sábado, 13 de setembro de 2014

Uma História Real


Zina e Breca - Cachuca e Cride - uma história real

          Dois de junho de 1973 - sábado. Dia de Festa Junina em Porto União, no Colégio Cid Gonzaga. Toda a juventude das cidades gêmeas do Iguaçu estava ansiosa para que esse dia chegasse. É que acontecia uma festa muito badalada por lá. Além dos folguedos, dança na sala do auditório. Talvez que essa fosse a parte mais esperada da festa...

          O Professor Welcedino, um "serra-abaixo" catarinense gostava de ter tudo bem organizado. A festa era muito esperada. Quadrilhas de danças, quentão, pipoca, pinhão, doce de abóbora, amendoim, pé-de-moleque... Foguetes espocando no ar. As rádios Colmeia, Difusora e União com seus locutores falando do evento. Os jornais "O Comércio", "Caiçara" e "Traço de União" dando força. E nós, jovens, na expectativa.

          Mandei uma carta para minha irmã Iradi convidando-a. Veio com a prima Salete (Baretta). Foram hospedar-se na casa da prima Gena (Casara) que estava estudando por lá. Chegaram na sexta à tarde. Tudo preparado para irmos à Festa no sábado. Imperdível!

          Mas um imprevisto quase que atrapalha nossos planos. Nosso colega da República Esquadrão da Vida, o Celso Lazarini, o Breca, nascido no hoje Lacerdópolis (quando ainda petencia a Capinzal) e que  morou na casa do Serafim Andrioni, no Ouro, e em 1968 trabalhava nas Casas Eduardo, em Capinzal, estava machucado.  Era o melhor goleiro de futsal em União da Vitória, fora profissional no futebol de campo, goleiro no Iguaçu. Pois na  sexta levou  um chute no nariz, na Quadra do Túlio de França.  O Dorinho  ia fazer o gol, o Breca foi brecar e o pé do artilheiro feriu o nariz de nosso colega. Emergência, cirurgia. Ficamos todos muito preocupados. Víamos o sofrimento do amigo e tínhamos nossa programação de lazer. Não queríamos perder a festa,  nem deixar o amigo sozinho em casa naquele sábado. Precisava de cuidados. Ele dizia que podíamos ir, que ele mesmo se cuidava. Gentil como sempre. É assim até hoje.

          Pertinho de casa havia um salão de estética, o "Silhueta". A Zina, a Célia comandavam. A Ivone, cunhada da irmã da Zina, estava sob seus cuidados. Eram minhas amigas. A Zina estava chorosa, de mal com a vida, deprimindo-se. Pedi-lhe um favor. Perguntei-lhe se poderia cuidar do Breca naquela noite para que pudesse participar da festa junina no Cid. Disse-lhe que ele estava machucado e precisava de cuidados. Pensei que um podia cuidar do outro. Aceitou que eu o deixasse em sua casa. Cuidaria dele. E assim o fez.

          Fomos com os colegas, o Osvaldo e os dois  Odacir, o Giaretta e o Contini, mais  minha irmã  e a prima para a festa. Eu de braços dados com minha irmã. O Boles não foi, tinha que ficar no ponto de táxi com seu Corcel 4 portas. Era um horário bom pra ganhar uma graninha.
Na chegada, percebi que havia uma bela garota com quem eu tinha dançado no "Clube 25"  duas semanas antes. Ela deve ter-se decepcionado comigo, pois eu estava de braços dados com uma de quase minha altura. Não sabia ela que era minha irmã que estava comigo.  Adiante, contou-me que pensou que era minha namorada...

         Na dança, muita animaçao na sala do auditório. Um colega meu era Cabo do Exército Brasileiro, do 5º BE, de Porto União, Odacir Contini. Educado, respeitava as regras dos militares. Quando íamos ao cinema, com os Cabos Frarom, Backes, Godói, Figueira ou Maciel, tínhamos que sentar atrás de qualquer oficial superior deles. Então, no Cine Ópera, entrávamos olhando para as cadeiras e precisávamos  ir ao fundo do cinema ver os filmes e respeitar essa regra hierárquica. Nenhum subalterno podia sentar à frente de um superior.  Pois bem, o Contini falou-me: "Vou tirar aquela morena que está com a Dora pra dançar. E, educadamente, deu a volta por detrás dos  presentes, pois havia um sargento no local.

          Quando vi que era a garota que eu conhecera poucas  semanas antes, cortei caminho pelo meio do salão. Eu não era militar, não  tinha superior, podia ir por onde bem entendesse. E, quando ele lá chegou, eu já estava com ela. E dançamos. Dançamos, dançamos  muito, rimos, contei-lhe piadas.

           Hoje, 40 anos depois, continuamos a dançar, juntos. Temos três  filhos e uma neta...

           E o Breca e a Zina?    Bem, ela está cuidando dele há  40 anos também. Têm uma filha, a Marcela, que voltou recentemente para Porto Uni'ao depois de estudar na Austrália.  O Breca  vende carros em sua loja numa bela esquina da ida para o Estádio do Ferroviário. A Zina tem seu salão ali perto do Clube Concórdia. Continua igual há  40 anos. A mesma disposição, a mesma silhueta, a mesma amabilidade e a mesma simpatia. Visitei-os na época do carnaval de 2013.  Rimos muito, contei para duas amigas dela essa história. Disseram-me que eu deveria escrever sobre isso. Então aqui está.

           Duas histórias que começaram no mesmo dia. E, mesmo com as dificuldades do dia-a-dia, com todas as barras enfrentadas, formamos nossas duas famílias. A Zina e o Breca, a Cachucha e o Cride.


Euclides Riquetti

"Na tua janela..."

Tento jogar flores amarelas
Na tua janela
Que se esconde de mim
E que se oculta na rua, na estrada sem fim...

O aroma do perfume amargo da arruda
Embalsama as sempre-vivas
Formosas, elegantes, desnudas
Nas doces  manhãs coloridas...

A sinfonia da noite tinge os galhos das plantas
Que sombreiam o jardim onde tu cantas
E a lembrança de teu olhar envolvente
Vem-me com o vento que sopra,  levemente...

E eu mergulho nos pensamentos que me embalam
E me embriagam
No doce frescor das últimas noites de outono
Em que me falta o sono...

E eu me entrego a conceber-te os versos certos
Diversos
Enquanto escrevo sobre as flores amarelas
Que sonhei deixar
Na noite de luar
Na tua janela...

Euclides Riquetti
13-09-2014

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

O voo da garça

O Voo da Garça

A garça voa o voo leve da alma
Voa a garça
Voa como a branca pluma, com graça
Voa a garça.

E, no voo breve, voa lenta, calma
Voa com toda a graça a garça.

Voa o infinito, voa por instinto
Voa sobre o monte a garça...
E pousa na torre da igreja
Ou na árvore da praça
Voa e pousa a garça.

E seu voo atrai o disperso
O menino, o esperto
O velhinho, o passante
E voa de novo a garça.

Vai, seguindo os trilhos dos raios de sol
Cortando o azul, a garça.

E pousa suavemente sobre a nuvem
Uma nuvem feita branco lençol...
E descansa outra vez a garça!



          (A garça povoa os meus sonhos,
orienta minha vida.
          A garça é meu ser, é você, sou eu...
A garça é meu norte seguro, é minha inspiração...
          É minha emoção transmitida no papel...
Euclides Riquetti)

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Não quero ser uma nuvem cinzenta

Nuvem Cinzenta
Não quero ser uma nuvem cinzenta
A confundir teu pensamento
Quero apenas diluir-me no firmamento
Vagar na atmosfera turbulenta.

Não quero ser apenas um relâmpago
A rabiscar a infinita escuridão
Apenas ser a relva a cobrir  o chão
Aparando a chuva que vem em cântaros.

E, mesmo no pisoteio dos passantes
Restar amassada para ressurgir
E, feita uma fênix emergir
Liberta do peso dos pisantes.

E, sorvendo a energia do sol que haverá de vir
Dizer-te: Vem e pisa em meu coração
Só não mates minha grande paixão
O grande amor que guardo dentro em mim...

Por ti, pra ti, para ti!

Euclides Riquetti

terça-feira, 9 de setembro de 2014

Eu quero ser teu sol

Eu quero ser teu sol
Eu quero ser teu sol
Morenar teu corpo levemente
Dourar teus cabelos  infinitamente
Eu, apenas eu, teu sol...

Eu quero ser teu sol
Beijar teus lábios docemente
Acariciar tua pele suavemente
Eu, apenas eu, teu sol!

Quero me perder em ti e que tu te percas em mim
Quero me abraçar a ti e que tu te abraces a  mim.

Quero ser teu sol novamente
Beijar-te, ter-te, perdidamente
Brilhar  pra ti e que tu brilhes pra mim com afã
Em todas as  tardes  e em cada manhã
(Quero dar-te o que buscas incessantemente)
Apenas eu, teu sol...

Euclides Riquetti

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Num poema, no brilho do luar

Olhe para o universo vasto e estrelado
Contemple a beleza deste nosso céu
Olhe para o teto imenso e enluarado
Que se veste  com este santo véu.

Olhe para a beleza do medalhão prateado
Que compõe o cenário que nos cobre
Olhe todo este mundo santo e encantado
Que nos presenteia com seu retrato nobre.

Olhe, intensamente, para nunca mais esquecer
E marque cada canto de nosso belo espaço
Guarde, carinhosamente, enquanto você viver.

Abra sua janela, busque-me em algum lugar
Receba, com toda a paixão,  meu carinhoso abraço
Que lhe mando num poema, no brilho do luar.

Euclides Riquetti
08-09-2014






domingo, 7 de setembro de 2014

Dionísio Ganzala - Cabo do 5º BE - padrinho e afilhado!

          Recebi, no sábado, a informação do falecimento do amigo Dionísio Ganzala. Ligou-me sua sobrinha, Kátia Bazzo, minha ex-aluna, ex-colega de trabalho, que mora em Ouro. Ela sabia do carinho e apreço que eu tinha por ele. Fiquei muito triste por ele ter partido. Um pouco mais velho do que eu, natural do interior de Campos Novos, localidade de Pouso Alto, perto do Rio Pelotas, no hoje município de Zortéa. Conheci-os em União da Vitória, em março de 1972. Era Cabo do Exército Brasileiro, servindo ao 5º BE, em Porto União.

          Fui convidado pelo conterrâneo Leoclides Frarom, o Leo Fra, para morar na "República Esquadrão da Vida", localizada na Rua Professora Amazília, 322, bem em frente a onde se localiza o Banco do Brasil, em União da Vitória. Era uma casa de madeira com frente em alvenaria, amarela. Formamos uma turma de 10 jovens, todos estudantes, a maioria universitários. A antiga "CABOLÂNDIA" que antes abrigava cabos do 5º BE, estava hibrizada, agora com muitos civis, pois os que se desligavam do Exército, acabavam trabalhando em bancos e na iniciativa privada.

          Aderbal Tortato era ex-Cabo e trabalhava no Banco do Brasil. Mineo Yokomizzo e Francisco Samonek eram meus colegas de Letras na Fafi e também atuavam no BB. Evaldo Braun e Osvaldo Bet em companhias que construíam rodovias. Odacir Giaretta era moveleiro. E havia os Cabos Frarom, Backes (João), Dionísio (Ganzala). Depois vieram os Cabos Figueira (local), Maciel (Concórdia) e Godoi (Caçador).  E o Boles (Boleslau Myska), taxista e depois empresário, virou hoteleiro (Rio Hotel). O Aclair (Dias), também Cabo, que veio de Caçador, já havia buscado outro rumo. O mesmo acontecera com o Cabo Arnaldo Della Giácomo.Também moraram conosco o João Luiz Agostini, seu irmão Carlos, que estão em União da Vitória, e o Eduardo Bet, de Bituruna, que fez carreira militar em Brasília. O Celso Lazarini, que jogou no Iguaçu, e está morando no Porto. Lodovino Pilatti, de Tangará, era uma espécie de convidado, também se alojava lá nos tempos de FAFI. Tínhamos um grupo com muita força intelectual e até física.

          O Dionísio era uma "santa alma". Um cidadão muito simples, levantava de madrugada e, às 5 horas, era normal ouvi-lo fazendo exercícios físicos e tomando banho com o chuveiro desligado naquelas madrugadas frias de inverno, que só quem morou lá sabe como é. Maior do que eu, que tenho 1,83 metros. Muito forte, um gigante. Competia nos jogos do Batalhão. Rastejava na lama sob arame farpado, subia pelas redes, pulava obstáculos, era um exímio remador. Corria atletismo e, nas marchas a pé, ia até São Mateus do Sul com seus companheiros. Nem cansava. Assim era meu colega Dionísio, com quem desenvolvi grande afinidade por sermos oriundos da mesma região.

          Fui estudar Letras e não tinha boa base em Inglês. Ele me deu seu livro básico para eu fosse resolvendo exercícios (ele estudava no São José, num curso intensivo que denominavam de mini-Ginásio, à noite). Depois, vendo que eu gostava de jogar bola e não tinha chuteiras, deu-me sua "Gaetta nº 43", que ficava um pouco folgada no meu pé, mas que quebrava o galho. Era assim o amigo. O que era seu era dos outros também.

          Quando criaram a Loteria Esportiva, começou  a jogar adoidadamente. Ensinou-me que "zebra" era quando um time grande perdia para um pequeno.  Era muito festeiro, frequentador de casas noturnas, de todos os ambientes possíveis. Fazia sucesso com as gatas. Me apresentava aos outros como "Sargento Riquetti", pois eu havia raspado o cabelo ao passar no vestibular e parecia mesmo um milico. Dava-me moral. Contava-me suas histórias de pescarias e caçadas na beira do Pelotas. Tinha planos, mas teria que deixar o Exército porque não conseguira estabilizar a "QM", como dizia ele.

          Aplicou suas economias de cinco anos num Fundo de Investimentos que quebrou e ele ficou sem nada. Saiu do batalhão e não tinha mais tudo o que economizara. Mesmo assim, com um colega do Exército, que era de Concórdia, compraram a"Boite Karandache", que acabaram vendendo porque há uma diferença muito grande entre você ser frequentador e ser administrador.

          Num fim de tarde, chegou um recado através de um vizinho, um funcionário gentil da Copel que tinha telefone: seu pai havia falecido em Pouso Alto, interior de Campos Novos. Veio com o Corcel 4 portas do Boles para dar adeus ao seu progenitor. Em razão disso, voltou para o sítio da família, definitivamente. E, quando fui morar em Zortéa, encontrei-o no escritório da Zortéa Brancher, onde eu trabalhava à tarde no Financeiro e lecionava pela manhã e noite na Escola Major. Ele, por sua vez, estava lecionando na Escola Municipal de Três Porteiras, ali perto de onde morava.

          A vida dele deu uma guinada extraordinária. Um dia, disse-me: "Riquetti, você sabe tudo o que eu já fiz na minha vida, de bom e de ruim. Mas agora estou com Deus. Fui um pecador, mas agora deixei de ser. Deus é minha vida e meu norte é a Bíblia". E o Cabo Dionísio, que baixara das Forças Armadas como Terceira Sargento da Reserva, era um soldado de Deus. Ficava muito nervoso quando as coisas saíam do rumo, defendia a moral e os bons costumes.

          As pessoas o jugavam doido, mas eu o compreendia e respeitava. Fora um bravo soldado no 5º BE e era o responsável pelo "Paiol de Munição", um serviço que era outorgado somente para pessoas de extrema confiança do Comando Militar. Um atleta vigoroso e obstinado e eu ficava chateado porque as pessoas não davam a ele o devido valor. Muitas vezes, as pessoas tratam os outros pelas aparências, sem conhecer as virtudes que eles têm. Nos últimos anos, juntou-se aos companheiros de Igreja, fez pregações, realizou batizados nos rios, foi servente de pedreiro, agricultor e até participou dos Movimentos  dos  Sem-terra. Eclético, nunca perdeu a candura...nem sua alma deixou de ser nobre, nem seus gestos deixaram de ser polidos!

          Ele e o Cabo Backes me apelidaram de "Alegria". Também me chamavam de "Sorriso". E o Backes o chamava de "Triste". Coisa de jovens! O Jair Backes, que é meu vizinho aqui em Joaçaba, informou-me que o Backes, seu irmão, o Cabo, faleceu há três anos,  no Mato Grosso. Tinha casado com a namorada, Holga, me parece, que era vendedora na Loja Vencedora, ali em União da Vitória.

          Ontem escrevi um poema que postei no meu blog: "No dia em que você partiu". Era minha homenagem aos amigos que se foram. vale para o Dionísio, o Backes, o Godoy, que fez carreira no Exército e já faleceu. Enquanto escrevia, as lágrimas dificultavam-me ver a tela do computador. Amigo verdadeiro é sempre amigo verdadeiro! Que os três amigos se encontrem lá no céu e possam continuar com o lema de nossa república de estudantes do início da década de 1970: "Neste Natal, nós, da República esquadrão da Vida, estaremos alertas e vigilantes". E continuamos sempre vigilantes, rezando pelos amigos que se espalharam pelo Brasil, tiveram suas famílias e são pessoas muito honradas.


           O Dionísio sempre me procurava lá em Ouro. Imaginei que aquela fortaleze devesse durar 100 anos! Mas não foi assim, infelizmente. Tenho algumas histórias que eu poderia escrever sobre ele. Quem sabe, num sonho, ele me autorize a contar. Ao contrário, serão segredos que ficaram em mim e nas pessoas que melhor o conheceram... De qualquer forma, em algumas ocasiões, pude ajudá-lo a resolver problemas seus. Ele me dizia que eu era "seu padrinho". E eu dizia que não, que era ele que era meu padrinho, desde os meus 19 anos, lá no Porto. Importa-nos, tanto a mim quanto a ele, que éramos amigos e o que eu posso fazer por ele é rezar e poder dizer aos amigos quem ele foi, o que foi, e quanto bom ele foi.


Grande abraço, amigo Dionísio, de seu amigo Riquetti, "sempre alerta e vigilante"!

Euclides Riquetti
07-09-2014