Estudei no Ginásio Padre Anchieta, em Capinzal, nas suas duas primeiras séries, em 1965 e 1966. Funcionava no período da manhã. Meu irmão mais velho, Ironi, também fizera as duas primeiras séries lá. Depois transferiu-se para o Juçá Barbosa Callado, mas não deu sequência aos estudos. Fui para o Juçá em 67 e 68, onde concluí meu ginásio.
No Padre Anchieta tínhamos um Diretor muito enérgico, Giovani Tolu, nosso saudoso Frei Gilberto. Era natural da Itália, lecionava Matemática e Ciências. Conhecia de tudo, até Engenheiro prático era. Fez a planta de nosso sobradão. Construiu o prédio onde funciona a Casa da Fé, que na época comportava nosso Colégio. Na entrada principal, há arcos de concreto armado, estilo da arquitetura romana. Eles utilizaram taquaras e bambus para moldar e sustentar a estrutura de concreto, no tempo de que não se dispunha de ferro de construção à vontade. Madeiras foram usadas com múltiplas finalidades, antigamente, Disse-me o Hélio Bazzo, meu dentista, que os primeiros pinos para a implantação dos pivôs dentários foram feitos com madeiras. Também tínhamos as professoras, excelentes educadoras: Dona Vanda Meyer, de Inglês e Desenho; Waldomira Zortéa, de Geografia; Vanda Bazzo, de Português; Lorena Moraes, de História.
No Anchieta, sob a responsabilidade dos padres, funcionava o Ginásio para os meninos. À noite, no prédio, havia a Escola Técnica de Comércio de Capinzal, que depois mudou o nome para Colégio Capinzalense Flor do Vale e, adiante, Colégio Cenecista Padre Anchieta. Formava Técnicos em Contabilidade. Fiz parte da turma de 1971. As garotas não podiam estudar nas mesmas escolas que os meninos. Então, estudavam seu Ginásio no Colégio Mater Dolórum, controlado pelas irmãs da Congregação Servas de Maria Reparadoras. Sem meninos junto. Pela manhã, ali funcionava a Escola Normal Mater Dolórum, que formava professoras. Meu pai formou-se professor em 1963. Era o Bendito Fruto entre as Mulheres.
Questões de moral e de religião ensejavam essa separação dos alunos naquela época. Somente mais tarde, com o fechamento do Ginásio Padre Anchieta, meninos e meninas passaram a fazer seu segundo ciclo secundário no Mater, na mesma escola, na mesma sala de aula. Funcionava o curso Científico ali. Havia um conceito, na região, de que o científico era melhor que os cursos profissionalizantes, pois prparava as pessoas para o vestibular. De fato, alguns professores originários da própria região, que haviam estudado fora e retornado, passaram a lecionar no novo curso. Dessa forma, ocorreu uma leve mudança de comportamento com relação a estudar fora, sendo que alunos faziam as duas primeiras séries na cidade e depois iam para Curitiba para o Terceirão.
Na verdade, o ensino em Ouro e Capinzal era de alto nível. Poucos professores tinham curso superior na área da Educação, mas havia ótimos autodidatas na cidade. Os profissionais de Odontologia e Medicina se ocupavam das área biológicas. Os de Engenharia eram bons em Matemática e Física. Os funcionários do Banco do Brasil iam bem nas exatas. Advogados davam sua contribuição em Historia e Geografia. Ex-seminaristas que voltavam para casa atuavam nas áreas humanas. E, assim, conseguíamos ter uma boa base de formação para que, depois, as pessoas fossem cursar o Ensino Superior em outras cidades, principalmente nas capitais.
Os egressos do Padre Anchieta espalharam-se pelo Brasil. Um dos destinos muito efetivo para a continuidade foi Ponta Grossa. Nas décadas de 1960 e 1970 dezenas de capinzalenses e ourenses foram para ali. Dizem que a formação em nível técnico, no Colégio Augusto Ribas, equivalente ao atual Ensino Médio, na área da agropecuária, aproximava-se ao nível dos crusos superiores da área atuais. Oportunamente, vou abordar sobre os muitos amigos que fopram ali estudar. Por conta disso, vários deles acabaram fixando residência naquela cidade e região paranaense.
A geração que fez seus estudos em Capinzal nessas duas décadas que se espalhou pelos quatro cantos do Brasil foi muito determinada. Os pais investiram nos filhos porque já acreditavam que o conhecimento era o melhor caminho para sua autonomia. E foram participando dos vestibulares, cursando faculdades e seguindo em frente, alguns galgando a privilegiada condição de pós-doutores. Hoje, quando recebo e-mails, telefonemas ou mesmo reencontro meus contemporâneos, sinto muito orgulho, minha estima sobe. Numa época em que não tínhamos facilidades em comunicações e nossas cidades só conheciam asfalto através dos documenbtários que precediam as sessões de cinema no Cine Farroupilha ou no Cine Glória, nossos jovens tiveram a coragem de sair de casa para construir sua autonomia. E continuam, agora os filhos e netos de nossa geração, deslocanbdo-se para os mais distintoss lugares do globo, mas sempre representando bem seu lugar de origem.
Euclides Riquetti
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Luiz Faccioni - o colono inventor
Em outubro de 1910, quando inauguraram a estrada de Ferro da Rede Viação Paraná Santa Catarina, mais tarde RFFSA, já havia muitas famílias morando em Rio Capinzal e no então Distrito de Abelardo Luz. E, pela questão do Contestado, Abelardo Luz, hoje Ouro, não pertencia a Santa Catarina e sim à cidade de Palmas, Paraná.
Ocorre que, pela conveniência da história, contada pela "classe dominante", sempre se omitiu dizer que havia, em Ouro, muitos caboclos e "brasileiros" antes da chegada dos descendentes de italianos. (Se buscarmos a literatura histórica do saudoso amigo Dr. vítor Almeida, vamos ver que é um pouco diferente do que se propagou durante os anos). Mas, em reuniões que realizei, há 10 anos, nas diversas comunidades do Ouro, com as pessoas mais idosas, levantei que antes de nossos italianos havia, por exemplo, os Teixeira Andrade, em Linha Bonita (1902), o Veríssimo Américo Ribeiro (viram d Vacaria em 1919, mas ainda não havia italianos ali), e outros em Pinheiro Baixo, e um "tal Francisco D ´amendoa e um Benedito", em Leãozinho, e os Silva, em Pinheiro Alto. Os Teixeira Andrade e os Américo Ribeiro adquiriram sua terras. Os outros eram considerados posseiros.
Pois bem, em Pinheiro Alto até hoje é bom escutar as histórias contadas pelos Morés, Masson Dambrós e Borsatti. Quando se reunem para jogar baralho ou bochas, no pavilhão da comunidade, tomando um brodo no inverno, ou umas birotas, é até bom só ficar ouvindo-os contarem as histórias. E eles riem até dos próprios infortúnios.
Uma das histórias que mais me marcaram foi a sobre Sr. Luiz Faccioni, um dos primeiros a chegar. Contam os que ali ainda vivem que este senhor era um grande inventor. Tinha farta imaginação e tudo o que imaginava gostava de materializar. Enquanto carpia ou roçava, pensava. Pensava muito. E, nos dias de chuva, procurava dar forma às suas ideias. Gostava de inventar máquinas e equipamentos. Até inventou uma máquina de costura, feita em madeira. fez as agulhas com espinhos de laranjeira, que quebravam facilmente e isso o deixava irritado, mas não desistia nunca.
Agora, do que mais riem nossos amigos lá, é da história das asas. De certa feita, com madeiras leves e panos, confeccionou um par de asas. Queria voar. Se os pássaros voavam, era possível que ele também pudesse voar. Amarrava-as ao corpo, às costas, e corria pelo pátio, ali onde morou, até recentemente, o Mário Masson. Fica numa estradinha que dá acesso à estrada geral, indo-se do sentido da cidade para lá, uns dois quilometros antes da Igreja, à direita.
E chegou o grande dia. reuniu esposa e filhos e falou-lhes, em seu dialeto italiano, que tinha chegado a hora. ia fazer sua primeira viagem voando. Voaria até Caxias do Sul, onde rencontraria seus parentes. Depois voltaria para o Pinheiro Alto. E, se as asas fossem aprovadas, faria depois umas que lhe permitissem voar até a Itália...
E, no dia escolhido, subiu ao sótão da casa e fixou, com a ajuda dos filhos seu par de asas. Despediu-se e planou... Seu voo breve deu-se até sobre os arames do parreiral, onde quebrou umas costelas. A notícia logo espalhou-se pelas redondezas.
Conta-me o amigo Deoclides Rech que ele era bem criança ná época e foi com seus pais visitar o vizinho que, além de algumas costelas quebradas estava com muitos hematomas pelo corpo. Lá, ainda encontrou a Vicenza Masson, uma menina da comunidade.
Agora, o Vovô Deoclides e a Dona Vicenza, bem idosos, moram na Vila Unidos, no mesmo local ainda. E, quando contam essa história, riem muito. E fazem a gente rir junto!
Ocorre que, pela conveniência da história, contada pela "classe dominante", sempre se omitiu dizer que havia, em Ouro, muitos caboclos e "brasileiros" antes da chegada dos descendentes de italianos. (Se buscarmos a literatura histórica do saudoso amigo Dr. vítor Almeida, vamos ver que é um pouco diferente do que se propagou durante os anos). Mas, em reuniões que realizei, há 10 anos, nas diversas comunidades do Ouro, com as pessoas mais idosas, levantei que antes de nossos italianos havia, por exemplo, os Teixeira Andrade, em Linha Bonita (1902), o Veríssimo Américo Ribeiro (viram d Vacaria em 1919, mas ainda não havia italianos ali), e outros em Pinheiro Baixo, e um "tal Francisco D ´amendoa e um Benedito", em Leãozinho, e os Silva, em Pinheiro Alto. Os Teixeira Andrade e os Américo Ribeiro adquiriram sua terras. Os outros eram considerados posseiros.
Pois bem, em Pinheiro Alto até hoje é bom escutar as histórias contadas pelos Morés, Masson Dambrós e Borsatti. Quando se reunem para jogar baralho ou bochas, no pavilhão da comunidade, tomando um brodo no inverno, ou umas birotas, é até bom só ficar ouvindo-os contarem as histórias. E eles riem até dos próprios infortúnios.
Uma das histórias que mais me marcaram foi a sobre Sr. Luiz Faccioni, um dos primeiros a chegar. Contam os que ali ainda vivem que este senhor era um grande inventor. Tinha farta imaginação e tudo o que imaginava gostava de materializar. Enquanto carpia ou roçava, pensava. Pensava muito. E, nos dias de chuva, procurava dar forma às suas ideias. Gostava de inventar máquinas e equipamentos. Até inventou uma máquina de costura, feita em madeira. fez as agulhas com espinhos de laranjeira, que quebravam facilmente e isso o deixava irritado, mas não desistia nunca.
Agora, do que mais riem nossos amigos lá, é da história das asas. De certa feita, com madeiras leves e panos, confeccionou um par de asas. Queria voar. Se os pássaros voavam, era possível que ele também pudesse voar. Amarrava-as ao corpo, às costas, e corria pelo pátio, ali onde morou, até recentemente, o Mário Masson. Fica numa estradinha que dá acesso à estrada geral, indo-se do sentido da cidade para lá, uns dois quilometros antes da Igreja, à direita.
E chegou o grande dia. reuniu esposa e filhos e falou-lhes, em seu dialeto italiano, que tinha chegado a hora. ia fazer sua primeira viagem voando. Voaria até Caxias do Sul, onde rencontraria seus parentes. Depois voltaria para o Pinheiro Alto. E, se as asas fossem aprovadas, faria depois umas que lhe permitissem voar até a Itália...
E, no dia escolhido, subiu ao sótão da casa e fixou, com a ajuda dos filhos seu par de asas. Despediu-se e planou... Seu voo breve deu-se até sobre os arames do parreiral, onde quebrou umas costelas. A notícia logo espalhou-se pelas redondezas.
Conta-me o amigo Deoclides Rech que ele era bem criança ná época e foi com seus pais visitar o vizinho que, além de algumas costelas quebradas estava com muitos hematomas pelo corpo. Lá, ainda encontrou a Vicenza Masson, uma menina da comunidade.
Agora, o Vovô Deoclides e a Dona Vicenza, bem idosos, moram na Vila Unidos, no mesmo local ainda. E, quando contam essa história, riem muito. E fazem a gente rir junto!
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