Os Distritos de Ouro e Rio Capinzal, na terceira década do
Século XX, pertenciam ao Município de Campos Novos, de vasto território
envolvendo o Planalto Catarinense e o Vale do Rio do Peixe.
Um fator de dificultava a vida da população dos mesmos,
principalmente dos moradores da margem direita do Rio do Peixe, era a
falta de conexão entre os dois povoados, uma vez que apenas o serviço de
balsa e botes era disponível para o transporte de pessoas e produtos de
um para o outro. No lado Rio Capinzal, havia a Estrada de Ferro,
inaugurada em 20 de outubro de 1910, ainda diversas indústrias,
hospital, um comércio bem organizado e até hotéis. No lado de Ouro, o
comércio era bem ativo e a produção agrícola muito forte, até por causa
da vocação de seus colonizadores, descendentes de italianos originários
da Serra Gaúcha.
Em 1932, estando em bom estágio de desenvolvimento, precisavam
construir uma ligação fixa entre os dois povoados. Então as
comunidades, lideradas pelo Sr. José Zortéa, uma pessoa de alto espírito
empreendedor, com grande agilidade e muio criativo, fez projetar uma
ponte de madeira, sustentada por cabos de aço assentados em pilastras
também de madeira. Coube aos Srs. Otávio Ferro e Aníbal Ferro formarem a
equipe de trabalho e executarem a obra, pois tinham grandes
conhecimentos em crpintaria e marcenaria.
Para financiar a obra obtiveram, através do Município, uma
pequena ajuda do Governo do Estado, mas o custos maiores foram bancados
pelos moradores dos dois Distritos. Depois de quase dois anos desde a
concepção do projeto, a ponte ficou pronta e teve sua inauguração em
1934, numa concorrida solenidade, quando o Padre Mathias Michelizza, um
dos grandes incentivadores da obra, atravessou-a a cavalo. Na parte
localizada em Rio Capinzal, havia sobre ela uma Casa de Pedágio, onde os
usuários pagavam para passar de um lado a outro. À época, era
considerada a terceira ponte do gênero no mundo.
Porém, por ocasião da grande enchente de 21 de junho de 1939,
ela veio a ruir pela força das águas do Rio do Peixe, que atingiram,
inclusive, a Rua da Praia, hoje Rua Governador Jorge Lacerda, e a Felip
Schmidt. O local onde se situa a Praça Pio XII foi totalmente inundado.
Fora uma enchente sem prcedentes. Também houve alagamento na área
central da Rio Capinzal.
Mas nossa comunidade, muito unida e determinada, contratou um
responsável técnico, o Engenheiro Austríaco Máximo Azinel, que também
teve o apoio do prático, também austríaco, Antônio Holzmann, e
conseguiram reconstruí-la, agora com pilastras de concreto e com um vão
central de 84,50 metros e ainda a parte de extensão imóvel. Hoje, na
totalidade, atinge 142 metros. A segunda ponte exigiu um investimento de
Cr$ 200.000,00 (Duzentos mil cruzeiros), e houve a participação do
estado com Cr$ 90.000,00. Os Cr$ 110.000,00 faltantes e ainda muitos
serviços, foram bancados pelos moradores dos Distritos de Capinzal e
Ouro. Foi inaugurada em 1945. Os nossos benfeitores guardam, até hoje,
plaquetas metálicas em que consta serem "sócios" do emprendimento.
Cabe mencionar que tinha uma largula de 3,5 metros, o que
possibilitava a passagem de carroças com tração animal e de pequenos
caminhões, os quais transportavam artigos de consumo de Capinzal para o
Ouro, e suínos deste para serem abatidos no Frigorífico Ouro, mas que
era localizado em RioCapinzal, ali próximo da Estrada de Ferro.
Alguns anos depois da inauguração da Ponte Irineu Bornhausen, a
chamada "Ponte Nova", inaugurada em 06 de janeiro de 1955, a pista da
Ponte Pênsil foi estreitada, ficando na largura atual, apenas
permitindo-se a passagem de pedestres.
Na enchente de 07 de julho de 1983, ela foi parcialmente
destruída, sendo reconstruída pela ação dos Prefeitos de Capinzal, Celso
Farina, e de Ouro, Domingos Antônio Boff. Entretanto, na segunda metade
do ano de 1984, pouco tempo após a sua reconstrução, um violento
vendaval seguido de ciclone atingiu a área central de Ouro, levando
parte da cobertura de alumínio do Ginásio Municipal de Esportes André
Colombo e derrubando a ponte.
Foi uma cena horrível: A cidade escureceu na meia tarde, virou
tudo noite, vieram fortíssimas rajadas de vento, o ar frio misturava-se
ao quente, formava redemoinhos, as pessoas se agarravam aos postes e
mesmo aos pneus dos carros estacionados na rua Felip Schmidt para não
serem levadas pela sua força. E, num dado momento, os cabos laterais de
segurança foram rompidos, a plataforma de madeira foi lançada ao ar
sentido Sul/Norte, até a altura do topo das colunas altas que
sustentavam os cabos de aço.
Com o represamento do vento, foi tanta a força exercida, que
as pilastras de concreto quebraram-se ao meio, na altura da plataforma,
caindo tudo dentro do Rio do Peixe. Custou-me acreditar que isso tivesse
acontecido. Presenciei a cena da janela da sala do Pré-escolar da
Escola Prefeito Sílvio Santos, para onde corri quando percebi que vinha a
escuridão. Preocupei-me porque esta era uma casinha de madeira, ao lado
do prédio principal da Escola. Com calma incentivei as crianças da
Professora Neusa Bonamigo a "brincarem de se esconder" debaixo de suas
mesinhas. Formulei uma brincadeira de nos escondermos, pois tive medo de
que a edificação também desabasse sobre eles. A professora logo
entendeu o que eu estava fazendo e o porquê. . Eu apontava o dedo para a
janela sugerindo que fosse olhar sem as crianças notarem aquele cenário
desolador. Fazia sinais e ela não imaginava a cena de horror que se
passava lá fora. Eu não queria que as crianças se assustassem, mas
entendeu que algo se passava e alojou os pequenos sob suas mesinhas.
Evitamos que as crianças percebessem o que se passava. . Felizmente,
nada de mal lhes aconteceu.
Alguns minutos depois, a ocorrência de chuva. Um aluno nosso e
o filho de uma professora, nossa colega, estavam sobre a ponte, mas
conseguiram escapar de cair no rio ou serem atingidos pelos materiais da
ponte. Caíram fora das águas. Tudo terminou bem. Mas as águas subiram e
levaram todas as madeiras embora, de novo...
No ano seguinte, 1985, foi reconstruída, com o aproveitamento
das bases dos pilares e a fixação dos pórticos de sustentação dos cabos
de aço sobre essas. Fizeram furações verticais nas pilatras restantes e
conseguiram "chumbar" as colunas sobre elas. Tudo ficou bem novamente.
Houve substituição do madeiramento por duas vezes, desde então, em 1991 e
em 2005, , ficando no mesmo padrão, com o objetivo de preservar seu
modelo arquitetônico, uma verdadeira obra de arte. Está ali, impondo sua
simplicidade historica, majestosamente, sobre o nosso Rio do Peixe!
Euclides Riquetti
24-05-2013