"Que legado uma mãe pode deixar para uma filha? Que tipo de lembranças, de lições, ensinamentos?"
Imagino que a amiga leitora deve estar remetendo seu
pensamento de volta ao seu tempo de criança. Às saudosas lembranças
daquele ser que a pôs no mundo, deu-lhe educação, orientou-a, ajudou-a
de alguma fora. Até a amparou na hora em que teve filhos. Muitas,
felizmente, ainda as têm por perto, muitas vezes dividindo com elas o
mesmo teto. Mas mesmo meninos e rapazes seguem os ensinamentos de suas
mães, pois são elas que estão presentes na maioria do nosso "tempo de
criança".
Perguntei a uma jovem senhora que lembranças ela tinha de sua mãe, que hoje já está velhinha:
"Minha mãe teve uma presença muito forte e marcante em minha
vida, embora eu tenha saído de casa muito jovem, antes de meus dezoito
anos. Ela me deixou alguns príncípios e valores que sempre procuro
seguir. Respeitar as pessoas e dar-lhes o devido valor. Não ter nada do
que não é legitimamente nosso. E, se alguém nos der algo, fazer um
serviço para retribuir. Oferecer-se para fazer-lhe alguma coisa. Todos
podem pagar por aquilo que recebem".
Certamente que, seguindo essas orientações, ela se deu bem,
constituiu sua familia, estudou, trabalhou e pode-se considerar uma
pessoa realizada e feliz. Claro que também aprendeu os afazeres do lar,
os cuidados com a casa, com a comida, com as roupas. E, aquilo que se
aprende com a mãe se internaliza, fixa, preserva-se.
Ora, como é bonito ver uma pessoa dizer: "Esta cuca me faz
lembrar das cucas que minha nona fazia. E que, depois, minha mãe também
fazia!" E, agora, certamente que esta mãe, que pode já estar também
sendo avó, ensinará suas filhas ou netas a fazer. Mas também
poderia dizer em relação à macarronada com seu delicioso e incomparável
molho, o bolo de anivesário carinhosamente preparado ou enfeitado, a
bolacha pintada com açúcar cristal colorido ou com aqueles chumbinhos
de confeitos. Ou a toalha bordada, o jogo de cama bordado e crocheteado,
a blusa tricoteada, a toalha franjeada.
Por falar em toalha, quando fui para a Faculdade e mudei-me
para Porto União, minha mãe me fez uma toalha de algodão com uma belas
franjas bem trabalhadas. Era macia, gostosa, linda! Mas, naquele tempo,
eu não entendia muito desse valor que as coisas têm, que trazem na sua
elaboração o carinho das mãos dadivosas ou mesmo as lágrimas de uma
saudade que ainda virá... E, para mim, veio, muitas, muitas vezes,
fazendo brotarem-me lágrimas de saudades!
Ah, cara leitora, que bom ter tido uma mãe presente, mesmo que
morando longe dela! Ou podido partilhar com ela todas as emoções de
ter gerado os filhos, ver chegarem os netos!
Pois convido você a meditar. A voltar ao passado. A lembrar,
relembrar. A analisar, com profundidade, quantas e quantas belas lições
ela lhe deixou. Quantas vezes foi ombro para você chorar e, com
sabedoria, ensinou-lhe a dar tempo ao tempo, aguardar a chegada de
soluções para os problemas, respostas para suas angústias? E, se ela
não está mais aqui, faça-lhe uma bela e silenciosa oração. Deixe seu
coração rezar por você. Se ainda vive, ligue pra ela, agradeça por
aquilo que ela lhe deixou e lhe ensinou. Ou, se ela está perto de você,
dê-lhe um abraço, enregue-lhe uma flor, deixe que ela perceba que você é
aquela filha que ela quis ter.
Hoje, em especial, da forma que for possível, dê-lhe seu mais profundo carinho!
Euclides Riquetti