sábado, 6 de julho de 2013

""Reencontro com o Virso"

          Em minha caminhada matinal, após andar um bocado na Pista do Comercial, aqui em Joaçaba, tomei o rumo de uma rua paralela ä Rodovia  BR 282 para dar uma olhada na evolução da urbanização do entorno da Nova Rodoviária, aquela que está há seis anos em construção e dizem que vai ficar pronta em agosto. Mas também ia ser inaugurada em agosto de 2008 e não foi...
     
         Mas uma agradável surpresa me aconteceu quando estava em meio ao caminho: reencontrei um moço de estatura mediana, bem moreno, muito gente boa, daquelas pessoas que você pode contar com ela em todos os momentos da vida, o Vilson. Um moço sessentão. Acho que o sobrenome dele é da Rosa, meu coleguinha de infância e adolescência vivida nas barrancas do Rio do Peixe e nas ruas de Capinzal. Reconhecemo-nos à distância e foi uma alegria de minha parte reencontrá-lo. Senti o mesmo da parte dele. Gritou-me: "'Óia quem vejo aí, o Riquetão, o Pisca!..."     "Virso! Que bom te vê, amigão! Vamo jogá as ganha, Virso? Te impresto duas bulica!", respondi.

           Meu amigo Engenheiro Roberto de Carli, de longa data, ficou rindo de nosso encontro, da maneira como nos expressamos. Estavam ali para "ver um serviço", um muro de contenção para o Vilson empreitar.

          O Vilson faz parte de uma casta de artistas das pedras, da família "Dos Lautério", que moravam em Capinzal, ao lado da estradas de ferro, nas proximidades da Linha Residência na epoca de nossa infância. Há mais de três décadas vieram para Joaçaba e Herval d'Oeste, a família ficou grande e todos aprenderam o ofício de cortar as pedras "pela veia", no bater das marretas. São todos habilidosos e as melhores taipas e muros do Baixo Vale do Rio do Peixe foram confeccionados pelas mãos dos Lautério. Do ano de  89 a 92, nós os contratamos para cortar paralelepípedos  Arrendamos uma pedreira em Lacerdópolis e alojamos todos eles lá, num acampamento. Produziam muito, já que recebiam por pedra que cortassem. Serviço bm feito, sempre.

          Mas seus belos trabalhos estão espalhados em diversas cidades, e podemos citar todos os muros de contenção do Balneário Thermas de Ouro como exemplo para que se possa avaliar a capacidade de trabalho deles. Hoje  Vilson tem sua própria empresa prestadora de serviços, tem a vida bem organizada.

         Aproveitamos a demora do proprietário chegar para mostrar o serviço e fomos conversando:

          Dizia ele, com seu costumeiro nariz meio trancado: "Ma Riquettão, o que que anda fazendo? Só na boa? Se lembra de quando nóis jogava bulica lá no lado da bodega do Adelino Casara? Você queria me rapá nas ganha!..."

          "Claro que lembro! Você tinha um jeito esquisito de segurá as bulica, Virso. Nóis jogava no búlico e no triângulo. E nossa turma se espalhô..."

          "É memo! Se lembra do Nile? "Já morreu.  Lembra que depois ele dirigia o caminhão da Serramalte quando ficou grande? Ele já era meio grandinho desde piqueno... Morreu faiz tempo!"

          "É, mas morreu também o Pelé. E o Ferruge, o Castelinho... E o Nizinho, lembra? Tá vivo, mas foi pra cana há uns meses. Deu uma facada num amigo dele depois que bebeu..."

          "Mais o Táiro (Tyrone Viecelli), ainda tá por aí. Virô Dotô o bicho! Você não ia junto qua gente quando ele pegava o jipe do véio Armando escondido pra nós i buscá uma melancia lá pros lado do Moinho do Toscan?"

          "Não, minha turma maiava a pé, mesmo! Mas tem uns que foram trabalhar e estudar. Não sei o que é feito do Chiquinho Biavatti, mas o Dinho foi estudá em Ponta Grossa, virou advogado e granjeiro e não voltou mais"...

           E o Virso, de novo: ""É, os que foro istudá ficaro rico. Os que ficaro bebendo cachaça, tão tudo no cemitério!"

           Tomara que els se acertem com o preço do serviço e venha fazer o muro, que daí vou vê-lo muitas vezes. Já combinamos que quando chegar a primavera vamos com "as véia" comer uns peixes e umas polentinhas lá no Pesquepague do Aquilino Pilatti, em Lacerdópolis! Trato feito!

Euclides Riquetti
06-07-2013



     


         

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Uma dor sentida que ficou...

Eu já nem lembro mais do brilho  de seus olhos
Seus cabelos já não são mais os mesmos
Você cresceu, tornou-se uma senhora
Já não é mais a garota que eu conheci outrora
Pois há muitos, muitos anos não nos vemos!

Eu já nem lembro do timbre de sua voz
E nem sei se nas mesmas coisas cremos
Você mudou, está bem melhor agora
Já não é mais aquela menina que se foi embora
Restam-nos apenas as lembranças dos bons tempos!

Dos momentos românticos que vivemos
Parece que em você nada restou
Das tardes em que caminhamos de mãos dadas
Das juras de amor que foram por nós trocadas
Apenas a saudade, uma dor sentida  que ficou...

Euclides Riquetti
05-07-2013










quinta-feira, 4 de julho de 2013

A Caixa d´Água da Maria Fumaça em Rio Capinzal

          Era o ano de 1910 e o povo vibrava em todo o Vale do Rio do Peixe. Inagurava-se, neste dia, a estrada de ferro que ligaria Marcelino Ramos, no Rio Grande do Sul, na divisa com Santa Catarina, e Porto União, na divisa com o Paraná, a região contestada que viu muito sangue ser derramado tão logo isso aconteceu.

          Rio Capinzal, um povoado que se localizava no Baixo Vale do Rio do Peixe, e que pertencia ao vasto município de Campos Novos, situava-se à margem esquerda do Rio do Peixe. A área, que se constituíra em local de pouso de tropeiros, bastante povoada por capim paulista e com enorme quantidade de água, era o lugar ideal para o descanso das tropas de bovinos e muares que iam do Rio Grande do Sul para São Paulo. E ali levantaram-se algumas dezenas de residências urbanas, contruídas em madeira de pinheiro, um lugar que deveria prosperar muito com a inauguração da ferrovia. Do outro lado do rio, um pequeno povoado chamado de Distrito de Abelardo Luz, pertencente à Colônia de Palmas, do Paraná. Sim, o atual Ouro pertencia ao Estado do Paraná naquela época. A ligação entre os dois povoados dava-se por balsa e botes. Mais ao Sul, entre as atuais  Linha Savoia e Linha Dambrós, antigamente chamada Ribeirão Doze Passos, também era possível que os animais atravessassem o Rio do Peixe sem depender de embarcações, isso quando as éguas deste estivessem baixas. E, em seus cargueiros ou carroças, levassem as mudanças dos descendentes de italianos vinham para colonizar a área à direita do rio.

          E, com a estrada de ferro, foram construídas algumas benfeitorias para dar suporte à sua logística: alguns armazéns, para depósito de mercadorias; muitos estrados para o empilhamento de madeiras gradeadas, tábuas e madeiras quadradas; mangueiras para alojamento de tropas de bovinos destinados a Ponta Grossa e São Paulo; uma estação ferroviária, com local para venda de passagens, comunicação por telefone ou telégrafo; sala de estar para os passageiros, com bancos de madeira para assentar-se; uma sala para depósito de mercadorias; e um café-bar. Em frente, paralelamente à ferrovia, uma extensa plataforma com rampas de acesso ao Norte e ao Sul. E, pendurado num caibro, um sino de bronze que chamavam de "pode" (póde). O pode era acionado para dar autorização para o trem dar partida. O agente da estação ou seu auxiliar repicava o sino, o trem apitava,  e saía de mansinho...  todas essas lembranças me vêm à mente porque muito ouvi falar nas histórias de Rede e porque convivi com pessoas que fizeram parte dela. Acima da "Ponte Nova", localizavam-se as casas, também em madeira, pintadas de um misto de ocre e marrom, onde residiam os turmeiros, encarregados da manutenção da ferrovia.

          Localizada logo após a plataforma de embarque e desembarque, uns 40 metros desta, no sentido Norte, localizava-se a Caixa d´Água. Essa nos traz muitas e muitas histórias à lembrança. Um reservatório enorme para a época, onde se armazenava a água que vinha em canos de metal que lhe traziam a água desde o Morro da Pedreira. Havia um comando composto por uma haste de ferro com um volante, e um dispositivo de lona tecida, uma mangueira com mais de 20 centímetros de diâmetro, que era dirigida para o sentido da Maria Fumaça que ali estacionava, onde era alimentado o reservatório desta, a fim de gerar o vapor que acionava os mecanismos de movimento da locomotiva.  Ao lado da mesma, e à sua frente, do outro lado da ferrovia, os depósitos de lenha empilhada a céu aberto, trazida pelos caminhões, dentre eles o do Sebastião da Silva, pai do Naco, meu colega de ida aos bailecos de Piratuba, Lacerdópolis e Barra do Leão nos dois primeiros anos da dácada de 1970.  

           E o vapor era obtido através da elevação da temperatura da água, o que se sucedia na caldeira, alimentada por fogo de madeira  combustível, a lenha. E, com muita alegria, ouvíamos o apito produzido pela liberação de vapor, que chegava ao longe. Coisas muito simples, que representavam alta tecnologia para a época, mas de grande resultado.

          Nos dias de jogos ou treinos no campo municipal, mas que pertencia à Companhia da Estrada de Ferro, e se situava onde hoje funciona a Estação Rodoviária de Capinzal e a Praça Pedro Lélis da Rocha, os jogadores saíam do campo, nos intervalos, e iam ali para beber água ou tomar uma "refrescada". O volante que servia para liberação da água, por uma espécie de registro, e pela mangueira, era acionado à  esquerda e a água, pura e límpida, descia por sobre o corpo dos jogadores, que bebiam dela enquanto se banhavam, principalmente no verão. Mas os times visitantes não sabiam da existência desta, e enquanto os "da casa" se deliciavam, recuperavam-se e voltavam ao campo muito dispostos para o segundo tempo, os outros se recuperavam, no máximo, recostados nas paredes de madeira que circundavam o mesmo.

          Houve tentativas de desmancharem a caixa de água para vender o metal. Ora, uma voz se fez presente e bradou: "Essa caixa faz parte de nossa história, não pode ser demolida". Vinda de uma pessoa humilde, mas ardorosa defensora de Capinzal, do Sr. Alduir Silva, o popular Binde, impediu que ela fosse retirada. Imaginem perdermos um bem histórico, que foi importado da Inglaterra para, a aprtir de 1910, disponibilizar a água que produzisse o vapor o qual acionava a locomotiva destinada a puxar os vagões do trem. Vejam os leitores da importância de as cidades terem pessoas que gostam do lugar onde nasceram e defenderem sua história e seu patrimônio histórico! Obrigado, Binde!

          Aquele conjunto que ali reinou até a ocorrência da enchente de 7 de julho de 1983, resta-me na memória saudosa que não me abandona. E na de muitas pessoas de minha geração e das que nos precederam, que não viram o mundo mudar, mas que tiveram o prazer de andar de trem, ir para o Norte ou o Sul, andarem ali com a namorada, com o namorado. Em nosso trem se iniciaram e também se findaram, certamente, muitas histórias de amor... Conheço algumas, que guardo para mim, são minhas, me emocionam...

Euclides Riquetti
04-07-2013


         

         

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Por qual janela devo olhar?

Por qual janela devo olhar?
Pela da rua barrenta
Ou pela que me mostra o mar?

Por qual janela devo olhar?
Pela que  vejo a manhã cinzenta
Ou pela que me mostra o azul celestial?

Por qual janela devo olhar?
Pela que me leva até você
Ou pela que me quer afastar?

Você é quem escolhe
Quem determina meu destino:
Se faz de mim o amado lorde
Se faz de mim um mendigo
Se me mostra um caminho nobre
Ou aquele cheio de espinhos...

Há uma janela entreaberta
Que esconde indesvendáveis mistérios
Atiça minha mente inquieta
Me afunda em mil sortilégios.

(Mas há algo que emotiva
Que me acende minha paixão
Pois detrás daquela cortina
De onde vem a doce canção
Deve estar alguém que anima
Que mexe com meu coração).

Mas... por qual janela devo olhar?
Para poder encontrar
Aquela que me faz pensar
Aquela que pode domar
Meu indefeso coração?

Euclides Riquetti
03-07-2013

terça-feira, 2 de julho de 2013

Guardo em mim o direito de sonhar

Andas em busca de algo perdido
Não tens rumo certo, és um barco já sem  direção
Apenas te resta um coração partido
Um par de pés que caminham sem ter chão.

Restam-te, também, lembranças antigas
Bons e maus momentos no diário
Passagens que registram conflitos e brigas
Que podes guardar em mil chaves no armário.

Ora, cada um teu sua história, seus segredos
A tua eu bem posso imaginar
Guardas em ti tuas glórias e teus medos
E eu guardo em mim... o direito de sonhar!

Sonhar contigo
Com teus beijos
E com meu desejo:
Apenas sonhar!

Euclides Riquetti
02-07-2013




segunda-feira, 1 de julho de 2013

Nossa Senhora dos Pedágios (oração de caminhoneiro)

Nossa Senhora dos Pedágios
Protege os caminhoneiros
Livra-os dos concessionários
Que lhes tomam seus dinheiros!

Nossa Senhora das Estradas
Protege os heróis da boleia
Trabalham e não sobram nada
Pórco cán, porca miséria!

Nossa Senhora dos Borracheiros
Que consertam os pneus furados
Tenha dó desses  brasileiros
Que vivem tão  explorados!

Nossa Senhora dos Bons Motores
Faze sempre o melhor possível
Deixa limpos os bicos injetores
E segura o preço do óleo diesel!

Nossa Senhora do Bom Frete
Pede ao Governo pra que tape os buracos
Pois é a ele que compete
Conservar bem todo o asfalto!

E sempre que na banda da estrada
Tiver uma pequena gandaia
Fecha os olhos, não é nada
É apenas  uma boa parada...

Porque a vida não é só trabaio, tchó!

Euclides Riquetti
01-07-2013

domingo, 30 de junho de 2013

Teus pés na areia

Puseste teus pés a deslizar sobre as areias brancas
Das dunas desprotegidas que bordam o mar
Puseste teu frágil coração a pulsar
Buscando no horizonte, quem sabe, um olhar
Em meio a santas lembranças, tantas!

Andaste minutos, horas, um dia inteiro
Pelo trajeto desconhecido que teu coração escolheu
Andaste sobre  pedras que vieram para o caminho teu
Procurando reviver o passado que se escondeu
Mas  não consegues  reencontrar  teu amor verdadeiro.

Para onde podem te levar teus  pés bonitos e elegantes?
Para onde podem te guiar os teus sentimentos mais sagrados?
Para onde querem olhar os teus olhos brilhantes?
Ah, para os braços de alguém que a tenha um dia amado...
Para que dois corações voltem a pulsar juntos, como antes...

Euclides Riquetti
30-06-2013