As comunidades de Ouro e Capinzal perderam, nesta semana, Dona Noemia ( Eva Calliari) Sartori, 101 anos, cidadã longeva que carregava em sua mente e em seu coração mais do que os anos possam carrregar, mas imedíveis atributos agregados, por um século, num coração e numa alma revestidos de pura generosidade. Procurar-se-a, muito, mas nunca se encontrarão os adjetivos suficientes para qualificar aquela senhora simpática e elegante que marcou as cidades pela sua vivência, história, conhecimento, maturidade e despreendimento. Dona Noemia parte merecedora de nosso aplauso, carinho, reconhecimento, gratidão e muitas orações. Deixou-no ao final da terça-feira, dia 14 de fevereiro de 2023,
Dona Noemia, nas últimas 5 décadas, a segunda parte de seu centenário vitorioso, passou a ser tratada como a "Mãe da Denise", embora amada por todos os seus filhos. Mas, o grande registro que lhe podemos atribuir, a sua grande marca, além de toda a sua capacidade afetiva e o bom exemplo para toda a população da comunidade, é a maneira como ela tratava as pessoas, a atenção que dispensava aos que a procuravam para relatar sobre a história local, as experiências vividas, os grandes fatos que marcaram a sua e a nossa História. Em sua casa, ali na frente da Prefeitura Municipal de Ouro, presenciou os principais fatos políticos acontecidos, tendo seu lado e sua opinião, mas jamais ofendendo ou deixando de respeitar as convicções de todos. Viu a antiga Rio Capinzal ser transformada em município, em 1949, e apenas 14 anos depois, em 1963, o Distrito de Ouro ser emancipado para se tornar município. E ver as Municipalidades instaladas em prédio que fora propriedade da família.
Dona Noemia testemunhou a construção dos hospitais Nossa Senhora das Dores e São José, da Igreja Matriz São Paulo Apóstolo, das prefeituras de Ouro e Capinzal, da emancipação de Lacerdópolis e Presidente Castello Branco. Viu construírem a Ponte Pênsil PadreaMathias Michelizza, viu as águas furiosas e os vendavais distruí-la, a nova ponte em concreto armado construída no Governo de Irineu Bornhausen, a balsa e os botes de Afonsinho da Silva transportarem as pessoas, animais e veículos de uma margem para a outra do Rio do Peixe, as águas levarem a imagem de Nossa Senhora dos Navegantes e depois a sua recuperação, os incêndios do Cine Farroupilha e da Gasosaria da família Brambilla e de nossa capela. Sua casa suportou as enchentes de 1939 e de 1983, vendavais e tormentas, mas sempre resistiu e restou ali, sólida em sua alvenaria e na estrutura familiar que gerou.
Dona Noemia viu as cidades perderem seus filhos em acidentes, como o do neto Leandro e muitos outros jovens que partiram prematuramente. E em tragédias de figuras marcantes como Frei Crespim Baldo, o Doutor Vilson Bordin, Ido Pedro Lamb, João D´Agnoluzzo, Tercílio Surdi e muitos outros. Mas também viu as gerações jovens que foram buscar seus estudos em Ponta Grossa, Curitiba, São Paulo, Porto União, Erechim, Passo Fundo, Porto Alegre, Blumenau, Joinville, Florianópolis, tornando-se profissionais que engrossaram as fileiras das áreas do direito, das engenharias, da medicina, do social, e da educação. Viu os leitos de barro das estradas e ruas serem macadamizados, pavimentados e asfaltados. Sofreu com as agruras da Segunda Guerra Mundial, aplaudiu seu Flamengo em suas conquistas e nossa seleção canarinho conquistar cinco campeonatos mundiais. Acompanhou centenas de eventos no Ginásio de Esportes André Colombo, onde viu seus filhos e netos atuarem. Presenciou as solenidades cívicas em frente de sua casa, os memoráveis desfiles de sete de setembro e os embates esportivos entre Arabutã e Vasco da Gama, e viveu com paixão as cores azul a branca do Grêmio Esportivo São José.
Dona Noemia é nossa História, é o exemplo da mulher que, durante metade de sua longa vida, cuidou dos filhos após perder o marido. Tive o prazer e a alegria de desfrutar de sua amizade e de ouvir suas histórias. De testemunhar o quanto seus filhos e netos lhe dispensaram cuidados e carinho. De sua religiosidade, da sua imponente figura de mãe, na humildade de seu sorrisinho inesquecível e de sua mão sempre estendida para os amigos.
Nossa querida personagem foi morar no céu e, como diz a Miriam: "Ela é uma lenda, uma pessoa amada e merece descansar em Paz"!.
Com todo o meu carinho e o de minha família. Fique na merecida Paz de Deus e em nossa grata memória, Dona Noemia!
Euclides Riquetti e Família
16-02-023