Minha coluna no Jornal Cidadela, de Joaçaba - SC
em 01-06-2018:
A frase “Sem
caminhão o Brasil para”, há muito usada pelos caminhoneiros brasileiros nas
ocasiões de seus protestos contra os preços que consideram altos e abusivos nos
litros de óleo diesel e pedágios, nunca esteve tão evidente como nas duas
últimas semanas. E soma-se a uma nova: Intervenção militar já!
Durante 11 dias estive
ausente da cidade, em viagem particular. Fui por terra e ar, e pude presenciar
a greve e a angústia em pelo menos 4 estados e o Distrito Federal. E nunca vi
tanto jogo de informação e contrainformação em toda a minha vida. Vi a
realidade de perto e pude sentir as mentiras de conveniência. Jamais imaginei que eu fosse presenciar tantas
cenas de desolação em tão poucos dias!
O Governo
Federal tem sido fraco, desacreditado e mentiroso. Ver figuras como Eliseu
Padilha, Moreira Franco e Marum juntos numa mesma mesa para responder perguntas
a jornalistas sobre a crise gerada por causa da greve dos caminhoneiros, nos
causa ojeriza. E o Presidente da República, Michel Temer, reunido com Eunício
de Oliveira e Rodrigo Maia, presidentes, respectivamente, do Senado e da
Câmara, nos dá a impressão de que estamos vendo três trapalhões reunidos,
tentando buscar solução para um problema que o Governo causou a si mesmo,
porque foi majorando os preços dos combustíveis absurdamente e frequentemente, com
três objetivos bem claros: a) agradar aos acionistas da Petrobras; b) recuperar
a estatal dos prejuízos que teve em razão de desastrada gestão realizada por
políticos corruptos; e c) arrecadar mais impostos decorrentes do alto valor
praticado na venda dos produtos pelos postos de abastecimento.
Vi manifestações
pacíficas e filas de caminhões parados ao lado de rodovias na região de São
Luís, no Maranhão. Rodovias desertas na
região metropolitana de São Paulo e de Brasília. Vi filas quilométricas em
postos de abastecimento onde chegou o combustível. Vi o Presidente Temer dizer
aos brasileiros que havia feito um acordo com os transportadores rodoviários de
cargas, no quarto dia da greve, e depois tivemos a constatação de que havia
negociado apenas com um segmento dos caminhoneiros, com os autônomos dizendo
que não se sentiam representados por aqueles. Vi pessoas com carros parados nos
acostamentos por falta de gasolina. Um motociclista empurrando uma moto com o
intuito de chegar até um declive para poder voltar a sua cidade. Vi a
indignação das pessoas que chegavam para comprar uma dúzia de ovos por treze
reais, enquanto que o valor médio praticado no mercado é metade disso. Vi
pessoas muito honestas e vi também muitos aproveitadores.
Ouvi jornalistas
a serviço “não sei de quem”, fazendo comentários nos meios de comunicação que
estão muito longe da realidade. E o Governo tentando convencer os brasileiros
de que a greve, após o aceite das propostas apresentadas pelos manifestantes,
estava continuando apenas porque há infiltrados entre os caminhoneiros, apenas
com intenções políticas. Ora, estive no meio dos manifestantes e vi o semblante
de tristeza neles. Na região entre Araucária e União da Vitória, no Paraná,
milhares de motoristas com seus caminhões, e de agricultores com suas máquinas de
arar, plantar e colher, ocupavam áreas ao lado da rodovia federal, na
terça-feira, 29. Não se pode dizer que aquelas pessoas, até fragilizadas em
razão da situação por que estão passando, sejam malfeitores. Ou infiltrados, Cheguei
a percorrer 25 Km num trecho entre General Carneiro e Água Doce sem encontrar
um único veículo sequer, na tarde da última terça-feira.
Em momentos assim, de crise institucionalizada,
cada um tem seu discurso, segundo seu interesse. Não acredito que os militares queiram pegar o
rojão para segurar, nem a ponta torta para endireitar. Mas é assombroso o
número de pessoas que estão se manifestando em favor deles, em todos os cantos
do Brasil. Estamos vivendo dois Brasis: o
Brasil dos políticos desacreditados, com sua visão fora da realidade, e o
Brasil dos que trabalham para sustentar os aproveitadores. Estes já estão
cansados de carregarem o fardo sozinhos!
Euclides Riquetti – Escritor – Membro da ALB/SC