Quatro décadas após sua morte, Maria Eva Duarte de Perón, a
Evita (07-05-1919 - 26-07-1952), ainda fascina poetas, escritores e
diretores do cinema mundial. O fato de ela ter morrido de câncer, aos 33
anos, quando era a Primeira Dama da Argentina e estava no auge de sua
popularidade, muito contribuiu para a propagação de seu nome. Evita foi
tema recorrente nos noticiários radiofônicos e televisivos do mundo
pelo menos por duas décadas após a sua morte. E, até hoje, seus fãs,
como eu, lembram dela com emoção.
Em minha infância e juventude, muito ouvia falar de "Evita", a
"Santa Evita", protetora dos descamisados e das mulheres da Argentina.
Evita, que fora esposa do Presidente Juan Domingo Perón, tornou-se um
mito, mais pelo seu carisma e talento político do que por seus dotes
artísticos. Mas, até hoje, o povo argentino chora sua morte... Meu
primeiro contato efetivo com sua história ocorreu em 1979, quando recebi
a incumbência de um amigo e patrão, Lourenço Brancher, de traduzir a
ópera-rock que foi produzida em sua homenagem. Era um álbum com disco de
vinil e a letra impressa de "Evita". Encantei-me com sua história,
comecei a pesquisar sobre sua vida e fui lendo tudo o que pude encontrar
sobre ela. Mais adiante, com o sucesso de uma música em sua homenagem,
passei a emocionar-me em todos os momentos que a ouvi. Evita era bonita,
mas muito mais bonita era sua história...
Eva Duarte era filha de Juana Ibarguren, a bela amante de um
fazendeiro do povoado de Los Toldos, localizado ao sul de Junin,
Província de Buenos Aires. Juana fora adquirida pelo estancieiro, a
troco de uma carroça e um jumento...Ela e mais quatro irmãos, um menino e
três meninas, foram criados na fazenda, ao mesmo tempo que seu pai,
Juan Duarte, vivia com sua família e seus outros seis filhos legítimos,
em Junin. O pai dava assistência aos filhos que teve com Juana, até que
ele morreu. E os filhos de Juana eram constantemente humilhados por
serem bastardos. Depois, a família, desprotegida, quando Eva tinha 11
anos, foi morar em Junin.
Evita era obstinada em tornar-se atriz famosa e, aos 15, com
seu irmão Juancito, a sonhadora foi trabalhar em Buenos Aires, levada
pelo cantor de tangos Agustín Magaldi, onde pretendia fazer carreira
como atriz de teatro e cinema.
Desde criança, Eva sonhava em ser atriz, inspirando-se em
Norma Shearer, americana. Queria ser igual a ela, ter as mesmas coisas
belas que ela tinha, morar em casas como ela morava. Evita era uma
sonhadora, tando que, ainda menina, dizia: "Só me casarei com um
príncipe ou um presidente!"
Conseguiu um papel no filme "Segundos Afuera", em 1937, e
passou a integrar elencos de radionovelas, fazendo com que, aos poucos,
fosse tornando-se conhecida em Buenos Aires.
Seu conto de fadas, no entanto, começou a ganhar corpo em
1944, quando o então Coronel Juan Domingo Perón, Vice-presidente da
República da Argentina, e Ministro do Trabalho e da Guerra, promoveu um
evento artístico no Ginásio Luna Park, em, Buenos Aires, para angariar
fundos para as vítimas de um terremoto. Eva aproveitou-se da situação em
que uma atriz que acompanhava o Coronel levantou-se e sentou-se em seu
lugar, ao seu lado. Encantada que era com seu ídolo, disse-lhe,
francamente, e do fundo de seu coração: "Coronel, obrigada por existir!"
Dali para seu casamento com ele, no ano seguinte, foi apenas
uma questão de tempo. Apaixonaram-se e, aos 25 anos, tornara-se esposa
do político de grande influência em seu país, por defender as classes
operárias. Ela, igualmente, defendia os pobres e as mulheres. Sofrera
humilhações na infância e não queria o mesmo para seus compatriotas.
Perón, em razão de suas posições fortes em favor dos operários, foi
preso pelos militares conservadores. No entanto, a luz de Evita começa a
brilhar mais fortemente, liderando comícios e manifestações em favor do
amado, e ele é libertado. E, em 1946, é eleito Presidente da
Argentina, com o incondicional apoio de sua Evita.
Evita consegue o direito de voto às mulheres e luta pelos seus
"descamisados". Torna-se um mito. É idoltrada e venerada pelos
argentinos, e suas aparições na sacada da Casa Rosada atraem uma grande
massa de seguidores. O sonho de mocinha que queria ser atriz é
substituído pelo carisma e habilidade política. Suas palavras alentam e
dão esperança de dias melhores para todos os que a admiram e ouvem. E,
em apenas sete anos, a menina de Los Toldos transforma-se numa poderosa
líder, a Líder Espiritual dos Argentinos, tornando-se parte integrante
de sua vida e de sua história...
Euclides Riquetti
17-11-2012