Para matar saudades...
Em setembro de 2011, durante a realização do Campeonato Brasileiro de Futebol, assisti, com meu irmão Edimar, o sobrinho Guilherme, o Neri Miqueloto, o Kiko Michelotto, e três amigos deste, ao jogo do Avaí contra o Palmeiras, na Ressacada, na Capital Catarinense. Empate, 1 a 1, o goleiro Marcos tomando seu último gol como profissional. Apelidado de São Marcos, teve grande importância para o Palmeiras e a Seleção Brasileira.
O time do Palmeiras era limitadíssimo. Na frente, Kléber, o Gladiador, estava isolado, a bola pouco chegava até ele. O Treinador Luiz Felipe Scolari, o Felipão, nosso treinador Pentacampeão Mundial, sendo vaiado pela torcida "Mancha Verde". A cada jogada errada do time, medíocre, vaiavam o treinador. Ao final do jogo, quando se dirigia aos vestiários, a saída para os mesmos ficava bem embaixo do lugar onde os torcedors da Mancha se acotovelavam. Bebiam cerveja, muita, agitavam suas bandeiras, diziam palavrões. Estávamos a menos de 10 metros deles, daí ser muito fácil ouvir as bobagens que diziam e observar os seus gestos obcenos. A linguagem deles impublicável. vergonhosa! O treinador, impaciente, apontou-lhes o indicador direito, bem em riste, e disse: "Eu sei bem o que vocês vieram fazer aqui. Sei até quem pagou as suas despesas e a serviço de quem você estão. Conheço-os bem". Pois que o consagrado treinador não teve vida fácil naquele clube e teve que sair.
Há dois meses, no jogo do Corínthians contra o São José, de Oruro, na Bolívia, do meio de uma dúzia de tocedores corinthianos foi disparado um sinalizador direcionado à torcida adversária, alvejando o jovem Kevin Beltrán Espada, 14 anos, que veio a falecer. Doze torcedores foram presos, estão na Penitenciária de San Pedro. Aqui no Brasil, dias depois, um jovem de 17 anos assumiu a autoria do disparo, disse que fez isso sem intenção. Manifestações nas redes sociais indicam que os netistas não estão acreditando nessa história. As autoridades bolivianas desejam a sua extradição, mas a Lei Brasileira não possibilita isso em razão de ser menor em idade. Querendo fazer com a Justiça de lá o que costumam fazer com a Justiça daqui...
No Brasil, nos meios políticos, diplomáticos, jurídicos e até na imprensa, a constatação é de que os bolivianos sabem muito bem que não são os doze torcedores que cometeram o delito, e que não seria difícil identificar os verdadeiros responsáveis, liberando os demais. Aqui, a opinião que prevalece, é a de que a confissão do menor soa como algo bem orquestrado, justamente por sua condição de idade e os privilégios que a Lei Brasileira faculta aos menores. E que a atitude das autoridades do país de Evo Morales têm uma grande mágoa diplomática em relação ao Brasil, por ter dado abrigo ao refugiado senador Roger Pinto, dos quadros da oposição boliviana. Aguardar para ver...
Você, leitor, com apenas dois exemplos, deve ter-se lembrado de quanta confusão já presenciou entre torcidas. Estádios com boa segurança não são suficientes para a contenção da fúria do torcedor quando presencia a derrota de seu time do coração ou quando é contrariado. Quantas vezes já invadiram os vestiários, não do adversários, mas de seu próprio clube, para agredir jogadores de quem se tornam desafetos. Quantas vezes treinos precisam ser interrompidos para que os seguranças possam retirar das arquibancadas torcedores que lá estão para xingar treinador, jogadores e dirigentes!
Na europa, estádios com maior capacidade de público que os nossos, sem fossos e sem alambrados, apresentam espetáculos que nos encantam em termos de futebol. Tanto é que os canais de TV por assinatura que transmitem jogos da Alemanha, Inglaterra, Itália, Espanha e França têm elevada audiência. Jogadores, aqui, são venerados como verdadeiros santos. Alguns moleques, nem bem ainda conseguem lugar como titular em seus times e já começam a mostrar sua "panca", enchem-se de tatuagens, fazem cortes de cabelos exóticos... Nada contra isso, mas primeiro mostrem serviço e só depois virem "artistas". Jogadores de lá, em termos de seriedade e responsabilidade, estão bem acima dos nossos. E, a grande capacidade de jogar, a grande diferença, a dita supremacia que tínhamos em relação aos outros países, diluiu-se faz tempo.
Agora, famílias em casa sofrendo por causa de uns doidos. Tiveram, recentemente, um exemplo horrível com sinalizador, que ocasionou o devastador incêndio na boate de Santa maria. Pois não aprenderam. Foram exercitar sua imbecilidade lá fora. pensam que em todos os lugares tudo vale. Não imaginavam que aprontando lá num país mais pobre fossem ter consequências assim. Agora, que se defendam. Sem mentiras. Se dissessem a verdade, qualquer que fosse, desde o início, certamente que a maioria deles não teria ficado lá, detida. Usaram uma estratégia que se vê em filmes, mas a realidade é diferente da ficção.
Enquanto isso, é aguardar para ver que desfecho vai ter o caso desses 12 corinthianos presos na Bolívia.
Euclides Riquetti
18-04-2013