Dia desses, creio que numa manhã de sábado, saí a curtir o centro de Joaçaba. Pela geografia da cidade, há ali grande concentração de prédios, as ruas são um tanto acanhadas, não como as avenidas de Curitiba ou Brasília, e grande contingente de pessoas circulam pelas calçadas, movimentando o comércio. Alías, pela condição de polo microrregional, a ciade, com pouco mais de 25.000 habitantes, atrai uma população estimada em mais de 100.000 que têm interesses aqui. São milhares de veículos que ficam desfilando pelo centro, com uma ou no máximo duas pessoas em cada um. Carros bonitos, a maioria, de profissionais liberais, das mais afamadas marcas mundiais e dos modelos mais sofisticados.
Eu já tenho meus lugares estratégicos para estacionar, nas periferias, preferindo andar a pé, vendo pessoas, as vitrines das lojas, uma feirinha defronte à Praça da Prefeitura, aquelas máquinas de sorvetes, os carrinhos de xixo, pipocas, cachorro-quente... E também aqueles que gostam de fazer brincadeiras no semáforo da XV, caracterizados de palhaços, para ganhar seu honesto dinheirinho.
Estive no local onde meu filho trabalha, dei-lhe um abraço, cumprimentei seus colegas, saí. Bem defronte à empresa, na calçada, passava um senhor franzino, mais de 80 anos, humilde, boné verde bastante soleado na cabeça, roupinha modelo social surradinha, com aquele semblante de gente boa, humilde, dos que não fazem mal a ninguém. Apenas agradecem a Deus por estarem vivendo...
"Bom dia!", sapequei-lhe. Ele já tinha passado por mim uns dois metros, voltou-se e, suavemente, retribuiu ao meu cumprimento. E me disse; "Muito obrigado por me cumprimentar. As pessoas não costumam falar comigo, principalmente as com jeito de importante como o senhor". Fiquei assustado em saber que há pessoas que não cumprimentam pessoas com quem se esbarram, que encontram no dia-a-dia, mas as que ignoram, parecendo que elas não existem. Mas isso não pode me surpreendeer, pois em todos os lugares há pessoas que se portam assim. E eu não sou mais importante que aquele amável senhor pois, certamente, tem mais história do que eu, viveu mais dias, conheceu mais pessoas, trabalhou mais, ajudou mais, viu mais amanheceres e entardeceres, mais noites parou para contemplar o luar, ver as estrelas, tomou chimarrão com a esposa e os filhos mais vezes, enfim, tem uma bagagem cultural maior do que a minha e talvez que a sua, caro leitor (a).
Em cinco minutos descobri que seu nome é Pedro Moreira, temos em comum termos nascido em Capinzal, ele é parante dos Andrade, lá dos lados de Alto Alegre e Lindemberg e se orgulha muito disso. Apenas que é pobre, que mora em Herval D ´Oeste há algumas décadas, está aposentado e controla muito bem seu dinheirinho para que não lhe falte quando precisar comprar remédios. Foi-me gratificante conhecer o Seu Pedro, como me foi conhecer tantos a quem já dei carona no trevo e tantos que deram carona pra mim.
Ainda ontem, no meu bairro, na caminhada costumeira, encontrei um cara manquitolando, com uma muleta, a quem já dei algumas caronas, o Clóvis, frentista de de posto de gasolia, meia idade. Não o via há quase um ano. Contou-me que teve um acidente, que está desde fevereiro assim, mas que em um ano vai estar bem, disse-lhe o médico. Deu-me os detalhes do acidente, que não vou relatar. Algo bem inusitado, salvou-se por pouco. . Adiante, encontrei o Jaime, que perdeu o emprego por causa de uma reestruturação na empresa onde trabalhava, era jardineiro e zelador, agora uma "consultoria" sugeriu a ela terceirizar o serviço e ele ficou na mão. Mas esteve numa construtora que lhe indiquei, prontifiiquei-me em ser referência para ele, prometeram que o ficham já em janeiro. Por enquanto está fazendo uns biscates, está satisfeito porque está bem com a família e isso é o que mais lhe importa.
Como o Pedro, o Clóvis e o Jaime, conheci milhares em minha vida. Dei-lhe a atenção possível e isso nada custou-me. É muito fácil fazer com que as pessoas fiquem contentes, sintam-se valorizadas, incluídas. A formação que meus pais me deram, as dificuldades para estudar, trabalhar, manter uma família, foram-me moldando à vida, a aprender a respeitar os outros, ser gentil. Realizo-me pelas amizades que venho angariando em minha nova cidade, onde vivo a mais de 4 anos. Então, o que recebi deles em troca de meu cumprimento, foi-me sempre valioso, ajudou, quem sabe, a suportar pessoas intoleráveis, prepotentes, que me sugaram. Então, se você não sabe dizer: Buongiorno, Buenos Dias, Bonjour, Good Morning, Guten Morgen ou Namastê, então abra um sorriso e, em qualquer outro lugar do mundo, onde quer que esteja, vão entender que você é um ser humano, que percebe que há outros além de você.
O Bairro Nossa Senhora de Lurdes é meu chão, agora. Tenho centenas de conhecidos aqui. Ando a pé, frequento os lugares, somo amizades. Tudo ao preço de um sorriso, de uma Boa Tarde ou simplesmente por causa de um sincero "Bom dia"!!!
Euclides Riquetti
14-12-2012