As praias catarinenses estiveram apinhadas de turistas na temporada 2023/2024. A de Canasvieiras, a qual frequento algumas vezes por ano, recebeu muitos deles, brasileiros e estrangeiros, em dezembro e janeiro. Agora, está invadida por argentinos. Na Semana Santa, chegam os uruguaios. Já estou bem habituado aos costumes deles, sua língua e sua maneira de ser.
Entre 11 e 12 horas desde sábado de céu nublado e clima mornamente abafado, duas ocorrências me envolveram emocionalmente: Duas belas meninas, Josefina, de origem argentina, e Laís, filha dos brasileiros Djalma e Bethânia, afastaram-se de seus pais e extraviaram-se em meio à multidão. Bateu o desespero em todos os que estavam nas imediações. Alguém começou batendo palmas, que é o sinal para que todos saibam que alguém se perdeu. Eu estava em meu lugar costumeiro, defronte ao barracão-sede da Associação dos Pescadores de Canasvieiras quando um senhor passou avisando que uma menina se encontrava perdida e que todos deveriam ajudar a encontrá-la. Imediatamente, saí andando no sentido sul da praia, em direção a um Posto de Salva-Vidas.
Eu gritava que uma menina de três anos e pouco, vestida em cor-de-rosa e com cabelos claros estava perdida, e ia batendo palmas. Em cada grupo que eu passava, eu dizia, em voz muito alta: "Menina de três anos, vestida de rosa, está perdida"! Passei por mais de 10 grupos de pessoas que se assetavam nas cadeiras sob os guarda-sóis. O outro, ia pela beira da água fazendo a mesma coisa. E os seguidores se multiplicavam, todos chamando por Josefina, a menina vestida de rosa... Em poucos minutos, alguém gritou: "Foi achada"!. E, num átimo, dirigi-me para aquela multidão, uns 20 metros do posto de observação dos bombeiros, onde estão os salva-vidas.
A bela menina, de olhos claros e cabelos longos, já estava amparada pela mãe, que a enxugava com uma toalha. Conversei com a mãe e pessoas que estavam com ela. Eu chorava... Primeiro, num misto de preocupação e instinto de pai e avô que há em mim!
Menos de 3 minutos depois, uma nova gritaria e palmas batidas soando no caminho que eu já havia percorrido. Fui ao posto vermelho e amarelo e falei que uma menina se perdera. Disseram-me que ela já havia sido encontrada e eu falei que não. Uma feminina me dizia que uma pessoa da família é que tinha que comunicar a eles. Um masculino falava comigo em espanhol. Então comecei a responder a ele em Inglês. Havia muito barulho e não nos entendíamos. Em um minuto chegou a mãe da segunda criança que precisava ser encontrada. Ela viu que eu era um dos hóspedes da Pousada Jéssi, da ACP, e me mostrou a pulseirinha de identificação. Voltei correndo para o lugar de onde eu vim, gritando e pedindo para que todos batessem palmas. Eu gritava: "Menina Laís, quatro anos, vestindo rosa e cabelo enrolado, está desaparecida. Precisamos ajudar a encontrar. E eu não conseguia me conter, chorava... Brasileiros e argentinos, todos quantos tomavam conhecimento da situação, batiam palmas e procuravam.
Eu imaginei que ela pudesse ter voltado para a pousada e saí em disparada para lá. Mas lá ela não estava. Um minuto após retornar à praia, alguém gritou: "Encontraram a menina"!
Corri em direção da população que se aglomerara e lá estava o pai, Djalma, feliz e sorridente, com a menina postada em seu pescoço, na situação que costumamos chamar de "cavalinho". A mãe logo atrás, a avó, todos felizes...
Após isso, fui ao posto de salva-vidas para entregar meu cartão pessoal ao Rodrigo, um dos integrantes, que é de Buenos Aires mas trabalha no salvamento. Pedi a gentileza de que me passasse algumas informações, mesmo que não oficiais, e aqui vai: Na alta temporada, extraviam-se em média seis crianças por dia, umas três pela manhã e outras tantas pela tarde. Cinco pessoas idosas, já com alguma dificuldade de se relocalizarem, perderam-se na temporada aqui em Canasvieiras. Houve um afogamento, na Cachoeira do Bom Jesus, mas que foi causado um um mal súbito enquanto o cidadão mergulhava no mar. Ana Júlia, uma jovem salva-vidas, tem os familiares em Campo Novos. Tive uma uma conversa proveitosa tanto com o Rodrigo como com a Ana Júlia. Todas as pessoas que se perderam durante esta temporada de veraneio foram encontradas em poucos minutos. Já é costume que, quando alguém localize alguém perdido, conduza até o posto controlado pelos bombeiros. E quem perde, se dirige ao local para esperar pela volta do familiar querido.
Pouco antes das 20 horas, saí do apartamento e vim para o saguão do refeitório: Encontrei a família feliz, conversei com os pais Djalma e Bethânia, que são moradores de Biguaçu e vieram passar umas horas com os seus familiares aqui hospedados.
O Corpo de Bombeiros de Santa Catarina distribui pulseiras de identificação que os pais podem retirar e colocar nos punhos dos filhos pequenos e mesmo de pessoas idosas com limitação da identificação de sua localização. Recomendam que os pais brinquem com os filhos pequenos no limite entre a água e a areia, onde o risco de perder-se é menor. Todo o cuidado é pouco!
Que bom que os pais da Josefina e da Laís puderam voltar para suas casas felizes!
Carinhosamente,
Euclides Riquetti
Praia de Canasvieiras, em 17 de fevereiro de 2024.