Para relembrar...
Só quem já percorreu longos caminhos na vida pode ter uma
dimensão mais apurada de quantas mudanças de costumes já ocorreram e a
velocidade como isso aconteceu. E, aqui do alto da cidade, também do
alto e sagrado altar da maturidade, posso contemplar as planícies da
vida e relembrar de incontável número de fatos que já presenciei em
minha existência terrena. A outra, vou ter que aguardar para ver como
é, o que me reserva, a mim, a você, a todos nós. Do futuro tenho medo,
por ter medo do desconhecido, o que é natural no Ser Humano. E eu não
sou diferente dos demais... Um caminho para desvendar os mistérios que
nos cercam e encorajar-nos a conhecer o futuro é o livro. Viajar através
dele, volver-se ao passado e projetar o futuro, imaginar o porvir!
Lembro que, na época em que me iniciei, efetivamente, na
carreira de professor público, em Duas Pontes, hoje município de Zortea,
após ter lecionado temporariamente no Colégio Industrial Coronel Cid
Gonzaga, em Porto União, e no Instituto de Idiomas Yázigy, em União da
Vitória, encontrei na Escola Básica Major Cipriano Rodrigues Almeida uma
Biblioteca sensacional.
Funcionava numa sala bem arejada, com uns 48 metros de área,
as prateleiras bem fornidas de livros, e as mesas e cadeiras de madeira
natural envernizadas que foram doadas pela Zortea Brancher S/A, a
empresa madrinha da Escola. Vivi ali uma das melhores e mais saudosas
experiências de minha vida. Dentro das aulas de Língua Nacional, hoje
Língua Portuguesa, costumava levar os alunos para a Biblioteca, cada
turma uma vez por semana, onde fazíamos a entrega de livros para os
alunos levarem para casa e lerem. Faziam a retirada e iniciavam a
leitura ali mesmo.
Uma pergunta frequente lá: "Professor, posso levar mais do que
um?" - podiam, sim! E liam, positivamente, verdadeiramente,
maravilhosamente. E, depois, tínhamos um método de produção de textos
com uma sequência lógica de aprendizagem, baseada no sistema do Samir
Curi Meserani, com seu "Redação Escolar - Criatividade" - o método tinha
sido introduzido pelas professoras Elza Melo Zanetti e Victória Leda
Brancher Formighieri, esta também Diretora da Escola, que mais tarde
veio a tornar-se minha comadre, madrinha da filha Caroline, gêmea com a
Michele, que nasceram quando lá moramos e trabalamos. As professoras
deram o pontapé inicial, uma base formidável para um trabalho sequencial
com expressivos resultados.
E, o gosto pela leitura bem disseminado, mais o trabalho de
motivação, somados a uma prática de escrever textos, dentro de uma
linha de aprendizagem progressiva de estruturas do Método Meserani,
resultavam na formação de alunos escritores. Faziam maravilhosas
redações, contos, crônicas, poemas, notícias para nosso jornalzinho.
Eram leitores e escritores. Quando me afastei de lá, fui sucedido por
outra professora que deu sequência ao nosso trabalho, uma contumaz
leitora a Gena Casara.
Mas preciso fazer o registro que mais me apraz do valor
incomensurável de nossa Biblioteca: uma coleção de encadernações
contendo centenas de exemplares da revista "Seleções do Reader's
Digest", que foi doada para a Escola pela família Brancher.
Quantas e quantas vezes peguei aquele material na mão,
admirei, abri, li relembrei, viajei no tempo, fui conhecer as
reportagens realizadas nos campos da Segunda Guerra Mundial. Edições a
partir da década de 1930 até a de 1960. Um material valioso, belo,
atraente, encantador.
Mas, com os vendavais ocorridos no início da década de 1980,
um ciclone destruiu o prédio escolar e tudo ficou arrazado. Que pena!
Todos aqueles livros destruídos, desde "As Terras do Rei Café" até "Os
Capitães d ' Areia", de Jorge Amado. E todos os de José de Alencar,
Machado de Assis, Carlos Drummond de Andrade, Camilo Castelo Branco,
Maria Clara Machado,Euclides da Cunha, Érico Veríssmo, Cecília
Meirelles, e mihares de outros, tudo ficou destruído...
Hoje tenho saudosas mas muito boas lembranças daquela escola,
de meus colegas professores, de meus alunos. Formamos ma geração de
leitores, por issomesmo vencedores. Agora, com as modernas e rápidas
tecnlogias de comunicação, consigo ter contato e reatar amizades que
ficaram adormecidas, muitas delas por mais de três décadas. Mas vale a
pena relembra e comemorar que nossos alunos foram buscar seus espaços
em vários estados brasileiros. Que as modernas tecnologias venham todas,
mas o livro, esse bem sólido e material, que nos traz em si
inimagináveis recursos para nos deleitar, permaneça sempre entre nós!
Euclides Riquetti
12-07-2013