Esse "conhecer de vista" consistia em que ela costumava passear, nas tardes de domingo, pela Rua Felíp Schmidt, em Ouro, dirigindo a pick up Willys de uma cor entre o gelo e o marfim, da família. "Passeava" devagar, com a atenção focada na pista. Na época, 1968, havia no vidro traseiro da caminhonete, um adesivo em que estava escrito "Homelite", cuja pronúncia é "homeláite". Era a marca de uma motosserra muito utilizada na época para a derrubada de árvores para alimentar as serrarias. O pai dela, o Herbert Hachmann, comandava tal serviço na empresa.
Uma coisa de que lembro bem é que as garotas da época diziam: "Lá vem a Homelite", com o i pronunciado como em português. Parecia-nos uma pessoa insensível e como se não tivesse amigos.
Em 1971, quando eu trabalhava no Ipiranga, ela vinha, no início do mês, para trazer nosso envelope de pagamento dos ordenados. Trazia os valores em cédulas de cruzeiros. Como eram muitos os funcionários da empresa, preferiam pagar em dinheiro, poupando o serviço de datilografar uma grande quantidade de cheques. Ainda, vinha semanalmente abastecer o Opala do seu pai e "passar um ar" e realizar uma limpezinha na parte interna, ou mesmo uma lavagem no carro. Foi nessa época que descobri que ela era bem diferente do que imaginava. Era simpática, atenciosa e cordata.
Os anos se passaram, saí para estudar em União da Vitória e depois trabalhar em Zortéa, e quando voltei ela já era esposa do Odilon Pizzamiglio, que adquiriu a Livraria Central, em Capinzal, a mesma que, alguns anos antes, pertencera ao Alfredo Casagrande. A Clarice trabalhava com o marido e cuidava dos filhos pequenos.
A Clarice e o Odilon tiveram dois filhos: o Thales, casado com a Edsangla, que lhe deram um neto e uma neta. E o Arlon, que casou-se com a Laura e lhes deram uma neta. O Thales foi colega de minhas filhas no Mater Dolorum. Nessa época, a partir de 1984, passei a encontrá-la muitas vezes, quando ela ia buscar os meninos naquela escola, ao final das aulas, no período da tarde. Adiante, tivemos uma convivência social com o casal.
No início deste ano, infelizmente, constatou-se que estava gravemente doente. Foi levada para tratamento no Hospital do Câncer de Barretos. Em junho, retornou, e seu estado de saúde estava muito agravado. Passou a ser atendida no Hospital São José e, depois, no Nossa Senhora das Dores, de Capinzal. Tinha dores fortes, mas o pleno apoio do familiares e das amigas, que lhe dispensavam os melhores cuidados.
Agora, resta-nos lembrar com carinho de uma esposa e mãe dedicada e muito orgulhosa de seus filhos e netos. Que Deus a tenha em seu Jardim Celestial, onde possa reencontrar suas muitas amigas que a precederam no caminho para a Eternidade. Que tenha as devidas compensações pelo bem que praticou em sua vida terrena. E, aos familiares, nossas mais sentidas condolências.
Com um afetuoso abraço em todos!
Euclides Riquetti
19-07-2014