sábado, 28 de setembro de 2013

Aprendendo a fazer queijos com a Jujuba

          Numa dessas manhãs que voltamos a contemplar o sol,  saí para levar minha neta Júlia, nossa Jujuba, até a Escola Girassol, aqui em Joaçaba, que funciona nas instalações do antigo Colégio Cristo Rei. Ela já pegou a mania de querer ficar aqui em casa para que depois a levemos para a sua aula em período integral.
   
          Pois que,  na quinta-feira,  coube-me levá-la. Já conheço todos os procedimentos, até a senha do portão da escola,  e nos entendemos como dois adultos. Eu sempre querendo ensinar-lhe algumas coisas para que aprenda a viver a vida como ela é. Então, cada vez que tenho que fazer algo, convido-a a ajudar, pois assim também aprende. Como vão asfaltar umas ruas aqui do Bairro e ela já viu como fazem a base com bueiros e brita graduada,  estamos esperando que nos próximos dias coloquem a camada de CAUQ  (Concreto Asfáltico Usinado a Quente) e depois a compactação e a sinalização. Ela está na expectativa de aprender como se faz isso...

          Mas,  naquela manhã,  surpreendeu-me por demais. Quando passamos por um outdoor da Bortoluzzi, ela apontou e disse:  "É a placa da loja que o Tio Fá trabalha, lá com a Tia Tânia!" Falei-lhe que ele não trabalha mais lá, fez alguns serviços para mim por uns dias,  mas apareceu uma oportunidade de trabalho e foi atuar numa empresa que vende leite, queijo, iogurte... E perguntei-lhe se ela sabia que o queijo era feito com leite.

          Pois ela, com aquele seu jeitinho delicado, foi-me dizendo: " Sei, sim! Vovô, sabia que lá no sítio da Vovó Marlene ela faz queijo com leite das vacas? Eu sei fazer queijo!

          Como nada mais me surpreende, fiquei imaginando como poderia ela saber fazer queijo! Então, mais alguns segundos e ela: "Vovô, tá ficando maluquinho? Era ali a rua que a gente vai pra escola!"  (Ih, distraído como de costume, passei do ponto, mas virei na esquina seguinte e mostrei que há mais de um caminho possível para chegar até sua "Girassol"). E perguntei-lhe: "Então, como é que a gente faz queijo? Você me ensina?"

          E a Jujuba: "É bem fácil. A gente tira o leite das vacas e põe uma panela grande bem cheia  em cima do fogão. Depois, quando o leite esquenta e coalha, a gente põe pra escorrer o soro. Daí  pega aquele queijo bem mole e aperta num pano pra sair o resto do soro. E depois coloca numa forma que nem um ralador. Pra que o queijo fique bom tem que deixar na tábua, porque queijo muito mole não é muito bom de comer."

          Fiquei contente em ver que, com três anos e meio, ela guarda todas as experiências que vive. Até lembrei-me de um quadro que havia lá na Escola Major Cipriano Rodrigues Almeida, em Zortea, no ano de 1977,  quando iniciamos nossa atividade definitiva como professor, onde, na sala da Diretora Vitória Brancher Formighieri, estava escrito: "Los niños aprenden lo que viven!"

          Nos anos 80,  veio um ciclone e derrubou a escola, destruiu o prédio, os materias, os livros da biblioteca, o mobiliário, tudo. Mas não destruiu nossas lembranças, que estão aqui, firmes em meu imaginário. E, realmente, as crianças aprendem o que vivem. Desde então, sempre procurei aprender e ensinar vivenciando. Foi escrevendo poesias ao mesmo tempo que os meus alunos lá da Escola Sílvio Santos escreviam em nossas aulas que criei o hábito de compor  e conservo até hoje. Realmente, como a Jujuba, os adultos também aprendem aquilo que vivenciam. E eu, agora, aprendo muito com nossa Jujubinha!

Abraços!

Euclides Riquetti
28-09-2013

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Belos, puros, sentimentais...

Existem pessoas especiais, muito especiais
Que marcam os lugares por onde passam
Deixando rastros que muito  nos atraem
Rastros de perfume a da seiva que exalam...

Existem, sim, corpos que flutuam
Divindades carnais que nos levam a pecar
Almas negras, cinzas, brancas, que cultuam
O singelo hábito de me fazer sonhar.

Ah, existem, sim, corações que flecham
Corações que flecham e que são flechados
Corações abertos que nunca se fecham.

Flechas que buscam alvos bem especiais
Alvos que retribuem quando são flechados
Belos, puros, sentimentais...

Euclides Riquetti
27-09-2013

quinta-feira, 26 de setembro de 2013

Ansiedade

Ansiedade
Sofrimento por antecipação
Realidade
Sentimento de frustração
Ou apenas falta de... solução??

Ansiedade
Causa dores morais
Abalos emocionais
Atitudes anormais
Por quê?

Ansiedade
Como curar?
Ler, correr, rezar?
Ou apenas pensar
Que dá para superar...

Mas, de que forma?

Ansiedade
Constante preocupação
Emoção
Escuridão
O que fazer?
Para onde ir?
Como fugir?

Ansiedade
Só a buca da verdade
Só o tempo das descobertas
É que podem ajudar-me!

Euclides Riquetti
26-09-2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Não há amanhã sem que haja o hoje!

Não há nenhuma amanhã sem que haja o hoje
E nenhum hoje sem que tenha havido um ontem
Se souberem de algo diferente, por favor me contem
Se for algo triste, por favor me poupem.

Em cada lugar em que eu  andasse ou  fosse
Desejaria saber apenas novidades boas
Nada de coisas que ferem ou magoam
Nada de tragédias, nem de coisas à toa.

Eu gostaria de ver um  mundo formidável
E que nele tudo ficasse em harmonia
Em que cada ser fosse terno e amável.

Mas sonhos são apenas sonhos, nada mais
Que às vezes se apagam no decorrer do dia
E fenecem no ar para não voltarem jamais...

Euclides Riquetti
25-09-2013

terça-feira, 24 de setembro de 2013

A Enchente de São Miguel e a Romaria de Salette

          Desde meus tempos de criança é  que ouço falar na Enchente de São Miguel. Aqui no Vale do Rio do Peixe e no do Rio Uruguai, tem-se a data como referência pela realização da Romaria de Nossa Senhora da Selette, que acontece em Marcelino Ramos, ao final de setembro de cada ano. Coincidentemente, no de 2013, a Romaria, para a qual acorrem milhares de sulbrasileiros, acontece no dia 29, justamente no dia consegrado a São Miguel Arcanjo, o defensor dos cristãos, assim considerado a partir do Século V pelo Romanos.

          Em todas as cidades do Vale do Peixe, na década de 1960, havia grande expectativa tanto com relação à enchente quanto com a conhecida Festa de Marcelino Ramos. Um trem de passageiros originário de Porto União da Vitória serpenteava pelo Vale, levando centenas de pessoas até a fronteira de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul. No vizinho Estado, a localização do Santuário de Salette, no alto de um monte, em Marcelino Ramos. Dessa festa, tenho três fatos que me marcaram: Numa oportunidade, a salada de maionese, produzida em tachos inadequados, causou uma grande indisposição gástrica em muitas pessoas, correndo a notícia para todos os lados. Em outra,  um colega meu, o Vilmar Adami, que em 1970 caiu do trem na região de Piratuba, esfolando o corpo, mas nada ocorrendo de grave com ele. E, Adiante, nos primeiros anos da década de 1970, também, um acidente com o trem, com muitos feridos, quando  quatro  jovens perderam a vida, sendo dois de Caçador e dois de Ouro, Jamir Rech, filho do Alberto Rech, e Selvino Rech, filho de Guilherme Rech, primos entre si. Segundo o primo e amigo idnei Baretta, seu pai, Izalino Baretta, estava no vagão mais avariado e o clima foi de um verdadeiro horror. Na época o fato teve repercussão nacional devido à importância da Romaria no contexto religioso brasileiro.
          Outro fato que sempre me chama a atenção é o de que centenas de romeiros, de toda a região, dirigem-se para lá a pé, pagando suas promessas diante de graças alcançadas. Ainda, alguns sobem todos os degraus de acesso ao Santuário, em joelhos. Na semanma que a precede, a celebração de muitas missas, inclusive a Procissão Luminosa, à noite.

          E o fato conectado a este evento, que praticamente ocorre em todos os anos, é a famosa Enchente de São Miguel. O mês de setembro, em sua normalidade, é muito chuvoso no Planalto e no Meio-oeste Catarinense, o que leva a acontecerem  as enchentes no Rio Itajaí-açu e no Itajaí-mirim, com as águas dirigindo-se ao litoral, onde causam grandes estragos em cidades como Rio do Sul, Ilhota, Gaspar, Brusque e Itajaí. Nesta, um risco muito forte de inundação em razão das marés do Oceano Atlântico. Causam muita preocupação, mobilizam autoridades, as Comissões Municipais de Defesa Civil, Bombeiros e os cidadão voluntários. Obras que poderam minimizar os impactos naquela região, como algumas barragens de contenção com grandes reservações de água, estão empacadas em razão de recusos jurídicos por empresas que não tiveram sucesso nas licitações. Muitos entraves burocráticos, além do essencial dinheiro, retardam as necessárias ações.

          Aqui no Vale do Rio do Peixe, embora possam ocorrer grandes prejuízos, é impossível evitar-se o evento adverso. Há, porém, como remediar a situação.  Há edificações, muitas, construídas nas margens do Rio do Peixe, antigamente,  e que com apenas 5 metros de elevação do nível das águas já restam inundadas. Na enchente de 1983, as águas do Peixe elevaram-se em mais de 10 metros, ocasionando uma catástrofe. Mas enchentes, aqui, não são novidades. Tivemos a de 1911, a de 1939, a de 1972 e a de 1983 como sendo as maiores. Seguramente, a que mais causou danos, foi a de julho de 1983, que atingiu também todo o Vale do Rio Iguaçu. Porto União da Vitória e as principais cidades do Vale do Peixe foram fortemente atingidas, não escapando da catástrofe o do Itajaí.

          A Enchente de São Miguel, embora seja indesejada, é previsível para os meses de setembro. É mais regra do que exceção. Então, infelizmente, temos que conviver com isso, mas há maneiras de se reduzir seus impactos, que exigem competência técnica, decisão política e investimentos. E é uma atribuição não apenas do Poder Público, mas também de toda a sociedade. Nossas cidades estão-se cobrindo de concreto e pavimentação asfáltica, reduzindo-se as áreas permeáveis. É preciso encontrar meios de compensar isso, como o plantio de milhões de árvores em toda a bacia do rio, melhorando o nível de permeabilidade do solo, prejudicado pelo pisoteio de animais e rodas de equipamentos. De qualquer forma, precisamos nos adaptar para viver com isso. Mas não podemos nos acomodar...

Euclides Riquetti
24-09-2013

segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Segundo Dia de Primavera - Soneto

Veio, da Primavera, o segundo dia
Foi-se embora a chuva que caiu inclemente
Volta o  nosso sol, mesmo que timidamente
Trazendo-nos o ânimo e uma indizível  alegria.

Veio, enfim,  nossa Primavera animadora
Que vai cobrir nossos campos de verde no Sul
Que vai-nos trazer na manhã o céu azul
E em cada dia uma tarde  promissora.

Na flor branca da pereira flutua o beija-flor
Embaixo da laranjeira, na espreita, a sabiá
E em cada planta do jardim o matiz multicor.

Em cada rosto de criança,  um semblante risonho
Primavera - tempo de sorrir, tempo de cantar
Primavera - tempo de reviver ...  mais um sonho!


Euclides Riquetti
23-09-2013