Nos primeiros meses do ano costumo dar passeios para algum lugar. Neste ano, fui para Caldas Novas, Minas Gerais e agora, em fevereiro, para uma semanada em Canasvieiras, aqui em Florianópolis, nossa Ilha da Magia. Mas, mesmo fora, procuro estar conectado com o que se passa em minhas cidades, Capinzal, Ouro e Joaçaba. A facilidade dos meios virtuais de comunicação nos permitem saber de notícias, acompanhar os acontecimentos à distância. E no mês de fevereiro tivemos perdas muito sentidas, partiram pessoas de antigo convívio, que um dia fizeram parte de nosso cotidiano.
E, quando a gente abre as páginas dos sites das cidades, algumas fotos nos chocam, pois nos indicam que pessoas amadas foram viver em outro plano. Foi assim com Márcia Dambroz Peixer, Nadilce Dambrós e Marines Casara. Então nossa mente se volve ao passado, se buscam as lembranças de cada pessoa, como eram em sua infância, adolescência ou juventude. E, com carinho, se tecem orações, se deseja que cada um tenha conseguido, à sua maneira, deixar um legado, uma história, bons exemplos, tudo na sua simplicidade, no seu jeito de viver.
Primeiro foi nossa Márcia Dambroz, aquela menina dos cabelos loiros e crespos que tinha vida em nossa infância, nos anos da década de 1960. Filha de Dona Iolanda e Olávio, ia de sua casa à Foto Márcia, primeiro ali ao lado de onde se situa o Ginásio André Colombo, depois na esquina da Rua Guerino Riqueti com a Felip Schmidt. Quer no fusquinha amarelo, onde iam ela, o Romualdo e o Renato, no banco de trás do fusquinha amarelo, quer no DKW Vemaguete, azul claro, quatro portas, que o Olávio estacionava ali ao lado do Posto Dambrós, ou na condução deles até o Colégio Mater Dolorum, onde estudavam suas séries iniciais.
Depois Márcia foi embora para Curitiba, morou também em Manaus, mas na Capital Paranaense viveu a maior parte de sua vida, onde constituiu família. Manteve suas origens, buscou a história dos Dambroz, escreveu, publicou, a família tinha considerável acervo de fotos. A menina linda se tornou mulher, Psicóloga, atuante em causas sociais. Com a modernidade, agitou as pessoas da antiga Rio Capinzal, resgatou fotos e histórias, resgatou e reaproximou pessoas, num ambiente de amizade e confraternidade.
A última vez que a vi, e com quem conversamos, estava animada e feliz. Isso foi ainda antes da Pandemia, lá no Centro Educacional Celso Farina, em Capinzal. Expansiva, extrovertida, feliz, ágil nos passos da dança, quando revisitamos as músicas dos anos 60 e 70. O tempo iguala as pessoas, as torna mais maleáveis, o saudosismo as tona mais cordiais, simpáticas, animadas até. Agora, a notícia da sua partida encheu-nos de tristeza, pois nunca imaginávamos que aquela figura esbelta e cheia de energia pudesse, como todos nós, deixar de ser infalível. Saudades ficarão da menina que encontrávamos nas festas de aniversário de nosso priminhos Marcos Antônio e Marcel Luiz, gêmeos, filhos da nossa tia Elis e do Tio Juventino, de saudosa memória,
O Nadilce foi meu colega nos bancos escolares do antigo Ginásio Padre Anchieta e na Escola Técnica de Comércio Capinzal, onde nos formamos contadores em 1971. Tivemos convivência social e mantivemos longa amizade durante todo o curso de nossas vidas. A sua partida encheu Capinzal e Ouro de luto. Como a Márcia, também era sobrinho da tia Elis (Dambrós) e do Tio Juventino Baretta. Os Dambrós foram uma família pioneira do município de Ouro, fundaram uma comunidade, pioneiros na implantação de serraria, moinho, alambique e outros empreendimentos na segunda dezena do século passado. (Abri meu celular de madrugada, em Canasvieiras, e havia uma mensagem do amigo Vilson Farias: "O Nadilce Dambrós faleceu") Levei um susto e procurei, já de dia, saber o que o levara a isso. Estivera internado em Xanxerê e teve complicações...
Minhas primeiras lembranças do Nadilce são de quando, em 1965, vinha de sua casa para a cidade, a cavalo, chapéu cinza de feltro na cabeça, capa de chuva de algodão para proteger-se em dias chuvosos, e deixava seu cavalo ali atrás da sede das Indústrias Reunidas Ouro, cujo avô Bortolo foi um dos principais fundadores. Na primeira série do Ginásio, um rapaz muito educado, estudioso, educado, que tinha muito jeito para lidar com os colegas e disciplina em relação aos professores. Era muito fácil fazer amizade com ele, pois não se metia na vida de ninguém, tinha aquela sua postura simples mas clássica, aquele jeito afável e simpático de ser.
Chegou a ser professor primário em sua comunidade, mas quando fomos colegas em contabilidade veio trabalhar na Indústria Ouro, que em 1980 teve o controle acionário assumido pela família de Saul Brandalise, do Grupo Perdigão. Dedicou 45 anos de sua vida ao trabalho na empresa, onde exerceu diversas funções. Na sociedade capinzalense e ourense exerceu diversas atividades de liderança, juntamente com sua esposa Sirlene, com quem tiveram os filhos Vinicius e Rafael. Os filhos eram seu orgulho, sempre falavam com alegria quando se referia a eles e aos netos.
Tivemos longa e intensa parceria nas atividades da Paróquia São Paulo Apóstolo, onde ele foi meu Vice quando eu fui presidente do Conselho Administrativo Paroquial (1988 e 1989), e depois me sucedeu. Vale registrar que, quando o pároco Frei Luiz Wolf se transferiu para outra paróquia, esteve na casa do Nadilce e depois na minha. Falou-me que o Nadilce era a pessoa de absoluta confiança e que gostaria de vê-lo como meu sucessor. Ali, embaixo de um plátano da família de Benjamim Miqueloto, ao lado de minha casa, tivemos longa conversa, quando ele me disse que eu, como prefeito, deveria dar apoio ao Santuário (hoje oratório) de Nossa Senhora do Caravágggio. Nadilce esteve presente no lançamento de meus dois livros de crônicas e estive na casa dele posteriormente, Atualmente, era sócio-diretor da Rádio Capinzal. Fará muita falta à sociedade das cidades-gêmeas.
Mais recentemente, soubemos da partida de Marinês Casara, em Toledo, Paraná, onde vivia há décadas com seus familiares. Era filha de minha prima Aurora Baretta, esta filha de minha saudosa e querida tia Marietina (irmã de meu pai), e do tio Valentim Baretta, moradores do alto da Linha Bonita, no antigo Distrito de Ouro. Seu pai Antônio e a mãe moraram numa casa perto da materna, foram arrendatários de uma terra de meu pai. Eram muitas crianças pequenas quando a Aurora faleceu, vítima de doença grave.
Lembro-me bem de que fomos, todos os familiares, de caminhão até Linha Bonita, para a cerimônia de sepultamento. O Ford F 600 de seu irmão Rozimbo Baretta foi carregado, com dezenas de parentes. A tristeza estava estampada nos rostos e na alma de cada um. Além de perdermos uma prima ainda jovem, deixava todas aquelas criança, uma delas, um menino, ainda bebê.
Nesta sexta-feira de carnaval, 28 de fevereiro, encontrei o irmão dela, Dirceu casara, aqui no centro de Joaçaba. Perguntei-lhe sobre como fora o passamento de sua irmã e ele me disse que ela vinha sofrendo muito, que a sua partida representava um descanso para ela. Falamos sobre outros assuntos, o Dirceu é um rapaz que dedica parte do seu tempo para nossa cidade, foi participante ativo, durante muitos anos, dos desfiles da Escola Vale Samba.
Enfim, foram perdas de três pessoas com quem convivemos desde a infância, que fizeram parte de uma história que precisa ser contada, e essa é minha tarefa. Dar homenagem a quem realmente mereceu, pessoas que viveram com dignidade, que merecem nossas orações e que têm cadeira cativa no céu. Aos familiares de Márcia, Nadilce e Marinês, as mais sentidas condolências de todos nós.
Euclides Riquetti e Família
Joaçaba, SC, 01 de março de 2025.