Joaçaba - 1942
Já me referi ao cidadão José Waldomiro Silva, que nasceu no
interior de Campos Novos, em 21 de junho de 1902, na fazenda do avô
paterno, Jordão Francisco da Silva. Silva é um exemplo de pessoa
simples, que deu a volta por cima, que podemos considerar um vencedor,
com méritos. Um menino de fibra, que tornou-se um homem de fibra, um
líder incontestável. Exerceu, em sua vida, mais de uma dezena de
ocupações. O menino que, aos 12 anos, ajudava a defender o povoado de
Rio Capinzal empunhando uma Winchester 44, mesmo pobre, conseguiu, pela
sua maneira simples a carismática de ser, eleger-se duas vezes prefeito
de Joaçaba e duas vezes Deputado Estadual. Mas sua biografia vale mais
pela maneira como conduziu sua vida simples mas de sucesso do que pela
carreira política.
Aos sete anos mudou-se para as proximidades do Rio Pelotas,
poróximo da hoje Zortea e em 1910 a família foi para Rio Uruguai, ali
próximo de Marcelino Ramos. Acompanhou a chegada da linha férrea, sendo
que seu pai vendia carne para os trabalhadores da mesma. Ficaram pobres
depois que revolucionários que vinham do Rio Grande do Sul passaram pela
propriedade da família e saquearam seus bens. Viu a construção da
ponte sobre o Rio Uruguai, ligando Santa catarina ao Rio Grande, em
Marcelino Ramos.
Em seu livro, "O Oeste Catyarinense - Memórias de um
Pioneiro", ele conta toda a história de sua vida, com riqueza de
detalhes sobre a construção da estrada-de-ferro, a enchente de 1911, o
assalto ao trem pagador pelo grupo liderado por Zeca Vacariano e Manoel
Francisco Vieira. Em 1912 foi morar em São João do Triunfo (Paraná),
voltando, em 1914, aos 12 anos, para Rio Capinzal.
Sobre essa época, faz uma minunciosa descrição do centro de
Capinzal e dos acontecimentos de então, sobre os conflitos entre os
revoltosos do Contestado e os homens da madeireira Lumber. Conta sobre o
acampamento de 500 soldados de uma Força Federal que ficaram acampados
nas proximidades da estação Férrea de Rio Capinzal, para guarnecê-la,
na época. Interessante é saber que, naquele tempo, a área situada à
margem esquerda do Rio do Peixe, chamada Rio Capinzal era ligada por
uma balsa de Afonsinho da Silva à do lado direito, o então Distrito de
Abelardo Luz, onde havia somente a rua central povoada, e hoje se
localiza a cidade de Ouro, que pertencia ao Paraná, enquanto que a
outra, Rio Capinzal, pertencia a Santa Catarina.
Vale muito a pena conhecer as descrições e narrações de José
Waldomiro Silva, pois foi uma testemunha presencial dos conflitos em
nossa região contestada.
Das descrições em seu livro, citarei uma que julgo importante
para todo o capinzalense conhecer, às páginas 21 e 22: "O nome de Rio
Capinzal se originou do seguinte fato: Segundo voz corrente na época, o
fazendeiro-proprietário das terras de Capinzalo, de nome Antônio Lopes,
cuja fazenda de campos e matos fazia fundos com o Rio do peixe na barra
do rio que levou o nome de Capinzal. Para fazer pastagens e invernar
suas criações, fez grande desmatação à margem do Rio do peixe, da barra
do lajeado ali existente, acima e, depois da queima, semeou capim
melado ou capim gordura, cuja semente trouxe de São Paulo, para onde
viajava seguidamente com tropas de muares que vendia em Itapetininga,
tendo assim formado uma grande pastagem (capinzal)"
Em 1917, quando da criação e instalação de Cruzeiro, no
povoado de Limeira (hoje Joaçaba), eles foram morar ali, onde exerceu
diversos ofícios, inclusive o de balseiro. Em 1921, morou em Rio do
Peixe (Piratuba), depois em Irani, e voltando para Limeira 9Joaçaba), ao
final de 1924 para exercer a função de Escrivão de Paz. No ano
seguinte, foi para Itá como cartorário, voltando a Limeira em 1927.
Em suas memórias, José Waldomiro Silva fala da Revolução
de 1930, da Construção da Ponte Emílio Baungharten, entre Joaçaba e
Herval, sobre a passagens dos comboios de trem, sobre a fundação do
Clube 10 de maio, de Joaçaba, sobre a morte do pioneiro de Treze Tílias
Andreas Thaler, sobre a fundação do Município de Concórdia, o Tiro de
Guerra, a enchente de 1951, e outros fatos marcantes.
Em 1947, já aposentado, foi morar em Ponta Grossa, mas foi
convidado a voltar a Joaçaba para concorrer a Prefeito, tendo sido
derrotado por oscar Rodrigues da Nova. Fez sua campanha montado em lombo
de cavas emprestados pelos seus correligionários, visitando as fazendas
de Herciliópolis e Irani.
Novamente candidato, foi eleito Prefeito de Joaçaba,
assumindo em 31 de janeiro de 1951, ficando até 1954, ano em que se
elegeu Deputado estadual, sendo o mais votado do Estado, reelegendo-se
em 1958. E, em 1960, elegeu-se novamente Prefeito de Joaçaba, vencendo
ao jovem Paulo Stuart Wright por uma diferença de apenas 9 votos. Ao
final da década de 1960 foi morar em Florianópolis e em 1987 lançou o
seu livro de memórias.
José Waldomiro Silva foi propriamente um cigano. Nas cidades
onde morou frequentou escolas do antigo primário, mas sua evolução na
escrita veio em razão de tê-la praticado muito na atividades cartoriais.
Seu livro de memórias nos traz muitas informações valiosas, incluisive
citando os nomes dos primeiros moradores dos povoados onde residiu. Vale
a pena ler!
Joaçaba - foto atual - aos fundos, Herval d ´Oeste
Euclides Riquetti
14-09-2013