sábado, 18 de maio de 2013

O Sabonete e a Orora

O Sabonete e a Orora

          O ano era 1972. Plena juventude, cidade nova, novos amigos, morada nova. A vontade de conhecer novos lugares, novos ambientes. Fiz grande amizade com o Sabonete, meu colega de República Esquadrão da Vida e de Letras na  Fafi. Ex-seminarista e muito bem empregado, costumávamos sair juntos nos finais de semana para "explorar a cidade". Fomos ao Aeroporto José Cleto e conseguimos tirar fotos ao lado de um avião. Fomos ver o "Cristo", no alto do Morro, em União da Vitória, que estendia seus braços e olhar sobre o Rio Iguaçu e as cidades gêmeas. Andávamos a pé, gastávamos nossos sapatos.

        Mas também gostávamos de ir a Bailes no Clube Apollo, do qual ficamos sócios. E, nos domingos, tarde dançante no 25 de Julho. Imperdível.  De vez em quando, uma saidinha para São Miguel, em Porto União. E, naquele tempo, só entrávamos lá de terno e gravata. Ainda bem que tínhamos nossos ternos fa formatura do então Segundo Grau. No final do domingo, o Cine Ópera. Tudo para compensar a semana de muito estudo na Faculdade e no Yázigy, onde fazíamos Inglês para desenvolver nossa fluência na conversação.

          Mas tínhamos tambérm nosso lado "sinistro" das coisas. Só que o sinistro da época era bem light, soft. Era um sinistrinho brando... No domingo, iamos ao Estádio Enéas Muniz de Queiroz ver o Iguaçu, torcer. " Chuta, Joaquim! Corre, Rotta! Corta, Chavala! Defende, Roque! Juiz ladrão!!! Muita gritaria, reclamação com o juiz. E, em muitos de nossos sábados, a ida para as gafieiras, levados pelos "mais antigos", que sabiam tudo disso, eram experientes no assunto e na ára.  Tinham lá o Primavera, que era um "meia-boca", o Farinha Seca, o Boneca do Iguaçu, ao lado da ponte férrea, e o Poeira. Estes três eram "boca inteira". 

          Éramos muito tímidos, mas nossos companheiros nos encorajavam e acabávamos indo para "dar uma espiadinha". Lembro bem de uma vez que nos levaram para o Boneca do Iguaçu. O Sabonete, que era muito "liso", tinha alta formação religiosa. O apelido, uma conformação fonética e semântica, contando seu sobrenome e sua inteligência. Como bom de "argumento", sabia Latim e Grego,   ia na frente e pedia para que deixassem "dar uma olhadinha", sem pagar entrada. Cheio de falas,  prometia que se gostássamos pagaríamos ingresso e ficaríamos, viraríamos fregueses. Ao contrário, iríamos para casa.

          Pois que em nossa primeira incursão, tão logo passamos por uma cortina de fumantes, adentramos ao salão e lá tinha de tudo. Cheiro de cerveja e conhaque. Cadeiras de várias cores e modelos, mesas de múltiplas cores e estampas. E genrosas senhoras,  de todos os padrões: altas, baixas, esquálidas, obesas, loiras, morenas, ruivas. E os homens: de todos os padrões: pobres, ricos, feios, bem feios, mais feios, carecas, mais carecas, obesos, bem obesos, solteiros (nós e mais alguns) e... casados! Mais casados do que solteiros! Todos tinham bons motivos para ali starem.

          Até aí tudo bem não fosse o susto do Sabonete: "Vamos sair já daqui! Não podemos ficar! Tá louco, cara!... O meu chefe tá aqui. O que ele vai pensar de mim? Vai pensar que eu sou um depravado. E estou no estágio probatório... - Argumentei que quem tinha que se preocupar era o chefe dele, "bem casado", que estava ali fazendo festa, amassando uma "bem fornida, teúda e manteúda". Mas não teve jeito, o Sabonete ficou apavorado, dando graças a Deus que o chefe não o viu. Ainda bem que entramos na "condi"!sem pagar o ingresso!

          Passado o susto, demos umas caminhadas pelas ruas centrais,  olhamos as vitrinas da Loja do Zípperer, da Loja Olga, dos Domit, das lojas do Magazine Jacobs, passamos pelo Bar do Bolívar no outro lado dos trilhos, vimos os cartazes dos filmes do Odeon, do Ópera e do Luz, este bem perto de casa. Ainda passamos pela  Willy Reich, bem pertinho de casa. Era época do "Sesquitecentenário da Independência" e estavam inaugurando a transmissão de TV em cores no Brasil, até transmitindo a "Mini Copa" de Futebol. Nos embasbacamos com a beleza das imagens coloridas no aparelho.

          Chegamos em casa e contamos para o Frarom sobre a decepção que o Sabonete teve ao encontrar seu chefe, um exemplo de chefe, um homem honrado, lá com sua teúda amarrada ao pescoço no "Boneca".
E ele veio  com essa: "Olha, cheguei agorinha. Fui dar uma olhadinha no "Poeira", mas nem entrei. Só dei uma esticada de pescoço pela porta.  Estava no intervalo, porque lá a dança já começa pelas oito horas. E o vocalista da bandinha estava dando um aviso: "Queremos dizer para a sociedade portuniense que aqui comparece  que temos em nossas mãos uma aliança de casamento que foi encontrada no chão de nosso tradicional salão, tendo se grudado na sola do sapato de borracha daquele amigo ali, ó..." E ninguém se manifestou, ninguém que estava lá queria mostrar seu verdadeiro estado civil, "casado". Com  o precioso objeto  na mão, pegou-o entre os dedos  e foi adiante: "Olha, aqui estão  gravadas  as iniciais da dona dessa preciosa jóia: Começa com " Ó", deve ser da... "Órora"! E lá não havia Ororas nem Auroras...

          Nem precisou ele continuar com a história. Ríamos mais do jeito com que ele nos contava das histórias do que com a graça que traziam.  E começava uma rodada de histórias e piadas que nos faziam esquecer das tristezas. Tudo muito divertido. Melhor que ter ido ao bailinho! Diversão com economia de dez cruzeiros. Dava para pagar a lavadeira na semana.

          E o respeito entre o Sabonete e o Chefe dele nunca foi abalado...

Euclides Riquetti
17-05-2013




         

sexta-feira, 17 de maio de 2013

O Sapo da Juju

O Sapo da Juju

Ali no latão tem um sapo.
Não é grandão, nem grandinho.
Se fosse pequeno, seria um sapinho
E caberia no seu sapato!

Dizem que sapo não guarda mágoa
Dos meninos malvados que o chutam
Nem das meninas que não o escutam
Quando coacha lá na água!

Quando passo  no banhado
Ali pertinho do  matão
Eu fico muuuuuito assustado
Com os gemidos do sapão.!

Não importa a cor do sapo
E seu tamanho não importa, não
Não é branco como o pato:
É verde como limão!

O sapo da Juju
Está querendo uma sapeta
Pra lhe fazer bilu-bilu
E dormir com a chupeta!

Se é sapo, sapinho, ou sapupu
Não dá pra  ver ele, não
Por que o sapo da Juju
Ela guardou no coração!

Euclides Riquetti
16-05-2013










quinta-feira, 16 de maio de 2013

O Santo sim; o nome, não!

          Na Capinzal e Ouro,  na década de 1960 morava um cidadão que tinha muitas atividades. Era polivalente e "se virava" de muitos modos. Não deixava faltar nada para a a família.
Em tempos em que nós nem sabíamos direito "de que lado se situava o mar", ele já conseguia levar sua "tropinha"  para as praias no verão. E o cara também gostava de fazer piadas, de zoar com vida dos outros. Era só alegria!

          Gostava de falar palavras novas que aprendia. Guardava as mais difíceis e, quando surgia a oportunidade, usava nas suas falas. Fez o "ginásio" já bem madurão. Precisava estudar e trabalhar muito porque tinha que garantir o jabá da prole. Queria acompanhar a evolução dos tempos. Em seu estabelecimento, sempre tinha uma grande cuia para o chimarrão.  Sabia como agradar seus fregueses. Era chimarrão e conversa, muita conversa. (Naquele tempo, cliente era só medico e dentista que tinham, os demais eram todos "fregueses"...). E me dizia: "Olhe, Cride, o negócio é usar a Psicologia Aplicada ao Trabalho!"

          Ah, sim! O amigo, a quem chamarei de Zé da Kombi, foi meu colega de aula no Juçá Barbosa Callado. Era bastante aplicado, até. Não faltava às aulas. E lotava a furgona de gente na saída da aula, que ia despejando pela cidade, principalmente em dias de chuva. Nossos professores de Psicologia foram o Dioni Maestri e o Paulo Bragatto Filho. E gostávamos de Psicologia. Tínhamos isso no ginásio na época. Um privilégio!

          Nosso "gente boa", alíás muito boa por sinal, tinha umas "manias". Tantas que sua "vècchia" lhe deu as malas quando achou que o que ele fazia estava demais. E gostava de contar-nos as histórias de suas aventuras. Quando queria dar um "chego" na gandaia, saía de casa para jogar baralho. Ia a pé, deixava a Kombi na garagem. Mas tomava outro rumo.

        Uma das que bem me lembro era de suas escapadelas para os bailecos nas periferias da cidade. Contava-nos e dava risada. Ia para o salão do  "Sete Facadas", era muito amigo dele e bom freguês. Não deixava pendura, embora até crédito fácil tivesse se fosse preciso. Dançava umas "marcas", tomava umas cervejas, investia num abraços (hoje chamam isso de amassos),  e mais nada. E cuidava bem para que a camisa branca, de colarinho, não ficasse com marcas de rouge ou battom. O cheiro de cigarro dizia que era por causa dos palheiros que os companheiros tragueavam no jogo das cartas.

          Naquele tempo, nas redondezas do lugar, do outro lado do rio, havia outros salões: "O Bota Preta", o Sovaco da Cobra" e o "Alegria do Touro". Na entrada deles, sobre a porta, um aviso: "Tire o chapéu e entregue sua arma para o proprietário". Por uma questão de respeito...  Eram os clubes "alternativos" da época. Concorriam, com muitas dificuldades, com o Ateneu Clube, o Floresta e o Primeiro de Maio.

          Tinha um problema, principalmente nos dias de chuva. Não era por causa do guarda-chuva com as hastes de madeira e o cabo de chifre. Era o barro na rua. A rua que levava até o salão do Sr. Fontoura não tinha calçamento e precisava  ter cuidado para não sentar-se ao chão. Não havia tampouco lâmpadas nos postes. E não podia levar lanterna junto porque senão a patroa desconfiava. Mas o problema maior era com os sapatos. Não podia sair  de casa com galochas para ir jogar baralho ali pertinho, ela não iria compreender isso, pensaria que ele estaria aprontando...

          Então, quando ele voltava, mais de meia-noite, lavava os sapatos no riacho Coxilha Seca, ali em frente à Marcenaria São José. Em casa, deixava-os lá fora. No outro dia estavam secos e limpos, não davam  pista pra desconfiança.

          Como na época que não havia televisão nas casas,  as pessoas tinham muito tempo para pensar e bolar sacanagens. Uns amigos dele, uma noite, foram lá e passaram barro nos seus sapatos. E, de manhã, a "Dona Braba" viu aquilo e ficou furiosa. E o acordou dando-lhe chineladas. Ele, sem entender nada, começou a se confundir, pensando que esquecera de lavar os sapatos. Parecia que os tinha lavado. Será que bebera demais e não lembrava direito?! E isso lhe custou uma semana dormindo no sofá da sala...

          Tenho saudade dos causos que o amigo me contava e que nem posso escrever aqui, mas rio sozinho quando lembro deles. Levou azar alguns anos adiante, quando veio a TV. A patroa foi vendo muitas novelas, muitos filmes, por muito tempo,  e começou a ficar esperta na questão. Então a  história não teve um final feliz. Duas malas cheias de roupas e sapatos. E morar na Kombi... Deu-se mal nosso santo. Falo do santo, mas não digo o nome. Nem o apelido!


Euclides Riquetti
16-05-2013


         

quarta-feira, 15 de maio de 2013

Um Poema de Amor

Não há manhã sem sol que não seja agradável
Não há noite de luar que não o seja também
Não há tarde de chuva que seja interminável
Que não  se possa parar pra  pensar em alguém.

Não haverá mais amor numa carta chorosa
Não haverá  mais amor que em minha poesia
Não há, mas espero você, carinhosa
No canto que eu canto e que lhe leva a magia.

Não há nenhum dia que eu não componha um poema
Não há um só momento que eu não pense em lhe ver
Não há uma semana em  que eu não escreva
Um poema de amor, só de amor por você!

Euclides Riquetti
15-05-2013

terça-feira, 14 de maio de 2013

A Inclusão das Crianças com Limitações e sua Avaliação




A Avaliação no Processo de Inclusão

          Já me referi, na publicação "As Apaes e a Inclusão", sobre o importante papel  destas no apoiamento às pessoas portadoras de necessidades especiais. E mencionei sobre a importância da escola de ensino regular dar o atendimento que elas precisam, bem como as obrigações do Poder Público e os deveres da sociedade para com esses seres inteligentes e iluminados. E uma das questões que precisa de um tratamento diferenciado, justamente no ensino regular, é a da avaliação.
          A criança especial que está freqüentando essa escola  e que é portadora de alguma deficiência que a limita de ter um desempenho mental igual às demais, precisa, certamente, ter uma maneira  especial  de ser avaliada. E mesmo as que têm limitações físicas que lhe causam desconforto físico e psicológico.  Por isso, alguns fatores precisam ser observados cuidadosamente. Primeiro, é preciso que o avaliador tenha conhecimento das condições de cada criança, saber do que elas são capazes, o que conseguem realizar. Naturalmente que sua avaliação não pode ser objetiva e ela não pode ser medida com números, até porque sua sensibilidade  e sua maneira de ver o mundo também é diferente e isso precisa ser respeitado.

          As qualidades, inúmeras, que ela tem em si, já são  um ponto altamente positivo a ser considerado. Ela age com amor, carinho e  espera retribuição, imaginando que os outros seres sejam iguais a ela, pensem como ela. Sua avaliação também precisa ser muito dinâmica, pois o dinamismo, a mudança de comportamentos e de atitudes é uma constante nela. A criança inclui, involuntariamente, isso já é de sua maneira de ser. As avaliações convencionais na educação e a sociedade, em si, costumam excluir, retirar. Nossa criança especial precisa receber,  ter sua capacidade de incluir valorizada e retribuída, enquanto que as avaliações convencionais marginalizam e excluem.  

          Podemos, no entanto, dizer que os professores, de uma forma geral, evoluíram muito nesse sentido, estando  melhor preparados para fazer a avaliação da melhor maneira, contemplando a criança diferente. Bem melhor que há poucos anos, quando havia dificuldade em se assimilar modalidades  que não fossem as de conceder notas e de querer que todos, num mesmo ambiente de aprendizagem, no caso a sala de aula, tivessem seu desempenho medido quantitativamente, com números, considerando apenas erros e acertos.

          Para os pais e para as próprias crianças, ir à escola e enturmar-se com os demais alunos, interagindo e fazendo novas amizades, já é uma realização. Para o aluno, sentindo-se amado também por pessoas que não sejam apenas as de sua própria família é muito positivo e animador.  E com isso a recuperação da autoestima, fator determinante para a felicidade desses seres, que são normais dentro de suas limitações, muito mais do que alguns que não têm nenhum problema e se portam inconvenientemente. A grande evolução e partilha de conhecimentos relativamente ao assunto é resultado de muito estudo, observação, análise e de boa vontade dos entes do contexto. Mas nunca nos esqueçamos que o trabalho e o carinho oferecido nas APAEs é fundamental para crianças, jovens e adultos, pois as equipes que as compõem realizam ações que exigem, além da atuação profissional, aquela dedicação que só as apaeanas (os) oferecem.

          Portanto, parabéns a vocês, pais, que querem o melhor para seu amado filho. Parabéns a você, professor (a), que sabe compreender e apoiar esses pais e seus filhos. Parabéns apaeanas (os). Parabéns a você, criança, que tem o amor dos pais e o carinho dos professores!
         

Euclides Riquetti
14-05-2013

segunda-feira, 13 de maio de 2013

De novo o Amílcar

          No sábado, estava eu muito pensativo. Tinha que serrar uns toretes de madeira para garantir o churrasco do Dia das Mães. E retirar todas aquelas folhas caidas da pereira e que estavam a matizar de marrom o verde das gramas. E lavar as calçadas, muitas.

          Meu rádio de pilhas no volume, ouvindo todas aquelas filhas ligando para o locutor, escolhendo música e oferecendo para as suas mães, de cada uma delas, é claro. E, todas, dizendo que a sua era a melhor do mundo...A minha também, mas, infelizmente, depois de ter feito sua parte, foi morar com Deus. Todo o filho que se preza sabe que sua mãe é a melhor do mundo, a minha, a sua, a do Amílcar e até a Lady Laura, mãe do Roberto Carlos, que foi pro céu.

          Toca meu  telefone celular, aquele bem simplesinho que, quando você esquece sobre a mesa do restaurante e liga para o mesmo tentando recuperá-lo, alguém atende e   lhe diz: "Sim, você deixou aqui. Guardei para o Senhor!" Vou deixar aí no caixa, pegue quando quiser!  Também um "basico", sem câmera, sem aplicativos sofisticados,  quem vai querer?

         Uma voz:   "Riquetto, buon giorno,  é o Amílcar! Sabe que outro dia passei lá pelo Porto e encontrei um róspo que disse que era teu amigo e tinha o teu telefone?!  Digo, tinha o teu número de telefone, Riquetto! Vim do litoral e ia pra General Carneiro ver a filha, vim pelo Porto e parei pra almoçar lá e, conversando, eu disse que tinha um amigo que estudou no Porto  40 anos pra trás e o bicho disse que te conhecia, que morou junto contigo numa pensão e me deu o número!"

          Fiquei muito contente, até porque fazia muito que ninguém me chamava mais de "Riquetto".  Demonstrei isso. E a conversa foi longe: "Sabe, amigo Riquetto, tó ficando preocupado...  Até pra comer já tá  caro. A cebola e o tomate com o preço lá no São Pedro.  E não é que nas quitanda tá tudo treis e noventa e nove na promoçom do sacolom. E nos outro lugar tem até de sete real. Até o pinhom, que eu pagava dois real agora me pedem quatro!  Ainda bem que a erva aqui tá mais barata do que nos outro lugar, dá pra conttinuar cevando um mate. (Eu compro no preço de custo porque tenho amizade com o dono do soque)!"
          Rimos muito, eu e ele. Amigo a gente tem que ouvir, mas que o Amílcar é engraçado, ah, isso é!  Às vezes, até penso que esse talian está  se fingindo de doido só pra  me enrolar, ele não era assim quando jovem Mas, como o vi pouco nas últimas três décadas, nem sei o que dizer.

          E conversa vai, conversa vem, ele me diz mais uma das boas: "Olha, esses dias quando  saí de General e ia voltar pra  Palmas, tinha carona garantida com um ervateiro. Comprei uma dúzia de pintinho de poedeira e não é que o caminhãozinho da erva estragou e tive que ir de ônibus? Coloquei os bichinho numa caixa de papelón vazia e fiz uns furinho com prego de caibro pra que eles não morresse.  Embarquei no busão e, quando estava lá perto do Trevo do Horizonte, não é que os pinto começarum a piá. E ninguém sabia de onde vinha o barulho. Até que o motorista parou pra que embarcasse mais um casal e ia dizendo pros que tavam de pé: "Mais um passinho pra trás, amigos, mais um passinho... E vão entopetando a linha de gente. E não é que ele escutou os piozinho e quis saber quem que tava levando animal e não pode?

          Tive que me identificar e dizer que era eu mesmo  e ele queria me tirar do ônibus. Pedi mil desculpa, do jeito que minha querida mãe me ensinou, mas não teve jeito, ele não aceitava nenhuma explicação e nenhuma desculpa. E, depois de muita, muita  conversa ele aceitou que ficaria a caixinha lá na frente  e quando chegasse em Palmas me devolveria e, no final, assim  fez e não perdi os doze pintinho da raça dos pescoço pelado."

            Disse-lhe que ele estava ficando doido, que isso não jeito de transportar animais, que é proibido. Perguntei-lhe diversas coisas ainda para satisfazer minhacuriosidade e obtive respostas que dava gosto ouvir. Falou-me que ainda vai me visitar quando o caminhão da erva vier para nossos lados. O motorista é seu genro e prometeu trazê-lo.

          Pois que o Amílcar me deixou muito feliz com seu contato. A primeira vez depois de nosso reencontro em Canasvieiras, no início de abril  Agora tenho o número do fone dele. E sei que quando eu lhe ligar tenho que estar sem nenhum compromisso porque a ligação não fica por menos de uma hora. Ainda bem que inventaram as promoções de "fale infinitamente por vinte cinco centavos"!

Euclides Riquetti
13-05-2013



         

domingo, 12 de maio de 2013

Obrigado mãe, obrigado a todas as mães!

           Mãe:

          Não escreverei uma bela mensagem de amor, nem direi que a minha foi a melhor mãe do mundo. Apenas direi que a perdi há treze anos, tão logo entramos no novo milênio. E que ela me deu boa educação e ajudou-me nos momentos mais difíceis. Vibrou quando nasceram minhas filhas e meu filho. Chorou quando perdemos meu pai e meu irmão. Comemorou comigo as minhas vitórias e chorou comigo os meus reveses. Foi minha mãe, foi o que um filho pode esperar dela. E sei que sempre morei em seu coração!

          Mas, nesta data tão especial, fico a lembrar daquelas mães que perderam seus filhos, contrariando a lógica de que são os filhos que devem enterrar os pais. Rezo por elas porque sei o quanto sofreram com as perdas que não podem ser compensadas por serem definitivas. Rezo por elas e sempre que posso lhes manifesto meu afeto, carinho e  meu sentimento humano.  Mas sei que, apesar de tudo, elas não esquecem jamais dos filhos que geraram, amaram e perderam.

          Rezo para aquelas que foram mãe e pai, pois perderam o companheiro  e tiveram que dar conta de prover seus filhos de educação, instrução e sustento. E por aquelas cujos filhos foram para longe dizendo que voltariam e que se esqueceram de voltar...

          Rezo também para que meus filhos e os dos outros pais possam ter-nos por muito tempo. E nós também possamos tê-los da mesma forma. E me sinto como um menino frágil que sente as coisas com o coração,  mas impossibilitado de evitar que a dor esteja presente no coração das mães.

          Rezo pelas mães jovens para que,  no mundo difícil, intolerante e constantemente mutável,  possam ter energia para cuidarem dos filhos que geraram. Rezo pelas mães que são  minhas amigas  pessoais e  virtuais que, no Dia das Mães, postam nas redes sociais  as fotos de seus amados filhos sorridentes que as deixam felizes e orgulhosas. Rezo pelas mães já avós, pois  são mães duplamente.

           Rezo! Rezo porque acredito que um Ser Supremo pode ajudar a  amenizar os sofrimentos, pode dar esperanças de que um dia todos se encontrarão novamente  e para que haja a vida eterna, quando as mães e os filhos possam estar todos juntos, um dia, no céu!

Obrigado, mãe, obrigado a todas as mães!

Euclides Riquetti
12-05-2013
Dia das Mães