Qual menino não sonhou em ter uma bicicleta na adolescência? Pois não fui diferente! Costumo chegar atrasados em algumas coisas, nem todas. Na escola, entrei no Mater Dolorum, em Capinzal, com oi anos feitos e terminei o ano já com 9. Um varapau compridão em meio aos petiços. Acho que tinha até vergonha... Rádio, na minha casa, chegou quando em tinha uns 13 anos. E, na época, ninguém tinha TV ainda em minha cidade. Mas, bicicleta, a gente tinha, sim. Tínhamos uma Monark Marathon, importada.
Meu pai deve tê-la comprado de segunda mão, imagino. Mas era bem conservada, em um tom esverdeado. Tinha um distintivo metálico, na frente, com um maratonista correndo. Eu via meu pai vindo com ela, na ponte Irineu Bornhausen de Capinzal para o Distrito de Ouro e ficava maravilhado. Meu irmão, cinco anos mais velho do que eu, andava faceiramente montado na nossa Monark. O Alfredo Casagrande, da Livraria Central, tinha uma novinha. Ambas aro 28. O Isalino Baretta, meu primo, lá da Linha Bonita, tinha uma aro 26. Que inveja!
Comecei a aprender a andar ali na Rua Felip Schmidt, no Ouro, em meados da década de 1960. Eu não conseguia sentar no selim e pôr os pés no chão. E tinha medo de cair. Então, eu colocava meu corpo meio entortado dentro do quadro da mesma e ia me soltando na declividade da rua. Assim, fui aprendendo a me equilibrar. Feito isso, comecei a tentar a andar, mas não conseguia pedalar. Acho que essa dificuldade todos têm no início, foi assim com a neta Júlia, nossa Jujubinha, que já está com 6 anos e já aprendeu a guiar sua bike. Disse-me ela: "Vovô, já caí uns 5 tombos e esfolei a barriga e o joelho, mas aprendi a andar de bike. Ninguém aprende sem cair uns tombos!" Acho que ela tem razão...
Mas, para minha decepção e de toda a nossa família, nossa bicicleta criou asas... Alguém passou no porão de nossa casa e levou-a. E meu pai não comprou outra, porque estava economizando para fazermos uma outra casa.maior. Foi uma tristeza geral! Passei os anos seguintes sonhando que a polícia a havia recuperado. Também ficava olhando todas as que visse na rua para ver se não seria a nossa. Porém, nunca mais nos voltou...
Aos 15 anos, depois de ter economizado durante 2 anos, consegui comprar uma usadona. Ruim de pneus e de câmaras. Era um mosaico de remendos. Eu amarrava os pneus com tiras de borracha de câmara de caminhão para que não estourassem. Era verde, fora pintada recentemente. E tinha outro problemas: o pedal não era daqueles inteiriços da Monark e sim "com chavetas". Mais uma decepção. Vivia me incomodando com ela. Uma vez, vindo para casa da aula, quando estava na quarta série do Ginásio Juçá Barbosa Callado, no escuro, por sobre a ponte nova, ouvi vozes e desviei. Bati na mureta lateral e ainda bem que não caí no rio do Peixe. Fui socorrido pelo Sr. Vitor Bazzo e a Dona Vanda, que eram os pais de minha professora de Português, Vera.
Então, muito incomodado, troquei o primeiro bem de minha propriedade por um rádio a luz, com o Alcides Venâncio. o Cidinho. O rádio até que funcionava mas eu acabei vendendo também.
Então, só aos 19 anos, quando fui trabalhar na Mercedes-Benz, em União da Vitória, consegui ter uma para meu uso. Na verdade, era da empresa onde eu trabalhava e eu a usava para ir buscar peças na São Diego, no Alfredo Scholze, na Mecânica Unidos e na Auto Real. E também para visitar clientes.
Há uns 12 anos ganhei uma dessas com marchas, numa rifa. Era meio porqueira. Vendi por não mais que R$ 100,00. Acho que foi por uns 60. Ou 50. Quem sabe uns 40. Me livrei dela também.
Agora, estou pensando em comprar uma outra. Conversei com uns vizinhos e descobri que eles têm bicicletas guardadas e que não usam há um tempão. Vou comprar uma e deixar novinha. Tomara que meu entusiasmo continue e eu não desista desse projeto logo. Tomara que eu encontra uma Monark Marathon igualzinha à que nos roubaram. Ficaria muito feliz e ter uma daquelas. Será que ando saudosista?
Euclides Riquetti
16-10-2016