comumente acontece. Aliás, certamente que eu mesmo me convocaria, participaria do grupo "Amigos do Belotto", onde certamente estariam atuando gente que jogou bola conosco nos Veteranos do Arabutã nos anos 90. Era nosso ponta-esquerda, tinha habilidade com a perna esquerda, embora não tivesse grande preparação física. Nessa arte, conheci-o ali na Baixada Rubra, no Ouro, quando eu o marquei num jogo contra o Masters de Joaçaba, time formado por radialistas da Catarinense, professores da Unoesc, ex-atletas do Joaçaba Esporte clube, e profissionais liberais. Coube-me marcá-lo e a tarefa foi fácil: estava jogando com um tênis branco, num gramado escorregadio. Justificava-se, com seu peculiar sorriso... Eu o entendia. Não era fácil jogar sem chuteiras.

          Fácil era o domínio na área de vendas de máquinas pesadas, sua atividade  na época. Fácil foi ter empunhado os microfones da Rádio Caçanjurê, em Caçador, aos 17 anos; da Rádio Catarinense, em Joaçaba; da Rádio Capinzal, em 1987, o que se deu até há poucos dias. Fácil, foi criar com dignidade, juntamente com sua esposa, a Juçara, os filhos César Augusto, Thiago Luiz e Thayana Larissa, legando-lhes bons exemplos, proporcionando-lhe oportunidades de estudos, dando-lhes os direcionamentos para uma vida com ética e decência.

          Difícil mesmo, foi chegar aos 58 anos e, depois de ter conhecido a Europa e visitado sua querida filha na Irlanda, ter encarado uma doença, um tumor alojado na mandíbula, uma cirurgia em Pato Branco, no dia 02. Difícil foi ser pego de surpresa, na noite de sábado, com uma hemorragia, o internamento, o óbito. Mais difícil para a esposa, os filhos e amigos, do que para ele mesmo. Difícil para os irmãos, sobrinhos, em especial para seu irmão Ademar Augusto Belotto, o Japão, nosso amigo aqui em Joaçaba, que foi seu guia na juventude e que o acompanhou de perto em toda a sua vida. Aliás, o choro durante a sua fala, na despedida, no Cemitério Frei Edgar, na tarde desta terça-feira, sintetizava o sentimento de todos nós, seus amigos, que estivemos acompanhando-o, quer no Centro de Eventos São Francisco de Assis, na Paróquia São Paulo Apóstolo, em Capinzal, quer na celebração de corpo presente, na Matriz, em Capinzal, quer aqui em Joaçaba.

          Perdemos o Belotto e isso enlutou Capinzal e Ouro e as cidades das cercanias. Silenciou, definitivamente, o "microfone de ouro", que tanto nos alegrou e nos orgulhou nos cerimoniais que dirigiu em centenas de eventos. Uma vez emprestou-nos sua valiosa voz para a produção de um vídeo que produzimos relatando e retratando a história do Município de Ouro e a emancipação. Fomos companheiros em muitas jornadas. Nossos filhos foram colegas de escola, no Grupo de Dança Italiana, no Grupo de Escoteiros Trem do Vale. Quantas vezes nos encontramos com o casal Ademir e Jussara e todas as crianças. Bons e memoráveis tempos que não têm como voltar...

          Mas temos as belas lembranças... A franqueza do diálogo maduro, o respeito mútuo. Ele era muito habilidoso em escrever crônicas que apresentava no Jornal do Meio Dia, na Capinzal. Algumas vezes, me solicitava autorização para ler alguma de minhas crônicas. Eu lhe dizia que, para ele, as portas estavam sempre abertas e que ele podia utilizá-las da forma que lhe aprouvesse. Uma questão de confiança, uma ética muito respeitosa!

         Ora, não faltará quem escreva sua biografia. Os colegas de trabalho emocionaram as centenas de pessoas que estiveram na Matriz São Paulo Apóstolo com seus depoimentos. Só quem plantou o bem perante seus amigos e colegas leva os elogios sinceros e merecidos.

          Que bom poder falar assim de um amigo, uma pessoa que sempre foi muito equilibrada e que um excelente profissional. Ficar trabalhando por tanto tempo numa emissora de rádio, num setor de atividade humana em que a polêmica é fator muito presente, é significação de grande capacidade de trabalho e de harmonização.

          No domingo à noite, Capinzal foi invadida por pessoas de todas as comunidades e das cidades vizinhas. Foram dar adeus ao homem da voz belíssima, que ao falar impunha respeito e detinha credibilidade. Isso mostra o quanto era bem visto e o tamanho da legião de amigos que formou ao longo de sua vida. O Vale do Rio do Peixe está de luto.

 Fique bem, na proteção de Deus, Belo!

Euclides Riquetti
13-10-2014

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