Quando criança, costumava ir sagradamente às missas da Igreja
Católica, lá no Rio Capinzal. Primeiro, em Leãozinho, onde o Frei
Crespin Baldo vinha celebrar uma missa a cada dois meses, pelo menos.
Vinha a cavalo, fazia seus ofícios religiosos e ia embora. Meus
padrinhos e seus filhos me levavam com eles. Eu ia faceiro, com a
blusinha verde com listras brancas, horizontais, que minha mãe me
mandara. E com os sapatos novos, pretos, que meu pai comprara na loja
dos Zuanazzi, ali na esquina contraposta à dos seus concorrentes, da
família Macarini, defronte ao casarão do Sílvio Santos. Comprava sempre
um ou dois números maior, para que, quando o pé crescesse, não
escapasse. E já vinha com amassados do "Correio do Povo", na ponta, para
que tomasse boa forma no pé., não escapassem.
A parte
boa da missa era que, após, íamos brincar com os filhos dos Seganfredo,
Andrioni, Biarzi e Frank, Pissolo e Reina, correr pelo gramado e passar
pela ponte coberta, sobre o Rio Leãozinho", que dava acesso à Gruta de
Nossa Senhora de Lourdes.
Nos domingos em que não
tínhamos a missa pela manhã, tínhamos a reza do terço à tarde. Lembro
que praticamente cada família tinha um integrante no grupo que puxava as
orações. Então, além das já mencionadas, havia os Santini, Bussacro,
Tonini, Savaris, Poyer, Guzzo, Santórum e outros. E, ocasionalmente,
puxavam a "Ladainha de Nossa Senhora", em latim, prática que desenvolvem
até hoje. Acho que é um dos costumes mais antigos da Igreja Católica
que está remanescente numa região de grande predominância da colonização
por descendentes de italianos.
Eu não prestava muita
atenção aos sermões do Frei Crespim, mas lembro perfeitamente que ele
condenava os pecadores, falava nos pecados mortais e veniais. Mortais,
eram aqueles muito graves, como por exemplo, tirar a vida de outra
pessoa. E as pessoas perguntavam: "E os soldados, que matam os outros
soldados nas guerras, ficam com pecado mortal?" Para isso nem precisava
da resposta do sacerdote: matar na guerra não era pecado...
Adiante, adolescente, fui aprendendo. Havia os pecados
veniais, que eram os mais simples, que bastava confessar-se,
semanalmente, e pedir perdão ao padre que, representante de Deus,
perdoava. O problema maior era a vergonha. Alguns desses pecados veniais
eram, por exemplo, dar uma espiadinha nas pernas de alguma garota,
coleguinha que fosse. Isso quando houvesse um descuido dela, porque as
saias não eram curtas. Beijar, então, só quando fosse noivo, e não na
frente dos pais. Então, aquele beijinho sutil, roçado, roubado, na
subida da escada, só depois de noivos...Amassar, na época, era sovar a
massa do pão, ou bater o paralama da bicicleta num poste, no meio da
rua. Aliás, eram tão poucos os carros que, em muitas vias, estes eram
fincados bem no meio, sobrando espaço dos dois lados para que os
eventuais carros pudessem passar. Amassar, agora, é passar a mão, dar
abraços apertados, enfim, dar amassos, você sabe em quem...
Roubar era pecado grave. Além de pecado, era uma vergonha
muito grande. Roubar galinhas para fazer brodo em turminhas de amigos,
no inverno, era um pecadinho levezinho... Mas roubar galinha pra comer
em casa era muito feio. Mais feio do que pecado. E, a gurizada, para não
cometer o pecado, burlava: "maiava". Maiavam melancias e jabuticabas,
onde quer que houvesse. Maiar caquis na Siap, indo de bote, pelo Rio do
Peixe, ah, isso fizeram muito, muito. Descumprir os "Dez mandamentos da
Lei de Deus" era pecado. Agora há outras classificações de pecados,
além dos mortais e veniais, algumas novas nomenclaturas, tipo "leves" ou
"pesados". Nunca entendi direito e nem vou pesquisar sobre eles.
Fala-se dos pecados capitais, pois os conceitos sobre pecado evoluíram:
gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça, vaidade ou orgulho. E
cada um tem um entendimento sobre eles conforme sua conveniência. Claro
que você, leitor (a), também tem o seu próprio entendimento e vamos
respeitar isso.
As pessoas não acreditam mais em céu e
inferno (nem eu). E tiram a vida de outras por motivos muito banais.
Há os "marcados para morrer", há toda a sorte possível de delitos contra
a vida. Das pessoas, dos animais, da natureza.
Antes,
por medo de pecarem e irem para o inferno, continham-se nas ações,
pensavam muito antes de atentar contra a vida, cometer qualquer delito,
por simples que fosse. Agora, por pensarem que não há punição, por terem
compreendido que a vida não é assim do modo como os padres e pastores
dizem que deveria ser, fazem tudo o que julgam necessário para ficarem
bem, levarem algum tipo de vantagem. Danando os outros.
Claro que nem tudo o que nos ensinaram era "pecado", é isso
que nos revela nossa compreensão de adultos. Entretanto, tenho saudades
daqueles tempos em que, se não fosse por educação, pelo menos pelo medo
os seres respeitavam os outros seres. Ah, como era bom!
Euclides Riquetti
13-04-2013
Vista interna da Igreja Matriz - Capinzal - SC - onde fui batizado, fiz minha catequese e primeira comunhão.