Uma das coisas boas de minha vida é sonhar! Fechar os olhos, imaginar, navegar, sonhar... Passar por sobre fronteiras sem passaporte, sem documento: apenas com sorte! A sorte de encontrar seres que estão com a gente, que estarão, ou que já estiveram perto de nós, junto de nós...
Sonhar é meu, seu, nosso direito! Sonhar de dia, de noite, de pé, deitado, de qualquer jeito! Mas sonhar... E ensejar para que nossos sonhos se tornem realidade. Os sonhos, por si, nos possibilitam a vivência de realizades possíveis e impossíveis... Dentre estas, a de ter junto conosco pessoas que nos foram muito queridas e nos deixaram. Na noite de domingo, revivi momentos com meu querido pai. Deixou-nos num sábado, 18 de junho de 1977. Tinha 55 anos. Nascera Guerino Richetti, virou Riquetti. Guerino de "guerreiro"!
Posso asseverar que sou muito parecido com ele. Uma cópia, um clone. Meu jeito de me movimentar, de mover minhas mãos, de olhar para as pessoas, de ficar com o pensamento visivelmente distante. Os mesmos hábitos: Ler, ler muito, informar-me. Herdei isso dele. Quando nasci, lá no Leãozinho, então comunidade de Rio Capinzal, ele estava lendo "Os Sertões", de Euclides da Cunha. Quando escrevia, desenhava as palavras. Letra firme, uma verdadeira caligrafia. Estudou Latim , Filosofia, Francês, Italiano, aprendeu a tocar piano. Conhecia muito de História, de Geografia, de Matemática. Notas altas nos tempos de Seminário, o São Camilo, da Vila Pompeia, em São Paulo. Notas altas no "Normal", para habilitar-se ao magistério, no Mater Dolorum, em Capinzal, onde concluiu seu curso em 1963. Estava com 40 anos...
No domingo, mais um belo e agradável sonho. Sonhei que eu estava com uma amiga, ajudando-a a fazer a decoração para um ambiente de um evento cultural. Amarrávamos panos brancos entre colunas, provavelmente para mais uma daquelas "Noite do Canto, Arte e Poesia", que costumávamos organizar com os amigos poetas da APECOZ (Associação dos Poetas de Capinzal, Ouro e Zortea). Saudades disso também... Meu pai chegou, parecia mais alto do que era, embora tivéssemos a mesma altura: 1,83 metros. Estava com calças e camisa de manga longa, uma cor escura, uma combinação de preto ônix com preto dark. Sapatos pretos, bem lustros, como era de seu costume. Boina. Mas as maiores e melhores lembranças dele tenho-as com ele usando camisa branca e calça preta ou marinho.
A aproximação dele veio natural, parecia que estava verdadeiramente ali. Elegante, inteligente, culto, charmoso. Assim eu o via e é assim que eu o vejo e quero ver nos meus sonhos. Ele veio e disse que estava com um pouco de pressa, precisava dar aulas de Matemática... E saiu... Fique muito contente em vê-lo. Estava bem. Acordei-me sobressaltado, mas feliz. Eu o vi mais uma vez. Ele não era professor dessa disciplina, mas ensinou-me a fazer contas de medidas agrárias e volumes. Área de quadrados, retângulos, triângulos. Para este, dizia: "base vezes altura, dividido por dois". E fazia desenhos em papéis para eu entender. Para madeiras em toros: "raio ao quadrado vezes o PI (3,1416), vezes altura..." Aprendi isso antes de me ensinarem na escola. E, com 10 anos, eu fazia cálculos das roçadas e carpidas que os familiares do saudoso Sebastião Feliz da Rosa, o "Velho Borges", e seus filhos João e Dário empreitavam. Vinham lá em casa para que meu pai calculasse. E ele me punha na a fazer as contas: alqueires, quartas de terra...
Ora, misturo sonhos, lembranças e saudades. Saudades, porque isso é inerente à condição humana: quem não as sentir, não tem história, não tem passado, não tem sensibilidade. Lembranças, porque elas nos trazem alegrias. E se confundem com as saudades. E sonhos! Ah, esses sim! Sonhos que me permitem revivenciar realidades impossíveis. Como a de ter, perto de mim, pessoas que só podem vir com o sonho...
Euclides Riquetti
11-11-2014