O ano era 1972. Plena juventude, cidade nova, novos amigos, morada nova. A vontade de conhecer novos lugares, novos ambientes. Fiz grande amizade com o Sabonete, meu colega de República Esquadrão da Vida e de Letras na Fafi. Ex-seminarista e muito bem empregado, costumávamos sair juntos nos finais de semana para "explorar a cidade". Fomos ao Aeroporto José Cleto e conseguimos tirar fotos ao lado de um avião. Fomos ver o "Cristo", no alto do Morro, em União da Vitória, que estendia seus braços e olhar sobre o Rio Iguaçu e as cidades gêmeas. Andávamos a pé, gastávamos nossos sapatos.
Mas também gostávamos de ir a Bailes no Clube Apollo, do qual ficamos sócios. E, nos domingos, tarde dançante no 25 de Julho. Imperdível. De vez em quando, uma saidinha para São Miguel, em Porto União. E, naquele tempo, só entrávamos lá de terno e gravata. Ainda bem que tínhamos nossos ternos fa formatura do então Segundo Grau. No final do domingo, o Cine Ópera. Tudo para compensar a semana de muito estudo na Faculdade e no Yázigy, onde fazíamos Inglês para desenvolver nossa fluência na conversação.
Mas tínhamos tambérm nosso lado "sinistro" das coisas. Só que o sinistro da época era bem light, soft. Era um sinistrinho brando... No domingo, iamos ao Estádio Enéas Muniz de Queiroz ver o Iguaçu, torcer. " Chuta, Joaquim! Corre, Rotta! Corta, Chavala! Defende, Roque! Juiz ladrão!!! Muita gritaria, reclamação com o juiz. E, em muitos de nossos sábados, a ida para as gafieiras, levados pelos "mais antigos", que sabiam tudo disso, eram experientes no assunto e na ára. Tinham lá o Primavera, que era um "meia-boca", o Farinha Seca, o Boneca do Iguaçu, ao lado da ponte férrea, e o Poeira. Estes três eram "boca inteira".
Éramos muito tímidos, mas nossos companheiros nos encorajavam e acabávamos indo para "dar uma espiadinha". Lembro bem de uma vez que nos levaram para o Boneca do Iguaçu. O Sabonete, que era muito "liso", tinha alta formação religiosa. O apelido, uma conformação fonética e semântica, contando seu sobrenome e sua inteligência. Como bom de "argumento", sabia Latim e Grego, ia na frente e pedia para que deixassem "dar uma olhadinha", sem pagar entrada. Cheio de falas, prometia que se gostássamos pagaríamos ingresso e ficaríamos, viraríamos fregueses. Ao contrário, iríamos para casa.
Pois que em nossa primeira incursão, tão logo passamos por uma cortina de fumantes, adentramos ao salão e lá tinha de tudo. Cheiro de cerveja e conhaque. Cadeiras de várias cores e modelos, mesas de múltiplas cores e estampas. E genrosas senhoras, de todos os padrões: altas, baixas, esquálidas, obesas, loiras, morenas, ruivas. E os homens: de todos os padrões: pobres, ricos, feios, bem feios, mais feios, carecas, mais carecas, obesos, bem obesos, solteiros (nós e mais alguns) e... casados! Mais casados do que solteiros! Todos tinham bons motivos para ali starem.
Até aí tudo bem não fosse o susto do Sabonete: "Vamos sair já daqui! Não podemos ficar! Tá louco, cara!... O meu chefe tá aqui. O que ele vai pensar de mim? Vai pensar que eu sou um depravado. E estou no estágio probatório... - Argumentei que quem tinha que se preocupar era o chefe dele, "bem casado", que estava ali fazendo festa, amassando uma "bem fornida, teúda e manteúda". Mas não teve jeito, o Sabonete ficou apavorado, dando graças a Deus que o chefe não o viu. Ainda bem que entramos na "condi"!sem pagar o ingresso!
Passado o susto, demos umas caminhadas pelas ruas centrais, olhamos as vitrinas da Loja do Zípperer, da Loja Olga, dos Domit, das lojas do Magazine Jacobs, passamos pelo Bar do Bolívar no outro lado dos trilhos, vimos os cartazes dos filmes do Odeon, do Ópera e do Luz, este bem perto de casa. Ainda passamos pela Willy Reich, bem pertinho de casa. Era época do "Sesquitecentenário da Independência" e estavam inaugurando a transmissão de TV em cores no Brasil, até transmitindo a "Mini Copa" de Futebol. Nos embasbacamos com a beleza das imagens coloridas no aparelho.
Chegamos em casa e contamos para o Frarom sobre a decepção que o Sabonete teve ao encontrar seu chefe, um exemplo de chefe, um homem honrado, lá com sua teúda amarrada ao pescoço no "Boneca".
E ele veio com essa: "Olha, cheguei agorinha. Fui dar uma olhadinha no "Poeira", mas nem entrei. Só dei uma esticada de pescoço pela porta. Estava no intervalo, porque lá a dança já começa pelas oito horas. E o vocalista da bandinha estava dando um aviso: "Queremos dizer para a sociedade portuniense que aqui comparece que temos em nossas mãos uma aliança de casamento que foi encontrada no chão de nosso tradicional salão, tendo se grudado na sola do sapato de borracha daquele amigo ali, ó..." E ninguém se manifestou, ninguém que estava lá queria mostrar seu verdadeiro estado civil, "casado". Com o precioso objeto na mão, pegou-o entre os dedos e foi adiante: "Olha, aqui estão gravadas as iniciais da dona dessa preciosa jóia: Começa com " Ó", deve ser da... "Órora"! E lá não havia Ororas nem Auroras...
Nem precisou ele continuar com a história. Ríamos mais do jeito com que ele nos contava das histórias do que com a graça que traziam. E começava uma rodada de histórias e piadas que nos faziam esquecer das tristezas. Tudo muito divertido. Melhor que ter ido ao bailinho! Diversão com economia de dez cruzeiros. Dava para pagar a lavadeira na semana.
E o respeito entre o Sabonete e o Chefe dele nunca foi abalado...
Euclides Riquetti
17-05-2013
Eu cheguei ao local no alvorecer dos meus 20 anos, mais precisamente em julho de 1975, data efetiva do início da construção da obra principal. Encantei-me com a paisagem típica da região e quase morri de frio, pois dormíamos em barracas de lona. Não havia praticamente nada, tudo era começo:
Término do levantamento topográfico da área da barragem/usina, Construção da vila residencial e da PR-170, primeiro de Guarapuava- Foz do Areia e continuando Foz do Areia- União da Vitória;
Na época eu trabalhava em Foz do Chopim onde entrara no início de 1974 como Técnico Florestal. Em Chopim eu era responsável pelo viveiro de mudas.
A COPEL começou a desenvolver, um pouco antes do início da Construção da obra principal, um Projeto chamado "Agrovila", do governo do Paraná, em parceria com a Escola de Agricultura Luiz de Queiroz, de Campinas - SP.
Esse projeto entre outros contemplava a implantação de fruticultura (maçãs, peras, pêssegos, ameixas, nectarinas além de uma grande variedade de cítrus). O Centro era a atual sede do Jardim Botânico. Como disse acima cheguei em jul/75 para, primeiro estruturar o viveiro de mudas, recém instalado, demarcar e instalar a reserva biológica e acompanhar o projeto de fruticultura com os paulista. As coisas foram evoluindo: A vila foi ficando pronta, as famílias foram alocadas, a obra principal ia de vento em popa e a ligação Guarapuava-foz do areia-União da Vitória foi inaugurado em final de 1976.
Até essa época, nós, os moradores da vila residencial, tínhamos como referência União da Vitória, mais longe que Guarapuava, porém, com estrada muito melhor.
Eu me casei em dez/76, em União da Vitória. No Horto trabalhei de 1975 a 1986, depois assumi funções na área administrativa onde trabelhei em Foz do Areia até me aposentar em dez/2006. Foram 31 anos residindo e trabalhando em Faxinal do Céu, com certeza os melhores anos da minha vida. Ali eu tive a felicidade de ver nascer meus três filhos e cinco sobrinhos. Minhas três irmãs também casaram-se em Faxinal do Céu, já que quando papai faleceu, em 1978, eu os trouxe para cá.
Faxinal do Céu está definitivamente ligado a minha vida. Moro em Guarapuava, porém, tenho um sítio de cinco alqueires, encostado na Vila residencial, que comprei em 1986. Neste sítio praticamente não corto árvore alguma, exceto próximo a moradia. Tenho privilegiado as espécies nativas (Araucária, Imbuia, Erva-mate, bracatinga...). No início plantei uma porção de porcarias exóticas que venho tirando sistematicamente.
Me perdoe a extensão do comentário. Ele poderia ser infinitamente maior dado a ligação que tenho com o lugar