Na sexta-feira, 15, recebi a notícia de que no dia anterior falecera, em Chapecó, meu antigo colega de infância, Vitalino Buselatto. Estudei com ele meu curso primário, no Mater Dolorum, em Capinzal. Em 1963 frequentamos o terceiro ano. Ele era Seminarista e naquele ano estivemos em salas separadas. Um na turma "A" e outro na "B". Lembro que eu sentava na fila à direita, perto da porta, na primeira carteira. A Anamar Brancher sentava na segunda carteira. Tínhamos em comum o costume de estar com os dedos e o lado da boca sempre sujos de tinta de caneta azul, pois ficávamos mordendo as ponteiras das canetas, umas porcarias que comprávamos na "Loja do Turco", que era de origem Jordaniana, ali no prédio do Clemente Zortéa. Nós éramos praticamente separados dos outros, nós e os demais da mesma fila, porque não éramos o padrão de "bom aluno", que a Escola queria produzir. A filha do saudoso "Seu Sadi Brancher", este uma figura de altíssima sensibilidade ( que chorou no jantar que tivenos no Grêmio Lírio, em 1979, porque o Hilarinho Zortéa estava se despedindo de nós para ir dirigir a filial da Zortéa Brancher em Gi-Paraná-Rondônia) virou médica. E eu... estou aqui a escrever para que tu leias!
Mas, voltando ao amigo Vitalino, tenho ótimas lembranças dele: a primeira, que os dois tiramos primeiro lugar, cada um em sua turma, eu na "A" e ele na "B". Nossa professora, a excelente Marli Sartori, depois Sobreira, bem apessoada, inteligentíssima, nos presenteou cada um com uma camisa da marca "Mafisa", a dele em tonalidade azul, e a minha marron. A Dona Marli, adiante, casou com o "bom partido" Vilela, do Banco do Brasil, ambos tinham o mesmo jeito de ser, calmos, demonstrando equilíbrio e tranquilidade. No ano seguinte, no quarto ano, na mesma sala os dois, eu e o Buselatto, com a professora (interna do Mater), Marilene Lando. E, em 1965, estudamos no Ginásio Padre Anchieta.
Nossas professoras de português foram, ali, respectivamente, a Lorena Moraes e depois, na segunda série, a Dona Vanda Faggion Bazzo, esposa do ex-expedicionário Vítor Bazzo, que trabalhava na Agência dos Correios e Telégrafos, que tinha filhos muito inteligentes. A Vânia foi minha colega no primário e a Vera Lúcia lecionou-me na quarta do Ginásio, noturno, o Juçá Barbosa Callado. A Vera foi a primeira pessoa que gostou de um texto meu. Antes, ninguém via nada de útil naquilo que eu fazia ou escrevesse. Como dizem os caras da "Siap", era um "pranada", ou seja, alguém que não serve para nada. E, o pior, é que eu era um "pranada mesmo", um preguiça.
Voltando ao Vitalino, uma vez que a Dona Vanda nos mandou pesquisar sinônimos de palavras no dicionário, como tarefa de casa. Ele morava na casa dos pais do Adilson Montanari, ali na Rua Pinheiro Machado, no Ouro. Fui ali à noite e choveu, aconteceram trovoadas e relâmpagos, faltou luz ( o que era normal), e fui para casa na estrada barrenta, apenas guiado pelos "relâmpios", com metade do trabalho por fazer. Ah, poucos tinham dicionário naquele tempo. Lembro que o Ademar Miqueloto tinha um também...
A segunda lembrança básica vem de uma vez em que, estudando ainda no Anchieta, como o recreio era de meia hora, durante esse tempo íamos comprar doces no bananeiro Augusto Hoch, ali na esquina onde se situa o BB/BESC. Ao voltarmos, os alunos mais ousados (sacanas mesmo...), tinham o costume de "inticar" com um senhor que descia a Rua (hoje Dr. Vilson Bordin), com seu jipe Willys 51, gritanto: "Engata o ré, engata o ré!!!" E todos corriam. E, num daqueles dias, todos correram, menos o Vitalino, porque ele não inticara com o homem, pois era quieto, educado. E o senhor desceu do jipe e deu um chute no braço do amigo, fraturando-o. Não fugira porque nada devia, era inocente, e pagou pelos muitos pecados dos outros. E tudo virou uma grande encrenca. O Giovanni Tolu (Frei Gilberto), Diretor, foi à loucura conosco. Queria bater em todos nós... E o Vitalino tinha um tio, Delegado de Polícia em Herval D ´Oeste, que comprou suas dores, e a história virou processo no Fórum da Comarca.
Ele foi para o Colégio Agrícola de Ponta Grossa. Eu estudei Contabilidade na CNEC, do diretor Dr. Antônio Maliska, que gostava muito de mim, e eu o respeitava muito. Ele foi trabalhar no IBAMA, eu fui me virar na vida, cursar letras, trabalhar para o Jorge Mallon, na Mercedes de União da Vitória. Depois disso, eu o revi apenas há uns 20 anos, no Novo Porto Alegre, numa festa. As pessoas de quem a gente gosta, não precisam estar sempre perto da gente. Basta que estejam perto de nosso coração, de nossa imaginação.
Minha homenagem ao "Gordo", que foi lá pra cima, encontrar-se com outro colega de turma, o Ézio Andrioni, o Bijujinha, que se foi em 05-05-1979, no dia em que tivemos a felicidade de termos a Michele e a Caroline, nossas filhas gêmeas. Saudades, Vitalino...
Euclides Riquetti
16-06-2012
sábado, 16 de junho de 2012
sexta-feira, 15 de junho de 2012
Geração Jovem Guarda
No início da década de 60, o então jovem município de Capinzal, no Baixo Vale do Rio do Peixe, era composto também pelos territórios de seus distritos de Ouro, Dois Irmãos e Barra Fria. Em 1963, no dia 23 de janeiro, Ouro emancipou-se de Capinzal, abrangendo em seu território os outros dois distritos. No mesmo ano, no dia 11 de novembro, concedeu emancipação aos mesmos, que se tornaram, respectivamente, Dois Irmãos e Lacerdópolis, sendo que o primeiro, adiante, passou a chamar-se Presidente Castelo Branco.
Naquela metade da década, logo após esses acontecimentos políticos, surgia no Brasil a Jovem Guarda, começando a aparecer no cenário musical Roberto Carlos (o "Brasamora"), Erasmo Carlos ( o "Tremendão") , Vanderléa ( a "Ternurinha"), Vanderley Cardoso (o "Bom Rapaz"), Jerry Adriani (o "Coração de Cristal"), e Martinha, como principais expressões. Havia o Agnaldo Rayol (o "Rei da Voz"), o Agnaldo Timóteo, que fazia sucesso com "Meu Grito", o Caetano Veloso, que adiante saiu-se bem com "Alegria, Alegria", o Chico Buarque, com "A Banda", e o Ronie Von (o "Pequeno Príncipe"), com "A Praça". O Sérgio Reis, também da mesma geração, projetava-se com "Coração de Papel". Depois, virou cantor sertanejo. Havia outros, os preferidos pelos adultos, que nós, teenagers, chamávamos de "Velha Guarda".
A Juventude e os teens curtiam muito as feras daquela hora, deixávamos os cabelos bem compridos, usávamos calças "boca-de-sino", uma camisas xadrez, de gola bem alta. As mulheres usavam "bomlon", arrumavam os cabelos à La Doris Day, e a charmosa Leila Diniz saiu para a praia grávida usando biquini, uma afronta aos costumes da época. Ah, leitor (a), tu deves ter sabido de todos esses acontecimentos, ou tomastes conhecimento deles algum dia. Foi uma época marcante de minha vida e da maioria de meus amigos.
Pois bem, naquela época, o Colégio Mater Dolorum apresentava o seu novo e imponente prédio. Nós estudávamos lá, a sua quadra de esportes era um terrão com pedras, onde se jogava caçador e vôlei. Lembro bem que o colega Milvo Ceigol, irmão do Neivo, perdeu parte de seus dedos numa serra elétrica, na Marcenaria de seu tio Orestes Albino Fávero e, com os dedos cheios de mercúrio, gaze e esparadrapo, teimava em ser escalado para jogar vôlei. Depois, havia uma mesa de pingue-pongue, onde estrelavam a Vênus Siviero, a Marlene de Lima, a Ana Shiley Bragatto (agora Fávero, que quando perdia uma jogada esboçaba um sorrisinho delicado e afastava-se suavemente da mesa). Havia uma interna, a Rita, que era muito bonita, e que o pai a visitava de vez em quando, com um jipão. Os alunos de primário usavam calça de cor cáqui e camisa azul, as meninas saia e blusa dessas cores. As alunas do Normal usavam saias bordô e camisas marfim. No Padre Anchieta, estudavam somente rapazes, camisa branca e calça azul. E a onda, na época, erta ouvier "iê, iê, iê". No ginasial, os rapazes no Anchieta e da garotas no Mater. É, não podia misturar menino com menina. E, no primário, quando alguém fazia bagunça, a primeira pena era ser colocado a sentar-se ao lado de uma menina.(Que humilhação, que vergonha...). E, os casos mais graves, eram levados para terem seu nome registrado no "Livro Negro" (Que medo!...). E diziam que os mais "fortes e disciplinados", iriam assinar o "Livro de Ouro". Nunca vi nem um nem outro, mas acho que existiam, não sei se sob as chaves da Irmã Marinela, da Irmã Fermina, da Irmã Terezinha. Esta, diziam que iriam dirigir a caçamba Ford, amarela, comprada para o transporte do material da construção do novo prédio. Mas o motorista acabou sendo, mesmo, o Lóide Viecelli.
Enfim, nós, que vivemos e nos encantamos com nossos ídolos da época, também fizemos parte da história de nossas escolas, de nossas cidades. E, agora, espalhados pelo Brasil, vemos a geração que nos sucedeu buscando espaços também em outros países. Cada um vai fazer sua história onde acha que deve fazer. O mundo mudou mais do que podíamos imaginar. Mas as tecnologias permitem que nos aproximemos.
É impossível esquecer de uma época tão boa de minha vida. E, certamente, também tua, leitor (a)!
Euclides Riquetti
15-06-2012
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