sábado, 26 de maio de 2018

O vazio que há em mim


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O vazio que há em mim
Também há em ti.
É como um céu sem estrelas
É quando é  impossível vê-las
É como um mar sem fim.

O vazio que está em mim
Também está em ti.
É como uma árvore sem folhas
É como não ter escolhas
E não saber de onde eu vim.

O vazio que há em nós
É o vazio dos sós.
É como a rua sem gente
É como o espelho sem lente
Ou as renas sem trenós.

O vazio de cada alma
É inerte como a alga
É a hora sem o minuto
É a água sem o duto
É a sentença sem ressalva.

E eu penso em ti...

Euclides Riquetti

sexta-feira, 25 de maio de 2018

Mater Dolorum (Colégio da minha infância)

O autor, com alunos do Mater por ocasião de

palestra



Em manhãs de sol brilhante
Em dias de céu azul como o mar
Eu olho pro alto do monte
E vejo a beleza sem par.

É o colégio dos bons anos
Dos anos de minha infância
A escola onde estudamos
Com toda a sua exuberância.

Em manhãs de inverno eu lembro
Eu lembro com emoção
Dos pique-niques em setembro
Dos passeios no verão.

Eu lembro dos colegas já idos
Que Deus levou para si
E que hoje estão vívidos
No coração que está aqui.

Ah, como a vida era bela
Que saudades do pingue-pongue
Do carinho da Irmã Marinella
De brincar de esconde-esconde.

Saudades eu sinto do amigo
Da amiguinha pura e inocente
Lembranças eu trago comigo
E falo o que minh ´alma sente.

Ah, quantos dias tão saudosos
Em que nós, pequenas crianças
Aprendíamos a ser corajosos
Aprendíamos, eu tenho lembranças.

E hoje, depois de um bom tempo
O Mater ali continua
Majestoso, soberbo elemento
Grandiosa a presença sua.

E eu canto por onde eu ando
Com o orgulho da vitória
A canção que por encanto
Me leva de volta à História.

A História que os filhos ouvem
É a verdade que eu vivi
Até parece que foi ontem
Que escrever eu aprendi.

E, para todos vocês
Colegas tão cheios de vida
Fica o abraço cortês
Meu e de minha família!

Euclides riquetti
26-05-1994 - composto e declamado
mum evento comemorativo do Colégio
Mater Dolorum, em Capinzal - SC,
onde estudei na infância
e lecionei quando adulto.

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Pendure atrás do fogão

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          O fogão a lenha ainda é um equipamento de cozinha indispensável nas casas das pessoas que hoje estão na condição de semi-idosas ou já inclusas. Principalmente nas de quem não reside em apartamentos.

          Os fogões, aqueles esmaltados brancos com estampas de flores bem coloridas, bem tradicionais, das margas Geral, Marumby, Wallig ou Venax,   estiveram presentes na história de nossas famílias. Deles, tenho belas lembranças, principalmente da casa de minha madrinha Raquel, no Leãozinho, ou da Nona Baretta, na Linha Bonita, em minha casa e nas das tias, no antigo Rio Capinzal. As panelas grandes, de alumínio, fervendo o leite, ou no preparo do arroz quebradinho ou da macarronada. As de ferro,  para o cozimento do feijão e  as carnes. A polenteira, pesada, presente também. Algumas famílias tinham uma composição tão numerosa que precisavam de duas dessas polentas no almoço para saciar a fome após a lida da manhã. Os queijos, os salames, as copas, as bacias de saladas, principalmente os radicci.

          Um grande caixão para a lenha, com tampa, situado atrás do fogão, onde as crianças gostavam de ficar para menterem-se aquecidas nas frientas manhã de nossos invernos. Era disputado, mas os pais o reservavam sempre para os mais pequenos. E, de vez em quando, um susto, quando o vapor da água elevava a tampa da panela e, em gotas caía sobre a chapa muitas vezes avermelhadas pelo calor...

          Minha mãe conservou um até o final de sua vida. Nós, aqui em casa, também tivemos o nosso, mas já abolido desde que as crianças cresceram.  Porém, o que me faz retornar a ele não é a sua utilidade como o principal componente da cozinha, em tempos que as pessoas não tinham geladeiras e nem fogões a gás.

          Lembro dos arames esticados atrás dos fogões, fixados com pregos na parede angular, de madeira. E ali penduravam os uniformes para que secassem e as crianças pudessem ir para a escola devidamente paramentadas. Outras vezes, punham dois peçados de lenha no forninho e sobre eles um par de calçados, para que secasse e no outro dia pudessem ser usados...

          E há até lembranças que me fazem rir: uma vez minha irmã Iradi, professora na escola em Linha Pocinhos, colocou uma gravura de uma cozinha no quadro-negro. Estava ensinando  os alunos a fazerem uma descrição. E, uma aluninha, hoje uma respeitável senhora, escreveu: "Atrás da bunda da moça tem o fogão". Nada mal se os malandros não tivessem apelidado de "fogão" o traseiro dos homens.

         Também  histórias muito tristes foram protagonizadas diante desse histórico equipamento, com pessoas levando queimaduras que as marcaramou que lhes tiraram a vida...

         O fogão a lenha é um objeto que está caindo em desuso, gradativamente. Mas há muita gente herdando o costume de tê-lo e vão continuar utilizando-o. Alguns já substituíram a lenha por um dispositivo a gás que aquece a chapa. Mas, aquele brilho saindo da porta do fogão, ou aquele cheirinho da cinza da gavetinha sob a grade da combustão das lenhas, nunca será esquecido.

         Não importava para as crianças se suas roupas ficassem impregnadas de odores de fumaça ou de frituras.  Quem ligava para isso? O importante era não passar frio e no outro dia ir para a escola de uniforme e com calçados secos. Além disso, no inverso, tomar mate doce e comer aquele pinhão delicioso cozido sobre a chapa aquecida. E, todos sabemos, a comida que a mamãe ou a nona fizeram nos fogão a lenha era muito mais gostosa, não era?

          E o seu, era de que marca? De que cor? Tinha flores estampadas? Como era o caixão da lenha? Qual a marca: Geral? Marumby? Wallig? Venax?

          Você pode ter esquecido da marca, mas não esqueceu, certamente, das roupas penduradas atrás dele...

Euclides Riquetti
30-03-2013

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Vai, navegue nas alturas

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Vai, navegue nas alturas infinitas
Flutue sobre as suaves nuvens brancas
Leve consigo as mais ternas lembranças
Das manhãs mais doces, das tardes mais bonitas...

Vai, busque lugares diferentes
Viaje pelas estradas ainda desconhecidas
Ande pelas ruas sinuosas ou pelas avenidas
Levando nossos sonhos de crianças e de adolescentes...

Vai, procure minha alma navegando
E, quando a encontrar, segure-a firmemente
Ela é como o sonho que vai e que volta contente
Que repousou no tempo e que acabou voltando...

Vai, siga todos os caminhos do universo
Abrace este meu poema com toda a devoção
Guarde-o com cainho bem dentro de seu coração
Beijo-a em cada palavra que escrevo,  em cada doce verso!

Euclides Riquetti
22-02-2016

terça-feira, 22 de maio de 2018

O vento sutil que afaga o rosto


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Afaga-me o rosto o vento sutil
Acaricia-me com a maciez de suas mãos delicadas
Beija-me com os aromas das flores encantadas
A suavidade da manhã primaveril
E vem nutrir de amor minha alma esperançada.

Inunda-me de desejo o pensamento que devaneia
E que me leva até a fonte que me inspira
Sob os acordes da sedutora lira
Que a harmonia pelos ares  e espaços semeia
Atiça o fervor de um coração que  delira.

Doce musa que provoca o acanhado poeta
Que lhe desperta os sentimentos  já esquecidos
Que remete aos momentos eternecidos
E agiganta os instintos na hora mais incerta
Vem, vem  animar os meus instintos adormecidos
Vem!!!

Euclides Riquetti

O moço de olho azul

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Foi há muitos, muitos anos
Um moço loiro, de olho azul
Por entre sacros e profanos
Disse "amai", de norte a sul.

Foi no tempo de Maria
Foi no tempo de José
Em Belém, um certo dia
Nasceu Jesus de Nazaré.

Fio no tempo dos  Reis Magos
Um moço forte, inteligente
Que pregou por entre os lagos
"Amai a toda, toda a gente".

Foi há muito, muito tempo
Que Jesus apareceu
Palestrando no relento
Seu rebanho convenceu.

Foi aquela Madalena
Que roubou o seu olhar
Mas o moço que é meu tema
Preferiu lhe perdoar.

Foi assim que o jovem nobre
Que morreu naquela cruz
Preferiu ser moço pobre
E se tornou raio de luz.

Foi a voz do bom profeta
Que Jesus anunciou
Foi o verso do poeta
Que Jesus eternizou.

Foi com o sangue derramado
Que do vinho Ele tirou
Jesus Cristo,  tanto amado
A Humanidade Ele salvou!
Euclides Riquetti

Como um mar imenso


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Como um mar verde e  imenso
Como se fosse o sol gigante
Seguindo os odores do incenso
Busco aquela musa galante...

Como se eu fosse um selvagem
Ou um monstro ferido e atiçado
Jogo-me numa eterna viagem
Buscando ser compensado...

Como uma grande embarcação
Que veleja sem rumo, sem norte
Navego sem qualquer direção
Relegado a minha própria sorte...

E, no mar bravio das incertezas
Me deixo conduzir no balançar
Me deixo levar pelas correntezas
Me deixo conduzir pelo mar...

Para chegar até você...

Euclides Riquetti

domingo, 20 de maio de 2018

Lembranças

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É fácil falar do vento, que rima com o pensamento
Do ar, que vem do mar
Da flor, que revela o amor
Do sentimento, que remete no tempo...

É fácil falar do inverno, do amor eterno
Da desmedida paixão
Que explode no coração
E que leva do céu ao inferno!...

É fácil falar da terra, da alegria da primavera
Da planta que cresce
Do broto que floresce
Dos longos anos de espera!

É fácil falar de um porto e de um olhar absorto
Do dia do verão quente
Que queima a pele da gente
E do cansaço que mata o corpo!

É tudo muito belo !!!
Formosa inspiração !!!

Difícil
É lembrar de cada estação
Dia, mês, ano...
De cada beijo profano
De cada momento mundano
De corpo e alma em profusão...

E em cada olhar
Em cada pensar
Em cada lembrar
Querer que tu voltes
E não te ver voltar!...

Euclides Riquetti

Quando as pessoas tinham medo de pecar...

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Igreja Matriz São Paulo Apóstolo - Capinzal e Ouro
Santa Catarina




          Quando criança, costumava ir sagradamente às missas da Igreja Católica, lá no Rio Capinzal. Primeiro, em Leãozinho, onde o Frei Crespin Baldo vinha celebrar uma missa a cada dois meses, pelo menos. Vinha a cavalo, fazia seus ofícios religiosos e ia embora. Meus padrinhos e seus filhos me levavam com eles. Eu ia faceiro, com a blusinha verde com listras brancas, horizontais, que minha mãe me mandara. E com os sapatos novos, pretos,  que meu pai comprara na loja dos Zuanazzi, ali na esquina contraposta à  dos seus concorrentes, da família Macarini, defronte ao casarão do Sílvio Santos.  Comprava sempre um ou dois números maior, para que, quando o pé crescesse, não escapasse. E já vinha com amassados do "Correio do Povo", na ponta, para que tomasse boa forma no pé., não escapassem.

          A parte boa da missa era que, após, íamos brincar com os filhos dos Seganfredo, Andrioni, Biarzi e Frank, Pissolo e Reina, correr pelo gramado e passar pela ponte coberta, sobre o Rio Leãozinho", que dava acesso à Gruta de Nossa Senhora de Lourdes.

          Nos domingos em que não tínhamos a missa pela manhã, tínhamos a reza do terço à tarde. Lembro que praticamente cada família tinha um integrante no grupo que puxava as orações. Então, além das já mencionadas, havia os Santini, Bussacro, Tonini, Savaris, Poyer, Guzzo, Santórum e outros. E, ocasionalmente, puxavam a "Ladainha de Nossa Senhora", em latim, prática que desenvolvem até hoje. Acho que é um dos costumes mais antigos da Igreja Católica que está remanescente numa região de grande predominância da colonização por descendentes de italianos.

          Eu não prestava muita atenção aos sermões do Frei Crespim, mas lembro perfeitamente que ele condenava os pecadores, falava nos pecados mortais e veniais. Mortais, eram aqueles muito graves, como por exemplo, tirar a vida de outra pessoa. E as pessoas perguntavam: "E os soldados, que matam os outros soldados nas guerras, ficam com pecado mortal?" Para isso nem precisava da resposta do sacerdote: matar na guerra não era pecado...

          Adiante, adolescente, fui aprendendo. Havia os pecados veniais, que eram os mais simples, que bastava confessar-se, semanalmente, e pedir perdão ao padre que, representante de Deus, perdoava. O problema maior era a vergonha. Alguns desses pecados veniais eram, por exemplo, dar uma espiadinha nas pernas de alguma garota, coleguinha que fosse. Isso quando houvesse um descuido dela, porque as saias não eram curtas. Beijar, então, só quando fosse noivo, e não na frente dos pais. Então, aquele beijinho sutil, roçado, roubado, na subida da escada, só depois de noivos...Amassar, na época, era sovar a massa do pão, ou bater o paralama da bicicleta num poste, no meio da rua. Aliás, eram tão poucos os carros que, em muitas vias, estes eram fincados bem no meio, sobrando espaço dos dois lados para que os eventuais carros pudessem passar. Amassar, agora, é passar a mão, dar abraços apertados, enfim, dar amassos, você sabe em quem...

          Roubar era pecado grave. Além de pecado, era uma vergonha muito grande. Roubar galinhas para fazer brodo em turminhas de amigos, no inverno, era um pecadinho levezinho... Mas roubar galinha pra comer em casa era muito feio. Mais feio do que pecado. E, a gurizada, para não cometer o pcado, burlava: "maiava".  Maiavam melancias e jabuticabas, onde quer que houvesse. Maiar caquis na Siap, indo de bote, pelo Rio do Peixe, ah, isso fizeram muito, muito. Descumprir os "Dez mandamentos da Lei de Deus" era pecado. Agora há  outras classificações de pecados, além dos mortais e veniais, algumas novas nomenclaturas, tipo "leves" ou "pesados".   Nunca entendi direito e nem vou pesquisar sobre eles. Fala-se dos pecados capitais, pois os conceitos sobre pecado evoluíram: gula, avareza, luxúria, ira, inveja, preguiça, vaidade ou orgulho. E cada um tem um entendimento sobre eles conforme sua conveniência. Claro que você, leitor (a), também tem o seu próprio entendimento e vamos respeitar isso.

          As pessoas não acreditam mais em céu e inferno (nem eu). E tiram a vida de outras por motivos muito banais. Há os "marcados para morrer", há toda a sorte possível de delitos contra a vida. Das pessoas, dos animais, da natureza.

          Antes, por medo de pecarem e irem para o inferno, continham-se nas ações, pensavam muito antes de atentar contra a vida, cometer qualquer delito, por simples que fosse. Agora, por pensarem que não há punição, por terem compreendido que a vida não é assim do modo como os padres e pastores dizem que deveria ser, fazem tudo o que julgam necessário para ficarem bem, levarem algum tipo de vantagem. Danando os outros.

          Claro que nem tudo o que nos ensinaram era "pecado", é isso que  nos revela nossa compreensão de adultos. Entretanto, tenho saudades daqueles tempos em que, se não fosse por educação, pelo menos pelo medo os seres respeitavam os outros seres. Ah, como era bom!

Euclides Riquetti
13-04-2013