Imagine uma casa grande. Grande pelo número de seus cômodos, grande por tudo o que pode acontecer com ela, por aquilo que pode acontecer em seu interior. Uma casa com jardins de flores amarelas e perfumosas, gramados verdes da cor da esperança, com janelões altos, envidraçados. As portas com almofadas. Quatro almofadas verticais e uma horizontal, em estilo italiano, bem peculiar ao costume das famílias. Uma casa em que algo tem o formato de um coração, mas não posso precisar qual algo é.
Mergulho na casa grande como se estivesse mergulhando num vasto oceano. Um oceano de cristais esverdeados. Busco, em cada aposento, perfumes raros e amadeirados que estão impregnados justamente nas madeiras. Cada tábua e cada mata-junta da casa grande têm uma história. Cortinas da cor bordô que lembram as vestes da dama elegante. Ah, eu queria pintar uma obra-prima em que eu retratasse tudo aquilo que eu quero descrever.
Na casa grande as pessoas riem, sorriem. Nela eu procuro sorrir o sorriso da mais pura alegria. mas uma sensação de dor e de saudade toma conta de meu íntimo. E procuro respostas: quero saber o porquê... O porquê de minhas aspirações não se concretizarem. Quero saber por que a própria história da casa grande me rejeita. Eu, que sempre a louvei, quis pra mim, desejei, não como um bem material, mas como algo que se queira, fico inconformado.
Nenhuma distância pode amainar os sofrimentos. Lembranças são inerentes a quem tem uma história. Saudades também... Perdas, quando ocorrem, levam ao desespero. A sensação de perda é sempre deprimente e constrangedora. Perdas não têm sentido, perdas geram sofrimentos desnecessários. Que poderiam ser refutados com toda a veemência e com a eloquência dos discurso do orador e os poemas épicos do ultrajado.
Uma casa grande, mas mais significativa do que as demais. Ruas estreitas, obstáculos, carros caracterizados, pessoas que tomam condução para o trabalho, crianças que se dirigem às escolas, velhinhos que acenam com as mãos já calejadas, com o rosto envelhecido, mas irradiando sorrisos de felicidade. Ah, que in veja! Eu gostaria de envelhecer na casa grande, curtir bem ela, desfrutar de tudo o que ela pudesse me oferecer. Vou lutar por isso, quero viver muito, quero ser feliz. Eu e a casa grande, onde transformarei as dores de minha alma e de meu coração em afagos, apoios, abrigo terno e delicioso. Imperdível!
Uma casa grande, lembranças de um carro escuro, de perfumes, de ousadias, de temeridades, de certezas que se transformam em incertezas. Uma casa grande. Grande, mas com muito amor, carinho, doçura. Algo para ser eterno, afável, de indizível descrição, mas compreensível. Uma casa grande onde o amor vingará e as mazelas e tristezas irão embora com os ventos para não mais voltarem. E, sempre que for necessário, um pedido de perdão. Talvez por amar demais essa casa grande! Porque uma casa grande, em algum momento, encantou-me e me traz lembranças!
Euclides Riquetti
11-01-2015