sábado, 23 de janeiro de 2016

Meu primeiro texto...


          Eu estava no último ano do antigo Ginásio, em Capinzal, ano de 1968. Ginásio Normal Juçá Barbosa Callado, formava professores para ensinar no Ensino Primário. Meus professores, em sua maioria, eram profissionais liberais. Outros haviam cursado o Segundo Ciclo Secundário, era assim que chamavam  o antigo "Normal", hoje Magistério em nível de Ensino Médio.

          Uma jovem professora fora contratada para nos ensinar Português. Não havia professores licenciados na cadeira naquela época na cidade. A professora era mais jovem do que a maioria dos alunos, uma vez que boa parte deles havia retomado os estudos com a introdução de uma Ginásio Noturno. Antes disso, apenas o Padre Anchieta e o Mater Dolorum ofereciam o ensino secundário em seus primeiro e segundo ciclos, ambos no período matutino. O início do ensino à noite abriu possibilidades para aqueles que precisavam trabalhar durante o dia. Eu fui um deles.

          Acostumado a morder as pontas das canetas esferográficas, (que anos depois o professor Geraldo Feltrin ensinou-me que era uma "ball-point-pen", ou seja, uma caneta com ponta de bola, daí esferográfica), eu ficava com os lábios e a língua sujos de tinta azul. E os dedos da mão direita também. As canetas-tinteiro, então, faziam estragos em mim, inclusive nas roupas. Mas houve um dia daquele mês de março de 1968 em que algo mudou, definitivamente,  em minha maneira de ser, e isso resultou no perfil que conservo até hoje: um apaixonado por ler e por escrever!

          Minha mente remeteu-me, hoje,  ao tempo de minha adolescência, fazendo-me voltar 45 anos atrás, às carteiras de Ginásio, ali onde hoje está nossa majestosa Escola de Educação Básica Belisário Pena. Aos professores João Bronze Filho, Paulo Bragatto Filho, Deoni Maestri, Adelino Frigo, Waldemar Baréa, Iria Flâmia, Holga Brancher, e à jovem e dinâmica Vera Lúcia Bazzo, estreante em ensinar-nos  nosso Português.

          Falou-nos a Vera da importância de as pessoas escreverem, dizerem o que sentiam, colocar no papel a opinião sobre as coisas e os fatos, escrever histórias. E nos deu um tema para que fizéssemos uma redação, não importando  a modalidade, podia ser narração, descrição, dissertação, poesia, desde que dentro do tema indicado.

          Peguei uma dupla folha de papel almaço, mentalizei uma história, narrei, descrevi ambientes e personagens, dei um cunho relativamente moral, fiz o bem sobrepor-se ao mal e lasquei-lhe um final feliz! Eu lera muitos livros, fotonovelas, gibis, revistinhas do Walt Disney, gostava de ler. Então  encorpei uma espécie de conto utilizando as quatro páginas. Caprichei na letra, coloquei travessões nas interlocuções, respeitei o distanciamento na margem esquerda da página para indicar cada parágrafo, respeitei o traço de uma margem imaginária de  uns dois centímetros à direita e três à esquerda, distribuí bem a matéria na página. Ficou bonitinho. Eu nunca entregara uma redação ou trabalho razoavelmente organizado em toda minha vida escolar. Mas, naquele dia, consegui!

          Na aula seguinte, a professora foi devolvendo as redações aos alunos, tecendo comentários elogiosos a uns, fazendo observações pertinentes e pontuais a outros, tudo de maneira muito sutil, educada, jeitosa. E, por último, a minha redação. Eu já estava ficando assustado. Era acostumado a ver colegas zoando de mim, não ganhar elogios. ( E nem os merecia...)

          "De onde você tirou isso, Euclides?" - "Ih, lá vem bomba de novo, pensei!" - Os colegas olhavam-me e eu estava apreensivo. A professora Vera começou a fazer as observações sobre a organização do meu texto, sobre a  verossimilhança que nele havia, pois a história, embora inventada, parecia verdadeira, cativante, atrativa. Ortografia perfeita, pontuação ideal, uma ótima composição, uma nota que eu jamais ganhara na área. Mas, mais do que a nota, foi-me prazeroso ouvir, pela primeira vez, um elogio por algo que eu mesmo criei, que era meu, só meu, defitivivamente meu! E nunca mais parei. Este é  meu 500º texto que estou publicando no meu blog. Escrevo porque gosto!

          Obrigado, professora Vera!

Euclides Riquetti
05-10-2013         

Importam nas rosas os colores


Importam mais nas rosas os colores
E os perfumes que deixam nas estradas
Importa-me que permaneçam simples flores
A encantar a vida que me foi traçada.
Importa muito que as rosas ali estejam
A esperar-me com seus lábios sedutores
Importa-me que os espinhos as protejam
Em seus cenários belos, multicores.
Rosas, belas rosas, razão de minha vida
Sou cravo que se perde na inconstância
Inseguro diante de tanta exuberância
Rosas, cingem de encantos cada canto, cada dia
E me remetem a uma gostosa nostalgia
A inundar a minha alma fugitiva.
 Euclides Riquetti

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Que em todas as manhãs

Que em todas as manhãs possa sorrir
O sorriso largo de uma  alegria incontida
Que haja um recomeçar e não um partir
Que possa comemorar e celebrar a vida.

Que as linhas de seu rosto se liberem
E apaguem dele todas  as preocupações
Que as suas virtudes e anseios prosperem
E que possa viver as mais belas emoções.

E que me reserve ao menos um lugar
Um pequeno espaço em seu coração
Onde minha alma possa se amparar.

E que o mundo nos sorria num repente
Que possamos reviver a mais bela paixão
Dando asas aos sonhos de amor ardente!

Euclides Riquetti
22-01-2016

João Libório - o vendedor de bananas

J
          Pessoas podem ocupar generosos espaços em nosso imaginário. E, mesmo que esse espaço seja compactado e armazenado lá no fundo da nossa consciência, é possível que,  de um momento para outro,  ele nos volte à memória, como se as personagens, os ambientes, os fatos, esteivessem, de novo, desfilando em nossa frente. E, para determinados seres, não importa se a fortuna os contemplou, se seus nomes ocuparam os noticiários ou as páginas dos jornais ou livros de história. Importa, mesmo, é que essas personagens nos tenham deixado boas lembranças e que, quando elas nos voltam, a realidade parece refazer-se e nos trazer a alegria de uma saudosa e maravilhosa lembrança.

          É possível viver dignamente, estar bem, ficar bem, continuar bem, ter o carinho dos familiares, amigos e vizinhos, quando se tem a bondade na alma, a simpatia se estampando no semblante, a elegância nos gestos. É possível, sim, marcar a presença na cidade,  mesmo sendo um quase que anônimo cidadão, ter a admiração das pessoas, construir uma biografia simples mas recheada de méritos. E o mérito principal ser o de ter vivido e deixado os outros viverem.

          Na minha infância, em muitas de minhas tardes e manhãs, eu presenciava a passagem de um cidadão de altura mediana, magro, rosto fino, pele morena (como diria o Dr. Vítor Almeida, cor de cuia!)  que, alçando alternadamente nos braços  uma cesta de vime, oferecia no comércio, nas casas, ou mesmo para os que andavam despretenciosamente nas ruas, pequenas pencas de bananas,  João Libório. Belas e saudosas lembranças de sua fala calma e macia, de seus gestos delicados, da singeleza de seus modos.
(Não, não é preciso ser "poderoso" para cativar ou influenciar os outros. É preciso ter, em si, algo que nos caracterize, que nos dê uma marca, que nos identifique, que faça com que os outros nos percebam...)

          Pois o Seu João Libório, com seu nome inteiro, assim, não apenas João, nem apenas Libório, vendia-nos bananas, em pencas com oito, nove, dez, onze bananas, dependendo do tamanho de cada uma delas. Mas pencas que dificilmente tinham seu peso distanciado de 1 Kg. Ora, tinha ele tanto conhecimento de seu afazer, que apenas pelo olhar ou por segurar nas mãos uma das pencas, sabia dizer exatamente o seu peso, nem prcisava usar de uma balança para verificar isso. Ninguém duvidava dele. E vendia uma cestinha de bananas pela manhã e outra à tarde. Apanhava-as em dois pontos de abastecimento: o Depósito de Bananas do Augusto Hoch ou a Bodega do tio Adelino Casara, em Capinzal. Saía à rua e já tinha os fregueses certos. E, ainda, havia os colonos que estavam a visitar a cidade nas bandas do Ouro ou do Capinzal, e que compravam uma, até duas pencas, para levar para casa. Não era uma fruta rara, mas na época tudo era difícil, não havia os supermercados, os sacolões, como há hoje, onde pudesse ser comprada.

          E, nesta manhã, ao acordar bem cedo, não sei se para sugerir-me o escrever de uma crônica, não sei realmente por qual  motivo, mas algo me trouxe à tona a imagem do João Libório. De origem simples e humilde, um homem honesto, um pai zeloso, um cidadão exemplar, nunca teve telefone, provavelmente não teve aparelho de tevê em casa, jamais imaginou que pudesse ter um carro... Mas nunca  perdeu sua credibilide, jamais deixamos de confiar na decência e seriedade com que nossa personagem levava a vida e nos deixava bons exemplos, dentre eles o de como tratar bem as pessoas com quem convivemos ou com que nos relacionamos!

Minha homenagem ao João Libório, de cujos descendentes não tenho nenhuma notícia, mas que devem estar por aí vivendo honrosamente como ele viveu.

Euclides Riquetti
04-10-2013

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Apenas uma chance...

Apenas mais uma chance
É do que eu preciso
Apenas um breve lance
Pra rever seu sorriso...

Uma chance de ouro
Uma chance, simplesmente
De reencontrar um  tesouro
Que se ocultou de repente...

Apenas uma vez, só uma
Quem sabe um pedido de perdão.
Será que não terei nenhuma
De ouvir a sua canção?

Uma chance para nós
Um chance que nos devemos
Para não ficarmos sós
Uma chance que merecemos...

Apenas isso...
Bem assim!

Euclides Riquettti
21-01-2015




Beije-me, em silêncio, na noite...

Beije-me,  em silêncio, na noite,  me beije
Ou então minta e diga-me que não me quer
Permita-me entender o seu jeito de mulher
Mas, por favor, jamais me deixe...

Beije-me, em silêncio, na manhã de luz
Ou então finja dizendo que não sou nada
Com beijo de musa, mulher ou namorada
Com aquele beijo delicioso que me seduz...

Beije-me, em silêncio, na tarde ensolarada
Ou então me cante uma daquelas canções
Aquela que violenta as minhas emoções
Mas que me atrai para a doce amada...

Beije-me, em silêncio, apenas faça assim
E lhe darei em troca todo o meu coração
Mas, se não me quiser, ainda peço perdão
Porque quero apenas que acredite em mim!

Euclides Riquetti
20-01-2016





Nona Regina Tomasi Helt - nossa sincera homenagem a quem nos deixou...


         As pessoas deixam seu nome na História pela sua conduta pessoal durante toda sua vida, pelos ensinamentos que legam aos descendentes, pelos bons exemplos que deixam para os semelhantes, em especial os de convivência mais próxima. Dona Regina Tomasi Helt pode ser considerada como uma pessoa que cumpriu com esses preceitos e, ainda, uma seguidora das orientações cristãs pela Igreja da qual sempre fez parte, a Católica, Apostólica Romana. Com seus bons exemplos, Nona Regina, como é conhecida, conseguiu deixar uma descendência de pessoas honradas e voluntariosas.

         Presença constante nas lides de sua comunidade, a Linha Vitória, onde viveu a maior parte de sua vida, teve um amplo leque de amizades. Compadres, comadres, afilhados, amigos, pessoas que testemunham o quanto o casal José Antônio e Regina foram importantes para a sociedade daquele lugar. E toda essa dedicação foi transferida a seus filhos e os demais descendentes, que assimilaram os conceitos da prática de ajudar sua comunidade o que fazem até os dias de hoje nos locais onde passaram a residir.

         Nascida em São Paulo, aos 24 de junho de 1918, veio para o antigo Distrito de Abelardo Luz, hoje Ouro, ainda criança, fugindo da febre malária que já havia vitimado sua mãe e irmãos. Em Ouro, casou-se com o agora saudoso José Antônio Helt, ,sendo que o casal, residindo nas proximidades do núcleo de Linha Vitória, teve  10 filhos, dos quais  5 homens e 5 mulheres., sendo eles:  Hilário (in memorian), Júlia, Angelin, Olímpio, João, Inês, Catarina, Terezinha, Iraci e Luiz.  

                  Estes lhe proporcionaram 39 netos, 77 bisnetos e 23 tataranetos. Uma centena e meia de descendentes é o resultado de uma integração franca, natural e verdadeira com outras famílias. Hoje, somando-se aos agregados familiares há mais de duas centenas de pessoas que levaram o sobrenome da família.

         A Nona Regina, mesmo depois de ter perdido o marido, continuou liderando os descendentes, conquista que foi resultado do afeto e do carinho que sempre lhes dispensou. Só quem soube respeitar angariou o respeito, um fato verdadeiro que muito bem se aplica a sua pessoa.

         Dona Regina foi morar no céu, para onde foi chamada por Deus na tarde desta terça-feira, 19 de janeiro de 2016.  Os familiares, mesmo com a dor da separação definitiva, sabem que fizeram a parte deles, dando-lhe o merecido conforto, o respeito e o carinho. Sua alma foi  juntar-se às demais e transformar-se num anjo da grande legião celestial. Deus a recebe com todas as honras, merecidas,  em sua eterna glória!

 

Leve, consigo, o carinho de todos os que aqui ficaram.

Com muito afeto de todos os seus familiares.

 E com a homenagem muito especial do amigo da família
 
Euclides Riquetti

20-01-2015

As asas da Megan Fox

Replay:
          Divina e maravilhosa. Atraente, sedutora, encantadora... Olhar distante e belo, olhos divinamente desenhados. Corpo esculpido, desejado... Assim é a atriz Megan Fox, protagonista de "O Anjo do Desejo", uma produção americana de 2010, em que nossa Diva tem seu coração ( e corpo de Vênus), disputado por Nate e Happy, personagens de Mickey Rourke e Bill Murray.

          No filme, nossa belíssima compõe uma personagem dotada de asas, Lily,  dominada por um dono de circo que a tem como principal atração dentre seu elenco de artistas. Nate, um trompetista boêmio que trabalha em clubes noturnos de Las Vegas, apaixona-se perdidamente por ela, mas precisa disputá-la com Happy, que vê nela o produto para muitos ganhos, financeiros e pessoais.

          O filme, na verdade, é um sonho de Nate, e gostar dele ou não é uma questão de preferência. Procurei nos sites da net e percebi que a maioria dos comentários postados por cinéfilos o consideram um péssimo filme. Mas a questão é como gostar de vinho, cachaça ou cerveja. Eu prefiro licor. Ou coca-cola. Ou guaraná da Antárctica sem pipoca... (Aliás, vi o filme no Telecine Pipoca)!

          Gosto da fábula, da fantasia, do romance, da paixão, da beleza feminina que escraviza os homens, que faz com que os machões se tornem cordeirinhos. Gosto de olhos bonitos, corpos esculturais, cenário bonito, coisas encantadoras. Gosto de viajar no imaginário, no mundo dos sonhos, na suprarrealidade, que é bem melhor do que a realidade e me faz bem. Tenho alma e sensibilidade para a arte e não consegui isso na escola nem lendo livros. É algo que veio naturalmente  em mim, que está em mim, que ficou em mim.

Mas também sei apreciar o filme cabeça, com bons enredos, com histórias consistentes, com bons atores. Assim como destesto ver alguns filmes  mal produzidos, fincanciados com o meu, com o seu dinheiro, com o leite generoso das tetas da  vaca da viúva. Não generalizo, pois temos ótimas produções brasileiras, com grandes atores e atrizes. Mas há muito oportunismo e produção barata com custo alto que pago para não ver.

          Recomendo-o, assim, às pessoas que têm a alma leve, que têm o coração sonhador, que entendem que  mundo não se pauta totalmente na lógica, que a vida pode ser um maravihoso sonhar. Não procurem entender nada no filme. Apenas curtam a beleza de sonhar, sonhar, sonhar... E aplaudir o amor e suas histórias!

Euclides Riquetti
09-08-2013

Que em todas as manhãs

Que em todas as manhãs possa sorrir
O sorriso largo de uma  alegria incontida
Que haja um recomeçar e não um partir
Que possa comemorar e celebrar a vida.

Que as linhas de seu rosto se liberem
E apaguem dele todas  as preocupações
Que as suas virtudes e anseios prosperem
E que possa viver as mais belas emoções.

E que me reserve ao menos um lugar
Um pequeno espaço em seu coração
Onde minha alma possa se amparar.

E que o mundo nos sorria num repente
Que possamos reviver a mais bela paixão
Dando asas aos sonhos de amor ardente!

Euclides Riquetti
22-01-2016


terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Oeste Catarinense - Memórias de um Pioneiro

Recebi, em minha casa, na terça, 19, o escritor Flávio Pancera e a Professora Suely Scalsavara. Passi-lhes o livro "Oeste Catarinense - Memórias de um Pioneiro" em que...

          Já me referi ao cidadão José Waldomiro Silva, que nasceu no interior de Campos Novos, em 21 de junho de 1902, na fazenda do avô paterno, Jordão Francisco da Silva. Silva é um exemplo de pessoa simples, que deu a volta por cima, que podemos considerar um vencedor, com méritos. Um menino de fibra, que tornou-se um homem de fibra, um líder incontestável. Exerceu, em sua vida,  mais de uma dezena de ocupações. O menino que, aos 12 anos,  ajudava a defender o povoado de Rio Capinzal empunhando uma Winchester 44, mesmo pobre, conseguiu, pela sua maneira simples a carismática de ser, eleger-se duas vezes prefeito de Joaçaba e duas vezes Deputado Estadual. Mas sua biografia vale mais pela maneira como conduziu sua vida simples mas de sucesso do que pela carreira política.

          Aos sete anos mudou-se para as proximidades do Rio Pelotas, poróximo da hoje Zortea e em 1910 a família foi para Rio Uruguai, ali próximo de Marcelino Ramos. Acompanhou a chegada da linha férrea, sendo que seu pai vendia carne para os trabalhadores da mesma. Ficaram pobres depois que revolucionários que vinham do Rio Grande do Sul passaram pela propriedade da família e saquearam seus bens.  Viu a construção da ponte sobre o Rio Uruguai, ligando Santa catarina ao Rio Grande, em Marcelino Ramos.

          Em seu livro, "O Oeste Catyarinense - Memórias de um Pioneiro", ele conta toda a história de sua vida, com riqueza de detalhes sobre a construção da estrada-de-ferro, a enchente de 1911, o assalto ao trem pagador pelo grupo liderado por Zeca Vacariano e Manoel Francisco Vieira. Em 1912 foi  morar em São João do Triunfo (Paraná), voltando, em 1914, aos 12 anos, para Rio Capinzal.

          Sobre essa época,  faz uma minunciosa descrição do centro de Capinzal e dos acontecimentos de então,  sobre os conflitos entre os revoltosos do Contestado e os homens da madeireira Lumber. Conta sobre o acampamento de 500 soldados de uma Força Federal que ficaram acampados nas proximidades da estação Férrea de Rio Capinzal, para guarnecê-la,  na época. Interessante é saber que, naquele tempo,  a área situada à  margem esquerda do Rio do Peixe, chamada Rio Capinzal era ligada por uma balsa de Afonsinho da Silva à do lado direito, o então Distrito de Abelardo Luz, onde havia somente a rua central povoada, e hoje se localiza a cidade de Ouro, que pertencia ao Paraná, enquanto que a outra, Rio Capinzal,  pertencia a Santa Catarina.

           Vale muito a pena conhecer as descrições e narrações de José Waldomiro Silva, pois foi uma testemunha presencial dos conflitos em nossa região contestada.

          Das descrições em seu livro, citarei uma que julgo importante para todo o capinzalense conhecer, às páginas 21 e 22:   "O nome de Rio Capinzal se originou do seguinte fato: Segundo voz corrente na época, o fazendeiro-proprietário das terras de Capinzalo, de nome Antônio Lopes, cuja fazenda de campos e matos fazia fundos com o Rio do peixe na barra do rio que levou o nome de Capinzal. Para fazer pastagens e invernar suas criações, fez grande desmatação à  margem do Rio do peixe, da barra do lajeado ali existente, acima e, depois da queima, semeou capim melado ou capim gordura, cuja semente trouxe de São Paulo, para onde viajava seguidamente com tropas de muares que vendia em Itapetininga, tendo assim formado uma grande pastagem (capinzal)"

          Em 1917, quando da criação e instalação de Cruzeiro, no povoado de Limeira (hoje Joaçaba), eles foram morar ali, onde exerceu diversos ofícios, inclusive o de balseiro. Em 1921, morou em Rio do Peixe (Piratuba), depois em Irani, e voltando para Limeira 9Joaçaba), ao final de 1924 para exercer a função de Escrivão de Paz. No ano seguinte, foi para Itá como cartorário, voltando a Limeira em 1927.

         Em suas memórias, José Waldomiro Silva fala da Revolução de 1930, da Construção da Ponte Emílio Baungharten, entre Joaçaba e Herval, sobre a passagens dos comboios de trem, sobre a fundação do Clube 10 de maio, de Joaçaba, sobre a morte do pioneiro de Treze Tílias Andreas Thaler, sobre a fundação do Município de Concórdia, o Tiro de Guerra, a enchente de 1951, e outros fatos marcantes.

          Em 1947, já aposentado, foi morar em Ponta Grossa, mas foi convidado a voltar a Joaçaba para concorrer a Prefeito, tendo sido derrotado por oscar Rodrigues da Nova. Fez sua campanha montado em lombo de cavas emprestados pelos seus correligionários, visitando as fazendas de Herciliópolis e Irani.

            Novamente candidato, foi eleito Prefeito de Joaçaba, assumindo em 31 de janeiro de 1951, ficando até 1954, ano em que se elegeu Deputado estadual, sendo o mais votado do Estado, reelegendo-se em 1958. E, em 1960, elegeu-se novamente Prefeito de Joaçaba, vencendo ao jovem Paulo Stuart Wright por uma diferença de apenas 9 votos. Ao final da década de 1960 foi morar em Florianópolis e em 1987 lançou o seu livro de memórias.

           José Waldomiro Silva foi propriamente um cigano. Nas cidades onde morou frequentou escolas do antigo primário, mas sua evolução na escrita veio em razão de tê-la praticado muito na atividades cartoriais. Seu livro de memórias nos traz muitas informações valiosas, incluisive citando os nomes dos primeiros moradores dos povoados onde residiu. Vale a pena ler!

Euclides Riquetti
14-09-2013

Nunca digas nunca, jamais

Nunca digas nunca, jamais
Que desta água tu não beberás
Pois nos conflitos pessoais
Muitas voltas o mundo dá!

Nunca digas nunca, certo?
Pois o futuro a Deus pertence
O amanhã é sempre tão  incerto
E tudo pode mudar de repente!

Nunca  digas nunca, amor
Pois os caminhos são diversos
Se num verão há muito calor
No inverno te escrevo versos!

Não, não digas nunca, então
E procura nadar na calmaria
Reserva-me o lugar no coração
Para onde voltarei um dia!

Euclides Riquetti
19-01-2015




Vem sol, vem!


Vem, sol, vem
Vem clarear o céu de minha tarde
Vem com seus raios tímidos, mas vem
Vem clarear o céu de minha tarde
Vem, sol que eu espero tanto, vem!
Vem, sol, não te afugentes por causa dessas nuvens cinzas
Vem brilhar sobre as ruelas e campinas
Vem encostar-te em minha pele fogosa
Vem acalmar minha alma triste e ansiosa
em, sol, vem clarear o céu de minha tarde!
em, vem trazer de volta o ânimo perdido
Vem refazer meu coração ferido
Vem, com o poder de seus raios regeneradores
Devolve às tardes as belas e singelas cores
Devolve a todos os corações os seus amores.
Vem, sol, vem
Que eu estarei aqui a te esperar!
 
 Euclides Riquetti
19-01-2016

Eu quisera ser...

Eu quisera ser
Aquele que te encanta
Que te faz tremer...
Enquanto cantas.

Eu quisera ser
Como o beija-flor
Que no alvorecer
Te beija com amor...

Eu quisera ser
Como o sol brilhante
Que te leva a ter
Calafrios a todo o instante...

Eu quisera ser
A canção que tu cantas
E poder te dizer
O quanto me encantas...

Eu quisera ser
Um poeta terno
E poder merecer
Teu amor eterno...

Eu quisera ser
O grande inspirador
E poder te dizer
Que sou teu único amor!

Euclides Riquetti
18-01-2015



segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Felicidade existe?

          Em algumas situações da vida já indaguei pessoas com uma pergunta bem direta: "Você é feliz"??

         Devo dizer que as pessoas realmente felizes abrem um sorrisão e dizem que o são. As que não têm certeza dizem um "mais ou menos". Algumas espertas, querendo disfarçar, dizem: "more or less", ou "so..so"! E há que prefira dizer: "Prefiro não responder!"

         Pois bem, imagino que o conceito de felicidade deva ser relativo, apenas. Não é absoluto, não há máxima para o tema, felicidade não se mede, não se quantifica. É difícil encontrar-se pessoas que sejam realmente felizes. Sempre há algo a perturbar, incomodar, inquietar, tirar o sorriso (que deveria ser permanente e usual), de um rosto. Fico imaginando um rostinho fino, um cabelo bem arrumado, um olhar expressivo, mas com um fundo de melancolia atrás de um sorriso não lá muito natural...

         As situações do dia a dia, a intolerância com o companheiro (ou companheira), problemas de relacionamentos, preocupações com filhos, falta de dinheiro, ansiedade, instabilidade profissional, medo de ficar sem trabalho ou renda, a incerteza no futuro, e muitos outros fatores de desagregação ditam o ritmo de nossa tristeza, que pode levar ao desespero, às frustrações, à infelicidade!

        Partindo dessas constatações, é possível crer que o ser humano, não sendo perfeito, e sujeito às fragilidades de sua alma, à sua instabilidade emocional, pode ter momentos de felicidade alternados com outros de melancolia, sim. Eu mesmo, algumas vezes, até por ser sensibilíssimo e muito romântico, o que me fortalece enquanto poeta, tenho meus momentos de "maré baixa".

         A saída, a retomada da tranquilidade, a administração dos conflitos pessoais e existenciais, tudo, pode acontecer com o diálogo, a boa  conversa, o entendimento,  abertura do coração a franqueza, a proatividade em favor de si mesmo. Mas, lembro, teorizar é muito fácil. Porém, administrar decepções, insatisfações e conflitos é algo muito difícil e que requer muito esforço pessoal.

         E você,  leitora, leitor, está cuidando bem de suas emoções?

Euclides Riquetti
18-01-2015

O tempo que passou...

O tempo que passou
Deixou rastros, deixou marcas.
Rastros nos caminhos, nas estradas
Marcas nos corações e nas almas.

O tempo que passou deixou-me lições:
O tempo que passou mostrou-me que as ilusões
São vãs e fugazes.
Mostrou-me que há  o bem, ou o mal
Em todos os lugares.
Mostrou-me que há as certezas
Mas também as incertezas
O ganhar e o perder
Os reais e os imaginários
Mas, todos, muito necessários.

Muitas vezes perdi, outras ganhei
Mas nunca desanimei.
Levantei-me em cada tropeço
E, por isso, meu Deus a quem tanto louvei
Eu vos agradeço.

A quem amei com paixão
A reafirmação
A quem me estendeu a mão
Minha eterna gratidão
E a quem me quis tanto bem
Agradeço também.

E, nas marcas que ficaram
Nas ilusões que se apagaram
Nos ânimos e desânimos
A constatação:
Viver é amar
É ser amado
No desejar
Também ser desejado!

É pedir a bênção de Deus...
E ser por Ele abençoado!

Euclides Riquetti

Hicai - poemas do coração

Coração sofrido
Com a dor da decepção
Amor dolorido.

Coração contente
Sem dor, sem desilusão
Coração valente.

Coração doente
Traz na dor a frustração
Minh´ alma demente.

Coração de luz
Entregado à perdição
Se o corpo seduz.

Coração poeta
Da mais lírica paixão
Flecha que me afeta.

Coração que exulta
Que transborda de emoção
E o segredo oculta.

Coração alado
Vai voar na imensidão
Pousar ao seu lado.

Euclides Riquetti
18-01-2015


domingo, 17 de janeiro de 2016

José Maliska Sobrinho - o cidadão, o poeta!

          Li, recentemente, o livro "José Maliska Sobrinho - Biografia". Valeu a pena ter lido!

          Conheci o Sr.  José Maliska Sobrinho quando ele vizinhou conosco no Distrito de Ouro, pouco antes de este emancipar-se de Capinzal. Mas ouvira falar dele no inverno de 1960, quando sua esposa, Pierina Motter Maliska veio a falecer e eles moravam nas proximidades da Prefeitura Municipal. A Sede da Prefeitura de Capinzal se localizava em Ouro, seu distrito,  e não no local onde hoje há a sede daquele município. Coisas da política, das velhas rivalidades entre UDN e PSD.

        Meu primeiro contato com os Maliska veio na semana seguinte ao falecimento de Dona Pierina, que deixou nosso mundo ao dar à luz uma filha, a Maristela, em 10 de julho de1960. Um parto muito difícil, em que as opções do médico eram entre a de salvar a mãe ou a filha. Dona Pierina, com 36 anos, sugeriu que salvassem a bebê. Achava que tinha vivido bastante e que a menina é que precisava ser contemplada com a vida. Apesar de todos os esforços do médico e das auxiliares, naquela madrugada de sábado para domingo,  nasceu a Maristela e sua mãe foi pro céu. Eu e o Moacir Richetti, meu primo, fomos entregar os convites para a missa de sétimo dia de casa em casa. A saudosa Tia Maria Lucietti, segunda esposa do Tio Victório, era amiga deles e fomos atender a um pedido de pessoas ligadas à família Maliska.

           Quando eles vieram morar no casarão que fora construído pelo Sr. Marcos Penso, na Rua Senador Pinheiro Machado, e que hoje pertence aos herdeiros de Idalécio Antunes, fiz amizade com os filhos, especialmente o Rui. O Rui era um menino educadíssimo e que parecia frágil, mas muito inteligente. Ensinou-me o que era um estádio de futebol, quando fazia um deles num monte se serragem que havia perto do casarão, na rua, onde brincávamos ao final das tardes.  Naquele tempo,  era normal que, num dia inteiro, nenhum carro passasse pela rua, uma vez que estes eram raros. Antes, era utilizada pelos caminhões da família Penso. Depois, poucos por ali transitavam.

          A História de José Maliska Sobrinho e toda a sua família é contada pelos filhos de seu segundo casamento, com Celina Miqueloto, os amigos Marcos Augusto Maliska e Maurício Eugênio Maliska, num livro biográfico que publicaram através da Juruá Editora, de Curitiba, em 2012 e que no ano seguinte passou a chegar às mãos dos amigos da família. Fui presenteado pelo meu ex-aluno Marcos e pelo seu mano Maurício. Agradeço de coração!

          Emocionei-me diversas vezes ao ler a história dos Maliska. Já considerava o Sr. José pela fineza  e amabilidade com que tratava as pessoas na época em que eu era um adolescente. E eu admirava aquela caligrafia dele, inconfundível, nos documentos em que escrevia no seu Cartório, em Capinzal. Um verdadeiro gentleman, elegante no vestir-se, no andar e no falar calmo, equilibrado e pausado. O Maliska, além de todas as virtudes e atributos como bom pai e marido, também cidadão muito responsável nas suas atividades públicas e profissionais, era ainda um exímio atirador. O amigo Nelito Francisco Colombo sempre me contava das façanhas do "Venho Maliska", com seu 38.

          José era um dos melhores amigos de meu pai. Formavam um grupinho de amigos em que ele, meu velho Guerino, o Luiz Gonzaga Bonissoni, o Werner da Silva, o Giavarino (Bijuja) Andrioni e meu primo Rozimbo Baretta se reuniam num bar, ali defronte à Ponte Irineu Bornhausen, no Ouro, e ficavam tomando umas pinguinhas e contando histórias e causos. Agora, lendo o livro, pude reviver algumas das que meu pai nos contava... E passei a entender o porquê de seu entendimento fácil com o Maliska e o Bonissoni, pois  tinham o mesmo perfil cultural e intelectual, foram grandes leitores e pesquisadores, aprendiam a fazer as coisas com facilidade, tinham ótima expressão oral e escrita. Tudo beirando à perfeição!

           Toda a vida da família Maliska, começando pela narração da  vinda deles para o Brasil, quando o pai de José, Francisco, veio da Polônia,  e casou-se no navio com Júlia Romanowski, alemã, que nele conheceu está relatada no livro biográfico. As dificuldades desse casal e dos filhos, se aventurando por terras do Rio Grande do Sul, as cartas trocadas entre a parentada e seus descendentes, tudo é informação digna do maior crédito e constam nas paginas da edição.

         Não vou aqui fazer uma resenha de tudo o que está na obra,  mas li cada linha, observei e analisei cada detalhe do que está escrito. Tenho muitas lembranças do José, da Isabel, da Eleonor (que mora aqui em Joaçaba e que seguidamente a encontro na rua)  do Luiz, que é advogado aqui em Joaçaba e com quem costumo me deparar na fila de um banco, do Aliomar que andava com aquele Corcel  branco de 4 portas, em 1970,  e vinha com o Rui para abasctecer no Posto Dambrós, e da pequena Maristela, que foi criada pelo tio Dr. Antônio Maliska e pela Delfa,( irmão e cunhada de José). Da Carmen, que foi embora quando eu era criança, poucas lembranças tenho.

          Descobri, no livro, o lado poético do Sr. José. Um romântico autêntico, que escrevia palavras bonitas, que sabia amar e fazer-se amar. Retirei, da página 85, parte do que escreveu numa carta à amada Pierina, quando ela tinha ainda 15 anos:

          "Para mim, apesar de ser pequenino, tenho o coração grande para te amar; eu julgo que tu terás pena de mim, sem teu amor a flor logo há de morrer: conforme florescem as plantas, e a lua vai se ostentando cada vez maior, uma força poderosa em mim vai se alastrando. Qual será o coração que vendo as maravilhas da natureza não sinta vontade? Alta noite enluarada, minha alma triste e abandonada vive sempre a pensar!... Moreninha, tu és uma jabuticaba, madurinha a valer. Enquanto não proseamos, meu coração não para de bater..."

        Que bom constar isso e  poder me referir de maneira carinhosa a uma pessoa que nos deixou em 23 de junho de 1979, e  que seus filhos hoje resgatam sua história de generosidade e cidadania através de um livro, onde se resgata a história de um cidadão honrado e que nos deixou belos exemplos.

Parabéns!

17-01-2016

Te amar, te amei

Te amar, te amei
Na madrugada...
Foi Deus que te colocou
Na minha estrada...
E eu te abracei
Na madrugada...
Porque tu estavas
Na minha estrada...
Também te beijei
Na madrugada...
Enquanto caminhávamos
Na mesma estrada...
Então eu te amei
Na madrugada
Desde que te encontrei
Na minha estrada...
Te amei, te amei
Na madrugada!

Euclides Riquetti
17-01-2016

Os óculos de enxergar da mulher do Amílcar


          Ligo para o Amílcar para perguntar como tem passado desde nosso encontro, uma semana atrás. Eu queria agradecer pelo café que nos ofereceu, lá na Lanchonete de General Carneiro, na sexta passada. Nas primeiras tentativas de "fora de área", mas depois acabei me acertando com ele. Tinha ido levar mas ovelhas para engorda no sítio de um amigo. Ganhara uma na rifa da Capela e comprara outras no leilão de uma festa no final de semana.  

          O Amílcar é aquele me amigão que reencontrei em Canasvieiras em abril, na Semana dos Uruguaios, a que para nós é a Semana Santa. É aquela em que, no Uruguai, fazem uma semana de feriado para que as pessoas possam viajar, ir fazer turismo. E, pela proximidade, Rio Grande do Sul e Santa Catarina são os principais destinos deles.   Reencontrei o Amílcar na semana passada, quando estava de passagem por General. Combinei com ele enos encontramos.

          "Boa tarde, Riquetto! Come que tá o frio por aí? Minha véia disse que leu que você iscreveu alguma coisa sobre o sol, que aí não tinha sol hoje cedo! Ma aqui nun é diferente, amigo! Muito frio, de arripiá os cavei..."    Falei-lhe que ela deve ter lido meu blog e lido meu poema novo, "Vem, sol, vem!", que escrevi para chamar o sol. Ele compreendeu, disse "num intendo nada de brogue"e também não fiquei explicando isso pra ele, Conversa com ele tem que ser prática e mais objetiva.  

          Peruntei-lhe como foram seus últimos dias, o que tem feito além de tomar chimarrão. "Óia, Riquetto, num tá fácil a cosa aqui. Tenho que inventá até disculpa pra podê jogá um isnuquinho.. Digo que vô visitá meus cumpadre e vô cum eles jogá us taco no bar do Ziza, aqui em Palmas. Você sabe que sempre gostei de escorá o umbigo nas mesa de bilhá e num é agora que vô pará. Num posso isperá pa ficá veio im casa."

          Falei-lhe que tem razão, mas que não deve enrolar a mulher, que se ela desconfiar que ele está mentindo, vai passar a desconfiar de tudo o que ele disser. E, depois que perder a confiança dela, esá frito!

          Deu umas belas risadas, parecia-me ver seu jeitão. Perguntei-lhe como estava a esposa, que gostaria que viessem nos visitar, que ficaríamos muito contentes em recebê-los. E lá veio ele com essa conversa:"Ma nem te conto, Riquetto! Sabe que ela foi comigo consultá no Porto e comprô um par de óculos novo?. E eu que paguei o pato! Quando cheguemo im casa tava inxergando tudo, até demais. E começô a olhá pras parede, pro forro da casa, pras porta e janela e discobrio que tinha um mofo daqueles cinzento. I tudo sobrô pra mim. Me deu um baldo de áqua cum quiboa e um pano daqueles de pelúcia e me fez isfregá tudo aquilo, até tirá fora, deixá tudo branquino. Devia ter dexado ela orba que era meió pra mim. Capaiz de até vê coisa que num existe agora..."

         Tive que rir.  Disse-lhe que hoje em dia a gente precisa ajudar em casa e principalmente no inverno, que as faxineiras fazem, mas que isso tem um custo, uns oitenta reais por dia. Ele me disse que prefere fazer tudo sozinho, nem que leve dois dias,  e que o dinheiro que economiza dá pra comprar erva pra tomar chimarrão o mês inteiro e ainda para umas 30 fichinhas de bilhar.

          Conversa vai, conversa vem, disse-me  que ainda ontem estava olhando umas fotografias que tem guardadas numa caixinha de sapato, viu uma foto do tempo em que tínhamos aquele cabelão escuro, lá nos nossos 20 anos,  no Porto.  E começou a lembrar de uma vez que fomos no baile em São Miguel, Distrito do Porto, e que só deixavam entrar lá de terno e ele...Bem, isso é história pra outro dia!

Euclides Riquetti
16-08-2013