Estação de Rio Capinzal, década de 1930 - população esperando o Presidente Getúlio Vargas na estação ferroviária da então Rede Viação paraná - Santa Catarina, rumando dali para Porto União.
As pessoas de minha geração certamente que tiveram muitos contatos com trens. Lembro de quando, em minha infância, ficávamos com meus amiguinhos, subidos nos barrancos, gritando: "É meu! É meu! Aquele azul é meu! O vermelho é meu!" - É que o trem passava, do outro lado do Rio do Peixe, levando luxuosas lemousines e jipes, com destino ao Rio Grande do Sul. Carrões importados que costumávamos ver nas revistas, e que eram transportados nos vagões abertos, para nosso encanto. Vinham do Norte para o Sul, destino provável Porto Alegre e Caxias do Sul. Diziam os mais velhos: Vão pro Rio Grande! E iam as Mercury Monterrey, Os Buick Skylark, os Jeep Willys, as Pick ups, os DKW e Vemaguetes, Os Ford Mustang e Thunderbird, os Chevrolet Cadillac, Bel Air e Impala, as Aero Willys. As Simca, acho, eram de menor custo, porque passavam muitas delas: as Chambord, Jangada e Presidence. Diziam que essas eram uma dor-de-cabeça...
Mas também vinham e iam os trens de carga, traziam areia de Porto União, levavam madeiras da Santos Almeida, da Pagnoncelli Hachmann e da Zortéa Brancher para os grandes centros, principalmente São Paulo, e para as exportações via Paranaguá, São Francisco, Itajaí e mesmo Santos. E gado bovino para Sorocaba, porcos para Ponta Grossa. Bergamotas e laranjas que os irmãos Teixeira levavam da Linha Bonita e do Avaí para Caçador. O trem, realmente, fez parte de minha história, de nossa história. Até mudanças de gente que ia embora.
Essa alegria acabou em 1983 quando, após a grande enchente, houve a paralisação desse tipo de transporte no Vale do Rio do Peixe. A América Latina Logística, que adquiriu a "Rede", não cumpriu com aquilo a que se propôs, não melhorou a ferrovia, e nossa Estrada de Ferro está uma vergonha. Em algumas cidades, poucas, onde há muito interesse na promoção da atividade turística, as Prefeituras até ajudam a conservar a via férrea. Em outras, só a lamentar... Ah, não esqueçamos: De vez em quando ficamos sabendo dos tais de "Trens da Alegria", mas esses só levam gente privilegiada, não os mais simples mortais...
Saudades do Trem. Porém, algumas pessoas, sabiamente, dizem que "quando as coisas não acontecem pelo amor, acontecem pela dor". E, parece-nos, a dor vai salvar o transporte ferroviário. Bendita a dor que Deus manda para acordar algumas pessoas que não se movimentam apenas pelo combustível do amor! Então, que lhes venha o método pelo qual melhor entendem as coisas.
Com a expansão das atividades da agroindústria em todo o Oeste e Meio Oeste Catarinense, acrescido o fato de muitos agricultores terem abandonado o trabalho na lavoura, mais a impossibilidade de trabalhar na terra por questão das declividades, das áreas de preservação, etc. etc., e também porque o investimentos em insumos, maquinários e mesmo mão-de-obra ficaram impraticáveis, nossa produção de milho parou de crescer. Melhorou a produtividade, mas não temos suficientes áreas disponíveis para o plantio mecanizado. Todos esses fatores e outros que qualquer técnico em agropecuária enumeraria e justificaria bem melhor do que eu, fizeram soar o sinal de alerta: Temos grande capacidade industrial instalada, temos conhecimento, vocação, mercado, disposição para o trabalho, dominamos as melhores tecnologias, mas nos falta o milho.
Assim, depois de muita enrolação e embromação, no país onde todos podem comprar carros mas poucos conseguem comprar uma casa para morar, descobre-se que "dormimos em berço muuuuito esplêndido", e precisamos reativar as existentes ou costruir novas ferrovias. E as auspiciosas notícias: Vem aí a Ferrovia Norte Sul, que nos permitirá trazer milho e soja do Mato grosso e Goiás. E vem aí a Leste/Oeste, que ligará o Porto de Itajaí a Dionísio Cerqueira, cortando todo o Grande Oeste. Em discussão, duas alternativas: Restabelece-se a ligação de São Francisco do Sul/Mafra/Porto União/Herval D ´Oeste, com a substituição dos trilhos e dormentes existentes, ampliando-se a bitola para 1,60 metros e se constrói o trecho a partir de Herval em direção à Argentina; ou constrói-se novo leito, vindo pelo Vale do Itajaí, cortando Curitibanos, Campos Novos, Herval D´Oeste/Jaçaba, até atingir a fronteira Oeste, passando por Chapecó.
Cara, não é que perceberam que nosso Oeste, aqui onde tem bastante gringo grosso, é importante!!
Estamos felizes. Antes tarde do que nunca. Os governos Estadual e Federal estão tentando entender-se. E vão. Pelo amor (interesse político), ou pela dor (necessidade efetiva e inadiável), irão entender-se. Isso mesmo: antes tarde do que nunca! O Oeste merece isso! Que venha o trem! E quem sabe as cegonhas também sejam substituídas pelos vagõs de trem e as crianças possam embarranquear-se e ficar gritando: "É Meu! Aquele branco é meu!...
Euclides Riquetti
22-04-2013
Mas também vinham e iam os trens de carga, traziam areia de Porto União, levavam madeiras da Santos Almeida, da Pagnoncelli Hachmann e da Zortéa Brancher para os grandes centros, principalmente São Paulo, e para as exportações via Paranaguá, São Francisco, Itajaí e mesmo Santos. E gado bovino para Sorocaba, porcos para Ponta Grossa. Bergamotas e laranjas que os irmãos Teixeira levavam da Linha Bonita e do Avaí para Caçador. O trem, realmente, fez parte de minha história, de nossa história. Até mudanças de gente que ia embora.
Essa alegria acabou em 1983 quando, após a grande enchente, houve a paralisação desse tipo de transporte no Vale do Rio do Peixe. A América Latina Logística, que adquiriu a "Rede", não cumpriu com aquilo a que se propôs, não melhorou a ferrovia, e nossa Estrada de Ferro está uma vergonha. Em algumas cidades, poucas, onde há muito interesse na promoção da atividade turística, as Prefeituras até ajudam a conservar a via férrea. Em outras, só a lamentar... Ah, não esqueçamos: De vez em quando ficamos sabendo dos tais de "Trens da Alegria", mas esses só levam gente privilegiada, não os mais simples mortais...
Saudades do Trem. Porém, algumas pessoas, sabiamente, dizem que "quando as coisas não acontecem pelo amor, acontecem pela dor". E, parece-nos, a dor vai salvar o transporte ferroviário. Bendita a dor que Deus manda para acordar algumas pessoas que não se movimentam apenas pelo combustível do amor! Então, que lhes venha o método pelo qual melhor entendem as coisas.
Com a expansão das atividades da agroindústria em todo o Oeste e Meio Oeste Catarinense, acrescido o fato de muitos agricultores terem abandonado o trabalho na lavoura, mais a impossibilidade de trabalhar na terra por questão das declividades, das áreas de preservação, etc. etc., e também porque o investimentos em insumos, maquinários e mesmo mão-de-obra ficaram impraticáveis, nossa produção de milho parou de crescer. Melhorou a produtividade, mas não temos suficientes áreas disponíveis para o plantio mecanizado. Todos esses fatores e outros que qualquer técnico em agropecuária enumeraria e justificaria bem melhor do que eu, fizeram soar o sinal de alerta: Temos grande capacidade industrial instalada, temos conhecimento, vocação, mercado, disposição para o trabalho, dominamos as melhores tecnologias, mas nos falta o milho.
Assim, depois de muita enrolação e embromação, no país onde todos podem comprar carros mas poucos conseguem comprar uma casa para morar, descobre-se que "dormimos em berço muuuuito esplêndido", e precisamos reativar as existentes ou costruir novas ferrovias. E as auspiciosas notícias: Vem aí a Ferrovia Norte Sul, que nos permitirá trazer milho e soja do Mato grosso e Goiás. E vem aí a Leste/Oeste, que ligará o Porto de Itajaí a Dionísio Cerqueira, cortando todo o Grande Oeste. Em discussão, duas alternativas: Restabelece-se a ligação de São Francisco do Sul/Mafra/Porto União/Herval D ´Oeste, com a substituição dos trilhos e dormentes existentes, ampliando-se a bitola para 1,60 metros e se constrói o trecho a partir de Herval em direção à Argentina; ou constrói-se novo leito, vindo pelo Vale do Itajaí, cortando Curitibanos, Campos Novos, Herval D´Oeste/Jaçaba, até atingir a fronteira Oeste, passando por Chapecó.
Cara, não é que perceberam que nosso Oeste, aqui onde tem bastante gringo grosso, é importante!!
Estamos felizes. Antes tarde do que nunca. Os governos Estadual e Federal estão tentando entender-se. E vão. Pelo amor (interesse político), ou pela dor (necessidade efetiva e inadiável), irão entender-se. Isso mesmo: antes tarde do que nunca! O Oeste merece isso! Que venha o trem! E quem sabe as cegonhas também sejam substituídas pelos vagõs de trem e as crianças possam embarranquear-se e ficar gritando: "É Meu! Aquele branco é meu!...
Euclides Riquetti
22-04-2013